O trigo (Triticum aestivum) destaca-se como uma das principais culturas de inverno da região Sul do Brasil, neste sentido, para garantir uma boa produtividade, a adubação destaca-se como uma das ferramentas mais importantes para atingir o potencial produtivo da cultura. De Bona et al. (2016), afirmam que a disponibilidade de N em quantidade adequada à planta é o principal fator determinante do rendimento potencial da cultura do trigo. O nitrogênio desempenha um papel de extrema importância, sendo encontrado em maior concentração nos tecidos vegetais e nos grãos, caracterizando-se como o nutriente mais demandado pela cultura do trigo.
De acordo com Paulilo et al. (2015), o nitrogênio desempenha um papel fundamental nas moléculas essenciais, incluindo proteínas, ácidos nucleicos, hormônios como auxinas e citocinina, bem como clorofila. Grande parte das proteínas são enzimas, moléculas imprescindíveis para que ocorram todas as reações químicas do metabolismo primário celular, como fotossíntese, via glicolítica, Ciclo de Krebs. Logo, a deficiência em nitrogênio se manifesta através do amarelecimento generalizado das folhas, conhecido como clorose, juntamente com baixas taxas de crescimento da planta. Conforme afirmam Taiz & Zeiger (2017), o nitrogênio é o elemento mineral requerido em maiores quantidades pelas plantas, devido a sua alta mobilidade dentro da planta, os sintomas de deficiência surgem primeiramente nas folhas mais velhas.
Figura 1. Sintomas visuais da deficiência de nitrogênio em trigo: a) plantas adultas deficientes na lavoura, b) clorose das folhas velhas e c) plantas jovens com deficiência.
A adubação nitrogenada na cultura do trigo, de acordo com o Manual de Calagem e Adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (2016), deve ser realizada levando em consideração o nível de matéria orgânica no solo, a cultura antecessora e a expectativa de rendimento de grãos da cultura, conforme podemos observar a seguir.
Figura 2. Indicação de adubação nitrogenada (kg/ha) para a cultura do trigo nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Cunha & Caierão (2023), destacam que a dose de nitrogênio a ser aplicada na semeadura varia entre 15 e 20 Kg ha-1, enquanto o restante deve ser aplicado em cobertura entre as fases de perfilhamento e alongamento do colmo. Quando há necessidade de realizar adubação com doses mais elevadas de Nitrogênio em cobertura, pode-se optar pelo fracionamento em duas aplicações, uma no início do afilhamento e o restante no início do alongamento. Os autores destacam ainda, que a aplicação tardia de N em cobertura, após a fase de emborrachamento, geralmente não afeta o rendimento de grãos, mas pode desencadear um aumento no teor de proteína do grão.
De acordo com Bredemeier & Mundstock (2001), a época de aplicação de nitrogênio na cultura do trigo é considerada uma estratégia para potencializar a eficiência desse elemento em relação ao rendimento de grãos. Os componentes do rendimento como o número de espigas por área e o número de espiguetas por espigas, sofrem forte influência pela variação do momento em que o N é fornecido (Braz et al., 2006).
Pesquisas realizadas por Ecco et al. (2020), observaram que a aplicação de nitrogênio influencia positivamente o número de perfilhos e o tamanho de espigas em plantas de trigo, esses benefícios foram observados com doses de até 66 Kg ha-1. No entanto, notou-se que doses acima de 30 Kg ha-1 de N em cobertura, influenciaram negativamente a massa de mil grãos. Os pesquisadores apontam que essa redução pode ser atribuída a um maior número de perfilhos, o que poderia ter levado a uma divisão menos eficiente dos recursos fotossintéticos e, consequentemente, à diminuição na massa dos grãos.
Experimentos realizados pela Embrapa Trigo, verificaram as respostas de uma mesma cultivar em diferentes ambientes e de diferentes cultivares em um mesmo ambiente. Essa pesquisa revelou que as respostas ao aumento no fornecimento de nitrogênio não seguem um padrão uniforme entre todas as cultivares. Pelo contrário, as respostas variam de acordo com a cultivar específica e em relação às particularidades do ambiente de cultivo.
Figura 2. Resposta da cultivar de trigo BRS Reponte ao aumento na dose de N em cobertura em diferentes ambientes na safra 2013 (A) e de diferentes cultivares em um mesmo ambiente (Passo Fundo, RS) na sara 2022 (B).
Uma das principais fontes de nitrogênio utilizada para o fornecimento do nitrogênio, é a ureia, ela possui cerca de 45% de N em sua composição. De acordo com o International Plant Nutrition Institute, o manejo do nitrogênio, com base no princípio dos 4C, de uso da fonte certa, na dose certa, na época certa e no local certo, pode otimizar a produtividade e o retorno da cultura.
Portanto, a adubação nitrogenada assume um papel muito importante no cultivo do trigo, influenciando tanto na produtividade quanto na qualidade dos grãos produzidos, assim, é fundamental fazer o manejo adequado desse nutriente essencial, seguindo as recomendações de doses e época de aplicação, proporcionando condições para que a cultura do trigo possa alcançar bom potencial de crescimento e desenvolvimento, garantindo a qualidade nutricional das plantas na lavoura, bem como a obtenção de boas produtividades.
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Referência:
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BRAZ, A. J. B. P.; SILVEIRA, P. M.; KLIEMANN, H. J.; ZZIMMERMANN, F. J. P. ADUBAÇÃO NITROGENADA EM COBERTURA NA CULTURA DO TRIGO EMSISTEMA DE PLANTIO DIRETO APÓS DIFERENTES CULTURAS. Ciências e Agrotecnologia, v. 30, n. 2, p. 193-198. Lavras – MG, 2006. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/28105/1/CAv30n2Braz.pdf >, acesso em: 17/08/2023.
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ECCO, M. et al. RESPOSTAS BIOMÉTRICAS DE PLANTAS DE TRIGO SUBMETIDAS A DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA. Revista Científica Rural, n. 1, v. 22. Bagé – RS, 2020. Disponível em: < http://revista.urcamp.tche.br/index.php/RCR/article/view/3074/0 >, acesso em: 17/08/2023.
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MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO PARA OS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo- Núcleo Regional Sul, Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC, 2016.
PAULILO, M. T. S.; VIANA, A. M.; RANDI, A. M. FISIOLOGIA VEGETAL. Universidade Federal de Santa Catarina, 182 p., Florianópolis – SC, 2015.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Artmed, ed. 6, Porto Alegre – RS, 2017.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.