O objetivo deste trabalho foi avaliar a contribuição de adjuvantes associados ao fungicida [Azoxistrobina + Benzovindiflupir], na deposição e na cobertura de plantas de soja, quando comparados aos tratamentos padrões.
Autores: LUIZ A. I. FERREIRA1, JOÃO V. S. MARTONETO2, FELIPE K. MOROTA3, JONAS R. HENCKES1, ROBINSON L. CONTIERO4, DENIS F. BIFFE4, FABIANO A. RIOS4, JOSÉ G. A. S. JÚNIOR5
Introdução
A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários possui como objetivo colocar a quantidade necessária de ingrediente ativo no alvo, com máxima eficiência, afetando o mínimo possível o meio ambiente (MATTHEWS, 2002). As técnicas de pulverização precisam oferecer gotas com boa capacidade de penetração e cobertura da massa foliar, mesmo para a aplicação de fungicidas sistêmicos. Já é conhecido que quanto menor o tamanho da gota na pulverização, maior o risco de deriva, e se a gota for muito grande, a planta pode ter dificuldade em relação à retenção e absorção (CUNHA et al., 2006). Uma forma melhorar a eficiência das aplicações, além da seleção correta das pontas, é a adição de adjuvantes à calda. Os adjuvantes quando associados com os produtos fitossanitários melhoram direta e indiretamente o seu desempenho, sendo importantes para produção, aplicação e comercialização dos mesmos (OLIVEIRA, 2011), além disso, possuem diferentes características entre si, ou seja, podem influenciar no molhamento, aderência, redução de espuma, dispersão da calda de pulverização e espalhamento (CUNHA; PERES, 2010). A adição de adjuvantes às caldas de pulverização é um tema que desperta interesse, porém, também gera dúvidas e controvérsias pelo seu uso inadequado e a falta de conhecimento de sua interação com alguns ingredientes ativos. Com isso, objetivou-se avaliar a contribuição de adjuvantes associados ao fungicida [Azoxistrobina + Benzovindiflupir], na deposição e na cobertura de plantas de soja, quando comparados aos tratamentos padrões.
Material e Métodos
O ensaio foi realizado na Fazenda Experimental de Iguatemi – FEI, pertencente ao Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá, localizado no Distrito de Iguatemi, município de Mandaguaçu. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram compostos por [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] (0,3 g p.c. ha-1) + óleo mineral (0,5% v v-1), [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] (0,3 g p.c. ha-1) + óleo mineral (0,5% v v-1) + [lecitina + ácido propiônico] (0,05 L p.c. ha-1) (tratamento padrão), [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] (0,3 g p.c. ha-1) + óleo vegetal modificado (0,47 L p.c. ha-1), [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] (0,3 g p.c. ha-1) + óleo metilado de soja (1,18 L p.c. ha-1) e [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] (0,3 g p.c. ha-1) + óleo metilado de soja (1,18 L p.c. ha-1) + óleo vegetal modificado polioexitileno (0,3% L p.c. ha-1).
As parcelas foram constituídas de 2,0 m de largura e comprimento de 10,0 m, totalizando área igual a 20,0 m2. Nas avaliações desconsiderou-se 0,5 m de cada extremidade. No momento da pulverização, o solo encontrava-se úmido, a temperatura em 26,3 ºC, a umidade relativa de 65% e velocidade média do vento de 2,4 km h-1. As plantas de soja, encontravam- se no estádio fenológico R5 (início do enchimento dos grãos). Para a pulverização dos tratamentos, foi utilizado um pulverizador costal de pressão constante à base de CO2, equipado com uma barra contendo quatro pontas tipo leque ST-015 (263 kPa), com espaçamento de 0,5 m entre si, e velocidade de deslocamento de 1,0 m s-1. Estas condições proporcionaram taxa de aplicação equivalente a 150 L ha-1. Para a avaliação da deposição, foram coletados 50 trifólios nos terços superior e inferior das plantas de soja, na área útil de cada parcela. Como traçador da deposição da pulverização foi utilizado na calda de pulverização o corante alimentício Azul Brilhante FD&C-1 (0,3% p/v).
O procedimento de recuperação das soluções traçadoras constituídas pelas caldas de pulverização foi desenvolvido através de lavagem dos trifólios alvos com volumes de 40 mL de água destilada dentro de sacos plásticos, através de agitação constante dos mesmos por 20 segundos. A determinação das quantidades dos traçantes depositados, em cada amostra, foi realizada utilizando-se procedimentos de espectrofotometria, cujos resultados em absorbância no comprimento de onda de 630 nm foram transformados em mg L-1, de acordo com coeficiente angular da curva padrão, similarmente à metodologia utilizada por Souza (2002) e Maciel et al. (2004). As concentrações dos depósitos foram transformadas em volume por área (μL cm-2), após a determinação da área foliar dos trifólios. Para a avaliação da porcentagem de cobertura das aplicações, os trifólios foram colocados em câmara com luz ultravioleta, e fotografias foram tiradas. Após isto, análises com o software Assess foram realizadas estimando a área total de cada trifólio e qual a proporção desta estava coberta pelo corante amarelo fluorescente Luxcor LRM 100, estimando desta maneira a porcentagem de cobertura. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Os resultados de deposição no terço superior e inferior das plantas de soja estão apresentados na Figura 1. Observa-se que, há uma diminuição significativa na deposição da calda aplicada, quando se comparam o terço superior e o terço inferior da planta de soja, o que evidencia a dificuldade de penetração da gota a alvos que se encontram na parte mais baixa do dossel da cultura, denominado “efeito guarda-chuva”.
