Por: Silvio Yoshiharu Ushiwata e Cesar Crispim Vilar, da Universidade do Estado de Mato Grosso, e Marcelo Alessandro Araújo, da Universidade Estadual de Maringá

Mato Grosso é o maior estado produtor de soja e carne do Brasil. A Região Leste, conhecida como Vale do Araguaia, que se estende ao longo da bacia do Rio Araguaia, contribui fortemente para a agropecuária do estado. A porção Sul do Vale do Araguaia é considerada uma das grandes regiões pecuárias do estado. Apesar disso, é muito comum vastas áreas com pastagens degradadas. Nesse contexto, o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) se mostra como opção para recuperação dessas áreas. Apesar de ser um estado economicamente pautado na agropecuária, há poucas pesquisas e informações relacionadas à qualidade do solo em áreas de ILP. Dessa forma, com apoio financeiro da Fundação Agrisus, realizou-se um levantamento da qualidade do solo em uma propriedade rural da região.

O estudo de caso foi realizado na Fazenda São Luiz, do Grupo Carpa Serrana, município de Barra do Garças, propriedade localizada no Bioma Cerrado. O clima apresenta dois períodos distintos, um chuvoso – que vai de outubro a abril – e um seco – de maio a setembro. O solo da área foi classificado como Latossolo Amarelo Distrófico, com teor de argila variando de 19% a 28%. Para este estudo, foram selecionadas três áreas, em 2017, com diferentes históricos de integração: dois, três e quatro anos e duas áreas de referências: pastagem degradada e área de vegetação nativa (mata). As áreas de integração eram, anteriormente, áreas de pastagens degradadas e que foram recuperadas pelo sistema.

Para a recuperação, foram realizadas operações com grades pesadas e correção do solo com a aplicação de calcário e fertilizantes. As áreas de integração consistem na sucessão da cultura da soja no período chuvoso e Urochloa ruziziensis (Brachiaria) no período da seca. Para a avaliação da qualidade do solo, as propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo foram medidas em 2017 e 2018. Portanto, em 2018, as áreas de dois, três e quatro anos de ILP passaram a ter três, quatro e cinco anos, respectivamente. Para as propriedades químicas e microbiológicas do solo, as amostras foram realizadas em maio de 2017 e em abril de 2018. E, para as propriedades físicas do solo, entre as várias análises, foi determinada a resistência do solo à penetração utilizando um penetrômetro de anel dinamométrico. Essa determinação ocorreu em maio de 2017 e novembro de 2018.

Propriedades físicas do solo — Na camada de 0 a 10 centímetros, a resistência em área de pastagem degradada foi extremamente elevada em 2017 (Figura 1). Quanto maior a resistência à penetração, pressupõe-se maior compactação e, consequentemente, maior dificuldade para o crescimento radicular. Pesquisas apontam que valores acima de 2 ou 2,5 MPa (megapascal) podem ser restritivos ao crescimento radicular. Em seguida à área de pastagem, a área de mata apresentou maior resistência. Isso pode ter ocorrido porque essa área é utilizada como área de descanso para o bem-estar dos animais, e o pisoteio destes compactou superficialmente o solo.

Figura 1 – Resistência à penetração do solo em área de pastagem degradada, áreas de sistema de ILP e área de vegetação nativa avaliadas em 2017 e 2018 em diferentes profundidades

Por outro lado, as áreas de ILP apresentaram menores resistências. Isso se deve à descompactação do solo no momento da recuperação dessas áreas. Além disso, os resultados indicam que está havendo pouca compactação dessas áreas com pisoteio animal. Nessas áreas de ILP, a permanência dos animais ocorre no período seco, minimizando a compactação pelo pisoteio. Na camada de 10 a 30 centímetros, as áreas de ILP, principalmente áreas de três a quatro anos, apresentaram maior resistência à penetração quando comparadas à camada de 0 a 10 centímetros, mostrando um possível efeito da compactação do solo causado pelo tráfego cumulativo de máquinas agrícolas (tratores, implementos e colhedoras).

