A calagem é uma etapa de preparo do solo fundamental para elevar o pH de solos para níveis adequados para o cultivo, enquanto também atua na neutralização do alumínio tóxico presente no solo. Além de sua ação corretiva, o calcário também é fonte de alguns nutrientes importantes para as plantas como o cálcio e magnésio. Martin et al. (2022) destaca que a prática da calagem favorece o estabelecimento e a eficiência da simbiose rizóbio-planta e, consequentemente, a fixação biológica de nitrogênio.

A correção da acidez do solo é uma prática essencial para o cultivo em solos com baixa fertilidade, alto teor de acidez e níveis elevados de alumínio tóxico. A acidez excessiva do solo pode prejudicar a disponibilidade de nutrientes às plantas, uma vez que todos os nutrientes, exceto os micronutrientes catiônicos apresentam sua disponibilidade reduzida em solos com baixo pH (Gitti et al., 2019).

Figura 1. Relação entre pH e disponibilidade de nutrientes no solo.

Fonte: Gitti et al. (2019).

O calcário, proveniente da moagem de rochas calcárias, é o corretivo agrícola mais comum, seus constituintes neutralizantes são o carbonato de cálcio (CaCO3) e o carbonato de magnésio (MgCO3) (Primavesi & Primavesi, 2004). A recomendação de calagem é realizada considerando a interpretação da análise química do solo, dependendo do poder tampão do solo, ou seja, da resistência do solo em relação a mudança de pH, bem como do sistema de produção adotado. Além disso, a eficiência da calagem é influenciada pelo poder relativo de neutralização total (PRNT) e das quantidades aplicadas, assim como pela forma de aplicação no solo. Esses fatores interferem no efeito residual da calagem, tornando necessária a realização periódica da análise química de solo para orientar a tomada de decisão quanto a necessidade de reaplicação do corretivo (Oliveira Junior et al., 2020).

Figura 2. Atributos químicos do solo (0 a 20 cm) como referência para interpretação da análise química do solo, para a cultura da soja.

Fonte: Oliveira Junior et al. (2020).

De acordo com Silva et al. (2016), sempre que o valor de pH do solo for limitante à produtividade da cultura, torna-se necessária a realização da calagem a fim de elevar o pH ao nível de referência da cultura em questão, para as culturas de grãos, o pH de referência é 6. Os maiores impactos da acidez, que prejudicam a produção vegetal surgem quando o pH do solo está abaixo de 5,5, sendo então recomendada a aplicação de calcário.

Figura 3. Critérios sugeridos para a aplicação de calcário em diferentes condições de cultivo de soja.

Fonte: Oliveira Junior et al. (2020).

Ao efetuarmos a primeira aplicação de calcário, seja para corrigir a acidez natural do solo ou ao implementar um novo sistema produtivo de longo prazo, como plantio direto, pomares ou florestas, é recomendado incorporar o calcário o mais profundo possível. Tal recomendação também é feita para reaplicações de calcário em áreas com mobilização do solo para a semeadura de cultivos anuais. A reaplicação de calcário deverá ocorrer sempre que o resultado da análise do solo amostrado indicar a necessidade, levando em consideração fatores como o tipo de planta e o sistema de manejo adotado (Silva et al., 2016).




Conforme destacam Oliveira Junior et al. (2020), a quantidade recomendada de corretivo para atingir um pH de 5,5 ou 6,0 do solo é determinada com base no índice SMP do solo. Essas doses foram estabelecidas para a camada de 0 a 20 cm, considerando calcários com um valor de PRNT de 100%. Sendo necessário ajustar essas doses de acordo com a camada específica do solo a ser corrigida e o valor de PRNT do corretivo utilizado.

Figura 4. Quantidade de calcário necessária para elevar o pH água do solo a 5,5 ou 6,0.

Fonte: Oliveira Junior et al. (2020).

Segundo Carvalho (2021), a reação do calcário no solo é um processo que pode ser demorado e está condicionado à disponibilidade de água. Por isso, é aconselhável aplicá-lo com, pelo menos, dois meses de antecedência ao plantio. Recomenda-se realizar a análise química do solo a cada dois anos para avaliar a necessidade de aplicação de calcário e correção da acidez. O autor destaca que o tipo de calcário, seja calcítico, dolomítico ou magnesiano, não afeta a eficiência da calagem na correção da acidez, visto que essa característica é determinada pelo PRNT. No entanto, devido ao calcário ser uma fonte mais barata de Mg, recomenda-se a utilização de calcário dolomítico ou magnesiano.


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Referências:

CARVALHO, M. C. S. CALAGEM: CULTIVO DO FEIJÃO. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/feijao/producao/calagem#:~:text=Portanto%2C%20a%20calagem%20%C3%A9%20a,ra%C3%ADzes%20e%20incrementos%20de%20produtividade. >, acesso em: 09/11/2023.

GITTI, D. C. et al. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 1, Fundação MS. Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 09/11/2023.

MARTIN, T. N. et al. INDICAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL E EM SANTA CATARINA, SAFRAS 2022/2023 E 2023/2024. 43° Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Editora GR. Santa Maria – RS, 2022. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1lKQ3TVyZpKwIuWd9VbFHAyhDRKn0itT0/view >, acesso em: 09/11/2023.

OLIVEIRA JUNIOR, A. et al. FERTILIDADE DO SOLO E AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DA SOJA. Tecnologias de Produção de Soja, Sistemas de produção, 17, cap. 7. Embrapa Soja. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 09/11/2023.

PRIMAVESI, A. C.; PRIMAVESI, O. CARACTERÍSTICAS DE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Embrapa Pecuária Sudeste, documentos, 37, 2004. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/61985/1/Doc37ACP2004.pdf >, acesso em: 09/11/2023.

SILVA, L. S. et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO PARA OS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL E DE SANTA CATARINA. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Comissão de Química e Fertilidade do Solo RS/SC, 2016. Disponível em: < https://www.sbcs-nrs.org.br/docs/Manual_de_Calagem_e_Adubacao_para_os_Estados_do_RS_e_de_SC-2016.pdf >, acesso em: 09/11/2023.

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