A cultura do trigo para a safra 2020, revela grande expectativa de produtividade. Entretanto, o manejo eficiente para controle de pragas pode alterar o rendimento. Dessa forma, neste texto veremos quais as pragas com maior importância na cultura e quais as medidas de controle que podemos utilizar.
Corós
Os corós possuem maior frequência de ataque no sul do país, como os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. As larvas possuem a coloração branca e o corpo em formato curvado. A cor da cabeça é mais escura e possui 3 pares de pernas torácicas. Os besouros (adultos) possuem coloração quase preta e apresentam um aspecto de “chifre” na região cefálica.
O período crítico de ataque é da emergência até o perfilhamento. O coró-das-pastagens (Diloboderus abderus) possui seu período crítico entre os meses de maio até setembro. A semeadura do trigo coincide com a 3ª fase larval (período com grande potencial de danos).
Figura 1. Coró-das-pastagens: a – aspecto geral do macho; b – aspecto geral da fêmea; c -caspecto da larva de 3° Ínstar.
A espécie do coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) foi registrada mais recentemente. O besouro possui a coloração avermelhada.
Figura 2. Coró-do-trigo: a – aspecto geral do adulto; b – aspecto da larva de 3° instar.
É uma praga bianual, compreendendo o período larval de aproximadamente 12 meses. Assim, os danos ocorrem em anos alternados.
Danos e manejos
As pragas consomem sementes, raízes e parte aérea. Após ocorrer o ataque, puxam as plantas em direção ao solo. Apenas 1 coró é capaz de atacar em média 2 plantas de trigo em 1 semana (PEREIRA & SALVADORI, 2011). Os ataques iniciam em manchas/reboleiras e podem evoluir para áreas maiores.
Os sintomas dos danos compreendem:
- Morte das plântulas na emergência e perfilhamento;
- Redução da capacidade de produção das plantas que sobreviveram ao ataque.
Em áreas com plantio direto, embora com diversas vantagens em comparação com o sistema convencional, possui maior frequência da praga. O fato pode ser justificado a partir do não revolvimento do solo, que protege as larvas à radiação solar e ao ataque de inimigos naturais. A rotação de culturas é uma ferramenta que reduz o pico populacional da praga. Culturas como algodão, girassol e crotalária são plantas desfavoráveis ao desenvolvimento de corós (OLIVEIRA et. al, 2004).
Veja também: Monitorar as lavouras é fundamental para evitar os danos causador por corós em trigo
Tabela 1. Monitoramento e nível de controle.
Lagartas desfolhadoras
As lagartas mais frequentes na cultura são: Pseudaletia adultera, Pseudaletia sequax (conhecidas popularmente como lagartas-do-trigo) e Spodoptera frugiperda (lagarta-militar ou lagarta-do-cartucho). As lagartas-do-trigo inicialmente são verdes e se tornam acinzentadas com listras claras e escuras. Ambas espécies podem ocorrer próximo ao espigamento e permanecer até a colheita.
A lagarta-militar ocorre geralmente onde o inverno é mais seco e menos rigoroso, como nos estados do Paraná e Mato Grosso. É uma praga que possui coloração escura e um “Y” invertido na cabeça, caracterizando a espécie Spodoptera. Esta praga ocorre geralmente no início do desenvolvimento do trigo, compreendendo o período desde a emergência até o afilhamento.
Figura 3. Pseudaletia adultera, Pseudaletia sequax e Spodoptera frugiperda.
Todas as lagartas possuem comportamento semelhante, pois se escondem durante o dia no solo e a noite agem mais intensamente. Assim, o controle com aplicações noturnas se torna viável.
Danos e manejo
Sintomas das espécies Pseudaletia spp.:
- Destroem aristas e espiguetas;
- Ataque à folha bandeira;
- Cortam a base da espiga, tombando a planta.
Sintomas da espécie Spodoptera frugiperda:
- Consome folhas e plântulas;
- Acarreta em atrasos no desenvolvimento;
- Reduz o estande de plantas.
Tabela 2. Monitoramento e nível de controle.
O controle de Pseudaletia adultera se restringe a 22 produtos dos grupos químicos: benzoilureia, metilcarbamato de oxima, tiocarbamato, organofosforado e piretroide.
O controle de Pseudaletia sequax possui uma maior disponibilidade de alternativas, com 85 produtos registrados. Entre os ingredientes ativos, estão: benzoilureia, neonicotinoide, piretroide, antranilamida, organofosforado, éter difenílico e metilcarbamato de oxima.
Para a lagarta-militar, há 42 produtos registrados, compreendendo os grupos químicos: piretroide, benzoilureia, metilcarbamato de oxima, neonicotinoide e organofosforado (AGROFIT, 2020).
Notamos que para o controle de lagartas desfolhadoras, os princípios ativos utilizados são, a maioria, pertencentes aos mesmos grupos químicos. Denota-se a importância da rotação de ingredientes ativos para reduzir a evolução da resistência.