Figura 1. Deposição da calda de pulverização proporcionada pelos diferentes tratamentos, no terço superior e inferior da cultura da soja. Médias acompanhadas de mesmas letras, maiúsculas para os terços superior e inferior e minúsculas para as diferentes caldas dentro de cada terço, não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
Ao analisar os valores de deposição obtidos no terço superior da planta, observa-se que, o destaque foi a utilização do adjuvante óleo vegetal modificado, com 0,68 µL cm-2. Já para a deposição no terço inferior da cultura, além do adjuvante óleo vegetal modificado, o óleo metilado de soja também apresentou valores estatisticamente significativos quando comparado aos demais. Além disso, os menores valores de deposição são encontrados no tratamento onde utilizou-se apenas óleo vegetal (óleo mineral), sem adição de nenhum outro adjuvante. Trabalhos como os de Ryckaert et al. (2007), Boschini et al. (2008) e Cunha & Peres (2010), comprovam os resultados obtidos, e indicam a necessidade da utilização de adjuvante para a melhoria na deposição da calda de pulverização na cultura da soja, principalmente nas fases finais de cultivo, onde a grande massa foliar produzida pela cultura dificulta sobremaneira a proteção das plantas na parte interna e inferior do dossel.
Os dados de porcentagem de cobertura da soja estão apresentados na Figura 2. Observa-se que, principalmente no terço inferior, há uma relação direta entre a deposição e a cobertura, ou seja, nos tratamentos onde houve maior deposição, esta é comprovada pela maior cobertura. No terço superior essa relação também ocorre, mas é menos evidente, pois, de maneira geral, as deposições e coberturas são bem maiores do que as do terço inferior.
Figura 2. Cobertura das plantas proporcionada pelos diferentes tratamentos, no terço superior e inferior da cultura da soja. Médias acompanhadas de mesmas letras, maiúsculas para os terços superior e inferior e minúsculas para as diferentes caldas dentro de cada terço, não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
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De maneira geral, os tratamentos contendo óleo metilado de soja, óleo metilado de soja + óleo vegetal modificado polioexitileno e óleo vegetal modificado apresentaram resultados iguais ou superiores ao tratamento onde utilizou-se somente o óleo vegetal e o tratamento padrão [lecitina + ácido propiônico] em termos de deposição e cobertura.
Conclusões
A associação dos adjuvantes ao fungicida [Azoxistrobina + Benzovindiflupir] gera incremento na deposição da calda de pulverização e na cobertura das plantas de soja.
Agradecimentos
A equipe do Núcleo de Estudos Avançados em Ciência das Plantas Daninhas – NAPD e a Land O’Lakes Inc. pelo financiamento deste trabalho.
Referências
BOSCHINI, L.; CONTIERO, R.L.; MACEDO JUNIOR, E.K.; GUIMARÃES, V.F. Avaliação da deposição da calda de pulverização em função da vazão e do tipo de bico hidráulico na cultura da soja. Acta Scientiarum Agronomy, v.30, n.2, p.171-175, 2008;
CUNHA, J.P.A.R.; REIS, E.F.; SANTOS, R.O. Controle químico da ferrugem asiática da soja em função de ponta de pulverização e de volume de calda. Ciência Rural, v.36, n.5, p.1360-1366, 2006.
CUNHA, J.P.A.R.; PERES, T.C.M. Influência de pontas de pulverização e adjuvante no controle químico da ferrugem asiática da soja. Acta Scientiarum Agronomy, v.32, n.4, p.597-602, 2010.
MACIEL, C.D.G.; VELINI, E.D.; BERNARDO, R.S. Performance de pontas de pulverização em Brachiaria brizantha cv. MG-4 para controle de ninfas de cigarrinhas das pastagens. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS, 3. Anais… Botucatu: FEPAF, 2004, p.211-214.
MATTHEWS, G. A. The application of chemicals for plant disease control. In: WALLER, J. M.; LENNÉ, J. M.; WALLER, S. J. Plant pathologist’s pocket book. London: CAB, 2002. p.345-353.
OLIVEIRA, R.B. Caracterização funcional de adjuvantes em soluções aquosas. 2011. 164 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
RYCKAERT, B.; SPANOGHE, P.; HAESAERT, G.; HEREMANS, B.; ISEBAERT, S. STEURBAUT, W. Quantitative determination of the influence of adjuvants on foliar fungicide residues. Crop Protection, v.26, n.10, p.1589-1594, 2007;
SOUZA, R.T. Efeito da eletrização de gotas sobre a variabilidade dos depósitos de pulverização e eficácia do glyphosate no controle de plantas daninhas na cultura da soja. Botucatu 2002. 69p. Tese de Doutorado em Agronomia. Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.
Informações dos autores
1Engenheiro Agrônomo, Doutorando, Universidade Estadual de Maringá, UEM, Maringá/PR, luizinojosaf@gmail.com;
2Graduando em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, UEM, Maringá/PR;
3Engenheiro Agrônomo, Mestrando, Universidade Estadual de Maringá, UEM, Maringá/PR;
4Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, UEM, Maringá/PR;
5Engenheiro Agrônomo, Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento WinField.