A região Centro-Norte do Brasil, engloba os biomas do Cerrado e Amazônia e é responsável por cerca de 65% da produção nacional o milho (CONAB, 2024). Nesta região, o clima se caracteriza por apresentar duas estações bem definidas (estação chuvosa e estação seca, típico do clima tropical). Para essa região, a recarga total de água no solo ocorre a partir do mês de outubro (início da estação chuvosa), onde se chegam a registrar excedentes de água no sistema superiores a 150mm entre os meses de novembro, dezembro e janeiro. Já a partir do mês de fevereiro há redução nas chuvas, sendo que em abril/maio inicia a ocorrência de déficit hídrico no sistema (Figura 1).

Figura 1. Balanço hídrico climatológico para a região de Rio Verde – Goiás.

Para a produção de milho segunda safra (safrinha) em sistemas de sequeiro (não irrigados) no Centro-Norte do Brasil, o fator limitante é o posicionamento da semeadura. Para garantir que a semeadura da safrinha ocorra dentro da janela ideal recomendada pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), a semeadura da soja (cultura principal) deve ser antecipada. Isso exige a utilização de cultivares de soja de ciclo curto (<120 dias) semeadas até o final de outubro.

Battisti et al. (2020) analisaram o balanço hídrico do Centro-Oeste brasileiro, correlacionando a probabilidade de suprimento hídrico adequado para a soja em diferentes datas de semeadura:

  • 01 de Outubro: Apenas o centro e o norte de Mato Grosso (MT) apresentam probabilidade satisfatória (acima de 60%)
  • 15 de Outubro: O cenário melhora, abrangendo todo o estado de MT, o sul de Goiás (GO) e o nordeste de Mato Grosso do Sul (MS).
  • 01 de Novembro: A maioria da região avaliada demonstra viabilidade de semeadura da soja.
  • 15 de Novembro: O cenário mais favorável para o Triângulo Mineiro (região com histórico de grande uso de irrigação) é alcançado.

Esses dados de disponibilidade hídrica para o período entre a semeadura e o estágio V3 (terceiro nó) são detalhados na Figura 2.

Figura 2. Percentual de safras com disponibilidade hídrica superior a 60% em relação a demanda total para o período entre a semeadura e V3 (terceiro nó) para soja para semeadura em 01/out (A), 15/out (B), 01/nov (C) e 15/nov (D) com base em 35 anos.
Fonte: Equipe Field Crops

O mesmo estudo de Battisti et al. (2020) avaliou dois cenários de retorno econômico. O primeiro consiste na semeadura da soja de ciclo precoce (100 dias entre semeadura e maturação) seguida do milho segunda safra com 110 dias entre semeadura e maturação (Figura 3). Já o segundo cenário consiste apenas na semeadura da soja com ciclo de 115 dias entre a semeadura e a maturação fisiológica, que tem como objetivo alcançar um maior potencial produtivo da soja e deixar a janela da segunda safra para a implantação de culturas de menor risco climático, como o sorgo ou plantas de cobertura.

Figura 3. Cenários simulados com base em soja seguida de milho segunda safra ou apenas soja com ciclo mais longo.
Fonte: Equipe Field Crops

Referências Bibliográficas

BATTISTI, R. et al. Rules for grown soybean-maize cropping system in Midwestern Brazil: Food production and economic profits. Agricultural Systems, v. 182, p. 102850–102850, 2020. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308521X19315343 >, acesso: 07/11/2025

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Boletim da Safra de Grãos safra 2023/2024. Disponível em: < https://www.gov.br/conab/pt-br/atuacao/informacoes-agropecuarias/safras/safra-de-graos/boletim-da-safra-de-graos >, acesso: 10/11/2025

PILECCO, I. B. et. al. Ecofisiologia do milho visando altas produtividades. Santa Maria, ed. 2, 2024.



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