Percevejos
Os sugadores mais comuns na cultura do trigo são pertencentes ao gênero Dichelops, conhecidos como percevejo-barriga-verde: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus. O período crítico destas pragas está voltado para o emborrachamento.
Figura 4. Percevejo-barriga-verde no trigo.
Danos e manejo
Sintomas de ataque:
- Desenvolvimento atrofiado;
- Altura reduzida da planta;
- Espigas deformadas: sem grãos ou parcialmente preenchidas com grãos.
Figura 5. Danos por percevejos nas hastes do trigo.
Segundo pesquisas da CCGL Pesquisa e Tecnologia com estudos para o percevejo-barriga-verde, a ocorrência adicional de 1 percevejo.m-2 reduz a produtividade em 52 kg.ha-1. Como mostra a Figura 6, quanto maior a ocorrência de percevejos, menor a produtividade de trigo.
Figura 6. Produtividade do trigo em função do nível populacional de percevejos.
Tabela 3. Monitoramento e nível de controle de percevejo-barriga-verde.
Pulgões
Na última safra de trigo, a população da praga apresentou a maior incidência dos últimos 10 anos (EMBRAPA, 2019). Existe uma ampla variedade de pulgões que atacam o trigo, como podemos visualizar na Figura 7.
Figura 7. Afídeos que atacam o trigo: a – pulgão-verde-dos-cereais, Schizaphis graminum; b – pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia, Rhopalosiphum padi; c – pulgão-da-folha-do-trigo, Metopolophium dirhodum; d – pulgão-da-espiga-do-trigo, Sitobion avenae; e – pulgão-preto-dos-cereais, Sipha maydis; f – pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis
São pragas consideradas de início do ciclo da cultura. A medida que a planta vai crescendo, estabelece-se no colmo e nas folhas. Os danos estão relacionados com a sucção da seiva. A alta prolificidade destas pragas estão relacionadas com a reprodução sem a ocorrência de machos e reprodução de apenas fêmeas.
Condições favoráveis para seu desenvolvimento:
- Temperaturas amenas: 20 – 22°C;
- Períodos de estiagem;
- Invernos secos e pouco rigorosos.
Danos e manejo
O pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum) possui o maior potencial de danos no trigo. Os sintomas estão relacionados com manchas cloróticas que evoluem para a necrose, causando a morte das plantas (PEREIRA & SALVADORI, 2011). Para controle desta espécie, existe apenas sulfoxaminas registradas para controle (AGROFIT, 2020).
As espécies causam sintomas, como:
- Sucção da seiva;
- Redução do rendimento de grãos;
- Diminuição do peso dos grãos;
- Poder germinativo das sementes decai;
- Transmissão de viroses: Vírus do Nanismo Amarelo dos Cereais e da Cevada
Figura 8. Amarelecimento das folhas de trigo causada por viroses.
Tabela 4. Monitoramento e nível de controle de pulgões.
O parasitismo realizado por joaninhas é de grande importância. Em estudos realizados por SARTOR (2018), percebe-se que o nível de parasitismo é de 100% próximo à colheita do trigo, como visualizamos na Figura 9. Percebe-se a necessidade de aplicações de inseticidas seletivos a fim de preservar os inimigos naturais. Devido a ocorrência de danos indiretos, o controle químico se torna necessário.
Figura 9. Porcentagem de parasitismo em diversos momentos da cultura do trigo.
Considerações finais
O monitoramento de pragas é uma técnica utilizada para diversas culturas e que deve ser amplamente difundida na cultura do trigo. As principais pragas que afetam a produção são os corós, lagartas desfolhadoras, percevejo-barriga-verde e pulgões. Esta última praga, além de possuir uma diversidade de espécies, possui produtos apropriados para cada praga. Por isso, a identificação correta se faz necessário a fim de implementar um manejo eficaz e sustentável.
Mesmo que a taxa de parasitismo seja elevada, as viroses transmitidas podem afetar drasticamente a cultura a ponto de ser necessário a utilização de moléculas químicas. Os danos podem ocorrer desde a emergência da plântula. Por isso, monitore as lavouras de trigo e saiba o momento correto de tomar a decisão de controle.
Referências:
AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2020
CCGL Pesquisa e tecnologia. Nível de dano do percevejo-barriga-verde em trigo. Boletim Técnico nº 56 CCGL
Embrapa. REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE, 12., 2018, Passo Fundo. 2018
Embrapa. Trigo com maior população de pulgões na década. 2019
OLIVEIRA, L. J. et al. Coró-da-soja. Embrapa Soja-Capítulo em livro científico (ALICE), 2004.
PEREIRA, PRV da S.; SALVADORI, José Roberto. Pragas da lavoura de trigo. Embrapa Trigo-Capítulo em livro científico (ALICE), 2011.
SARTOR, Bruno César. Mapeamento do controle biológico e químico de pulgão em trigo no sudoeste do Paraná. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Redação: Equipe Mais Soja.