Os principais fatores que poderão influenciar os preços do milho no Brasil, em 2020, serão:

a) Grande redução nos estoques finais mundiais de milho: a safra mundial de milho de 2017/18, que produziu 1.079,94 milhões de toneladas teve um estoque final de 341,29 milhões de toneladas; a safra 2018/18 teve aumento de 32,49 MT na sua produção, que passou para 1.112,46 MT, mas teve uma redução de 19,90 MT no seu estoque final, que ficou em 320,39 MT e a projeção deste mês de janeiro 20 do USDA para a safra 2019/20 é de uma produção de 1.110,84 MT e um estoque final de 297,81 MT, cerca de 22,58 MT menor do que o da safra anterior e 43.48 MT menor do que o da safra 2017/18 (considerada normal, porque antes da ocorrência da peste suína no Sudoeste Asiático).

b) Aumento das exportações brasileiras de milho: o principal efeito desta redução da disponibilidade mundial de milho foi o significativo aumento das exportações brasileiras no período, que passaram de 23,82 milhões de toneladas na safra 2017/18, para 41,50 MT na safra 2018/19 e estão projetadas para ser 34,0 MT na safra 2019/20, segundo o relatório da Conab também de janeiro 20.

c) Redução das disponibilidades internas de milho no Brasil: este aumento significativo das exportações brasileiras de milho reduziram dramaticamente as disponibilidades internas no país, que, em anos normais, já é o maior produtor de frangos do mundo e o terceiro mais produtor de suínos do planeta, mas que, a partir de 2019, teve a sua demanda por carnes aumentada pela necessidade chinesa de atender ao seu mercado, depois que este país teve que abater mais da metade do seu rebanho suíno, devido à peste africana que o atingiu.

Os estoques finais brasileiros caíram de 15,60 MT na safra 2017/18, para 11,53 MT na safra 2018/19 e estão previstos para apenas 9,11 MT na safra 2019/20, uma queda de 20,99% em relação ao ano anterior e de 41,60% em relação ao ano “normal” de 2017/18.

d) O efeito sobre os preços do milho no Brasil desta redução das disponibilidades, dimensionadas nos estoques finais, foi uma alta de 33,82% nos preços do milho em Cascavel-PR, que saltaram de R$ 34,00/saca em agosto de 2019 para R$ 45,50 em janeiro de 2020; 37,88% em Carazinho-RS, que evoluíram de R$ 33,00/saca de agosto de 2019 para R$ 45,50 em janeiro de 2020 e 24,67% em Chapecó-SC, que evoluíram de R$ 38,50/saca em agosto de 2019 para R$ 48,00/saca em janeiro de 2020.

e) Os atuais preços do milho garantem ao agricultor um lucro aproximado ao redor de 34,42% para a primeira safra (de verão), que tem custos estimados em R$ 33,25/saca, segundo cálculo atualizado em novembro pelo Deral-PR, contra um preço de venda de R$45,50. Para a safrinha, por enquanto, os lucros são menores, porque o custo é muito maior, ao redor de R$ 42,87.

Comparado com o preço atual de R$ 45,50, o lucro seria de 6,13%, mas, precisa ver se este preço sobe. No mercado futuro da B3 já ultrapassou os R$ 50,00/saca e muito provavelmente este preço chegará ao mercado físico também. Há quem diga que poderá chegar aos R$ 60,00/saca, mas é difícil afirmar isto.

f) Assim, as perspectivas dos preços para 2020/21 ainda são de preços elevados, com alta lucratividade. Como vimos, tanto os estoques finais mundiais como os estoques finais do milho no Brasil estão em seus níveis mais baixos dos últimos 7 anos. Por outro lado, a recuperação dos rebanhos suínos do Sudoeste da Ásia deve levar pelo menos 2 anos, isto é, até meados de 2021, garantindo forte demanda de milho in natura, para exportação e de carnes (milho transformado) neste período.

Durante todo este tempo a lucratividade do produtor de milho brasileiro deverá continuar alta. Não gostamos de falar em preço, porque preço não é o mais importante, mas, sim a lucratividade, que deverá ficar entre 20% e 35%, no mínimo (dependendo do comportamento do mercado e da evolução dos custos, poderá ser maior).

g) Fator importante é o dólar, que entra, tanto na composição dos custos dos insumos importados, como na venda do milho em grão. Tecnicamente, o leito natural do dólar deveria ser de R$ 3,50/3,60, mas, não há interesse em deixar a moeda americana chegar a este ponto, por várias razões:

  • O Brasil não tem poupança interna e precisa atrair poupança externa para financiar o seu desenvolvimento e um dos grandes atrativos é justamente um dólar barato, isto é, acima dos R$ 4,0;
  • Um dólar com mais reais estimula as exportações e mantém as empresas vendendo para o exterior, gerando mais empregos, renda e impostos, outra grande necessidade do país.

Por isto, o Relatório Focus, que reúne a opinião dos especialistas das 100 maiores empresas financeiras do país, indica que a média das opiniões aponta para um dólar entre R$ 4,0 e R$ 4,10 até o final de 2022. Este nível de dólar mais ou menos estável permite manter os custos em níveis razoavelmente estáveis. Comparados com preços variados de venda ao mercado, os lucros poderão oscilar proporcionalmente.



Fonte: T&F Agroeconômica

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