Menores valores em ILP dois anos indicam que o tráfego de máquinas ainda não teve grande efeito na compactação após dois anos. Em 2018, na camada de 0 a 10 centímetros, a resistência na área de pastagem degradada mostrou-se menor do que em 2017 devido a maior umidade do solo (coleta em novembro), porém com valores ainda elevados. As áreas de ILP tiveram as menores resistências, especialmente na área de ILP quatro anos. A menor resistência nessa área se deve à subsolagem que ocorreu em abril de 2018. Na camada de 10 a 30 centímetros, áreas de ILP três anos e ILP cinco anos tiveram maior resistência quando comparadas à camada de 0 a 10 centímetros, evidenciando os resultados de 2017, que mostraram uma compactação dessas áreas pelo tráfego de máquinas. A área de ILP três anos mostrou resistência à penetração com valores muito parecidos à área ILP cinco anos, indicando que com três anos já estaria ocorrendo compactação nessa camada. A área de ILP quatro anos foi a única a ser subsolada, por isso apresentou baixa resistência até os 30 centímetros. Porém, abaixo dessa camada, os valores de resistência mostraram-se próximos daqueles observados no ano anterior, indicando efeito efetivo do implemento somente até os 30 centímetros.

Propriedades químicas do solo — Embora as áreas de ILP não terem sido revolvidas durante o período da avalição química, não houve incremento da matéria orgânica do solo (MOS). Ou seja, mesmo após cinco anos de ILP, não houve tempo suficiente para incrementar a MOS. Isso já era esperado, pois, em regiões tropicais, as altas temperaturas favorecem uma rápida degradação da MOS, ocasionando baixa taxa de acúmulo. Apesar disso, a manutenção da palhada (cobertura morta) é fundamental para a melhoria das condições do solo, pois contribui para atenuar o impacto da gota da chuva e, consequentemente, reduzir processos erosivos. Contribui na agregação do solo, melhorando sua estrutura. Traz também outros benefícios, como a redução da variação da temperatura do solo e a diminuição das perdas de água para atmosfera.

Tudo isso favorece melhores condições para uma maior funcionalidade dos organismos que habitam o solo e, consequentemente, para uma maior ciclagem de nutrientes, equilíbrio e saúde do solo. Em relação aos outros parâmetros da fertilidade, observou-se que, em áreas de SILP, houve uma elevação do pH do solo, da saturação por bases (V%) e nutrientes em geral. Por outro lado, houve uma redução da acidez potencial (H + Al) e da saturação por alumínio (m%). Esses resultados ocorreram devido à calagem no momento da recuperação das áreas que reduziu a acidez do solo, elevando o pH e diminuindo teores de alumínio nocivo. A melhoria da qualidade química do solo por meio da calagem e adubação ocorreu principalmente na camada superficial (0 a 10 cm).

Propriedades microbiológicas — Os micro-organismos e suas atividades são bons indicadores da qualidade do solo, pois são sensíveis à alteração do meio. Ou seja, o manejo adequado ou inadequado do solo impacta positiva ou negativamente a atividade dos micro-organismos do solo. Neste estudo, foram avaliadas duas enzimas do solo – fosfatase ácida e beta glicosidase.

Figura 2– Enzima fosfatase ácida em área de pastagem degradada, áreas de ILP e mata na profundidade de 0 a 5 cm em amostras coletadas em2017 e 2018

As enzimas são produzidas principalmente por micro-organismos do solo e contribuem para a ciclagem de nutrientes. Portanto as análises das enzimas produzidas mostram a atividade dos micro-organismos do solo. Os resultados deste estudo mostraram que as atividades dos micro-organismos foram mais altas em áreas de ILP quando comparadas às áreas de pastagens degradadas, principalmente em períodos de condições ambientais mais adversas, períodos mais secos, como ocorreu em 2017 (Figura 2). Em períodos mais propícios, mais chuvosos, como ocorreu em 2018, a atividade dos micro-organismos em ILP foram comparáveis à área de vegetação nativa (mata). Essas atividades dos micro-organismos são importantes para a ciclagem de nutrientes, ou seja, para a decomposição da matéria orgânica e a disponibilização de nutrientes às plantas.

Diante do exposto, este estudo mostrou que, nas condições de solo e manejo da propriedade rural em questão, o sistema de integração lavoura-pecuária contribuiu para a recuperação da qualidade física, química e microbiológica do solo. Entretanto, há uma tendência para compactação da camada de 10 a 30 centímetros com o passar dos anos.

Fonte: Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação


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