A ocorrência de sementes esverdeadas de soja vem se tornando cada vez mais comum nas lavouras brasileiras. Embora distintas teorias discutam as possíveis causas dessa anomalia, sabe-se que há uma complexa dinâmica por traz da ocorrência das sementes esverdeadas, contemplando desde distúrbios nutricionais (déficits ou excessos), variações climáticas, a ocorrência de pragas, doenças entre outros…
Principais causas das sementes esverdeadas
Um estudo conduzido por Lemes & Catão (2024) destaca a necessidade de estratégias integradas, nutrição equilibrada das plantas e manejo fitossanitário coeso para reduzir a ocorrência de sementes esverdeadas na soja.
Conforme apontado pelos autores, embora distintos fatores possam atuar de forma conjunta para a formação das sementes esverdeadas, tal fenômeno ocorre principalmente em função da ocorrência de déficits hídricos e altas temperaturas em estágios específicos da formação das sementes, resultando na produção de sementes que retêm clorofila em seus cotilédones, deixando-as verdes.
A ocorrência de altas temperaturas e o déficit hídrico causado pela seca durante as fases de enchimento e maturação dos grãos pode resultar na morte prematura das plantas e na intensificação da ocorrência de sementes verdes, uma vez que a degradação da clorofila é interrompida.
Isso ocorre por que a degradação da clorofila, a síntese de açúcares solúveis e modificações em proteínas solúveis ocorrem durante a maturação das sementes. No entanto, a clorofila de sementes rapidamente desidratadas não se degrada na mesma taxa que as sementes lentamente desidratadas, devido à translocação muito rápida de reservas e menores taxas de fotossíntese (Lemes & Catão, 2024).
Além disso, os autores destacam que a degradação da clorofila é iniciada durante a senescência por fatores endógenos e externos, como estresse hídrico, luz reduzida, variação de temperatura e aumento do teor de etileno, bem como fatores internos, como aumento da permeabilidade da membrana e alterações de pH. Logo, a interrupção do processo natural de senescência, seja pela influência de fatores bióticos ou abióticos pode resultar na formação de grãos verdes, uma vez que o processo de degradação da clorofila dos cotilédones é interrompido.
Normalmente, a enzima clorofilase degrada as clorofilas, resultando em uma coloração normal da semente de soja. A atividade dessa enzima é reduzida nos estágios finais de maturação sob condições de estresse climático. Esses fatores interferem no processo normal e fazem com que a degradação da clorofila acelere ou desacelere. Durante a morte prematura da planta e a maturação forçada da semente, a atividade da clorofilase é interrompida antes que a clorofila seja degradada (Lemes & Catão, 2024).
Dentre os principais fatores responsáveis por isso, França-Neto et al. (2012) destacam a influência do déficit hídrico e de altas temperaturas durante o período de enchimento de grãos, que, podem resultar na morte prematura das plantas e na intensificação da ocorrência de sementes verdes. No entanto, a anomalia da semente verde da soja parece ser mais expressa em função da variação térmica do que da variação hídrica.
Além disso, a sensibilidade à ocorrência de sementes esverdeadas pode variar de acordo com a cultivar, demonstrando que podem haver respostas genéticas relacionadas (Ajala-Luccas et al., 2023). De acordo com Lemes & Catão (2024) existem variedades de soja nas quais a clorofila da semente é retida no tegumento quando as sementes estão maduras.
Nesse sentido, bem como os fatores bióticos (pragas e doenças) e abióticos (variações climáticas) que afetam o desenvolvimento da soja, causando a morte prematura das plantas e consequentemente a baixa degradação da clorofila nos grãos, o uso inadequado de herbicidas na dessecação pré-colheita pode resultar na ocorrência de sementes esverdeadas.
Essa maturação forçada pode fazer com que sementes esverdeadas desencadeiam dentre outros fatores, danos por deterioração, reduções na germinação, vigor e viabilidade (figura 1). Em suma, sementes esverdeadas são mais observadas quando altas temperaturas associadas ao estresse hídrico ocorrem durante o enchimento e maturação dos grãos.
Confira o estudo completo desenvolvido por Lemes & Catão (2024) clicando aqui!
Figura 1. Sementes de soja esverdeadas (esquerda) e amarelas (direita) da cultivar CD 206, com ilustração da coloração das mesmas com o sal de tetrazólio abaixo das mesmas, mostrando as sérias lesões de deterioração por umidade verificadas nas sementes esverdeadas.
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Referências:
AJALA-LUCCAS, D. et al. THE SEED–SEEDLING TRANSITION IN COMMERCIAL SOYBEAN CULTIVARS WITH THE PRESENCE OF GREENISH SEEDS IN THE SAMPLE: A PERSPECTIVE FROM CLASSICAL GENETIC PARAMETERS. Agronomy, 2023. Disponível em: < https://www.mdpi.com/2073-4395/13/8/1966 >, acesso em: 15/08/2024.
FRANÇA-NETO, J. B. et al. SEMENTE ESVERDEADA DE SOJA: CAUSAS E EFEITOS SOBRE O DESEMPENHO FISIOLÓGICO – SÉRIE SEMENTES. Embrapa, Circular Técnica, n. 91, 2012. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/924805/1/download.pdf >, acesso em: 15/08/2024.
LEMES, E. M.; CATÃO, H. C. R. M. SOYBEAN SEED COAT CRACKS AND GREEN SEEDS—PREDISPOSING CONDITIONS, IDENTIFICATION AND MANAGEMENT. Seeds, 2024. Disponível em: < https://www.mdpi.com/2674-1024/3/1/11# >, acesso em: 15/08/2024.