O controle de pragas desfolhadoras na cultura da soja é indispensável para a manutenção do potencial produtivo da cultura. As folhas da planta são responsáveis pela fotossíntese e produção de fotoassimilados, gerando energia para  planta, e refletindo em seu crescimento, desenvolvimento e produtividade.

Dentre as principais pragas desfolhadoras de acometem a soja, destacam-se a lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis), a falsa-medideira (Chrisodeixis includens; Rachiplusia nu; Trichoplusia ni), as lagartas do complexo Spodoptera, e as lagartas do gênero Helicoverpa.

Figura 1. Principais lagartas da soja.

Dependendo da espécie da lagarta e do instar, o consumo total de folhas por lagarta pode chegar a 200cm², em algumas cultivares de soja (Botelho; Silva; Ávila, 2019). À medida que a densidade populacional da praga aumenta, tem-se o aumento consequentemente da área foliar consumida, reduzindo a capacidade da planta em realizar fotossíntese e produzir fotoassimilados.

Algumas espécies de lagartas apresentam maior frequência no período vegetativo da soja, outras na fase reprodutiva da cultura, enquanto algumas espécies podem ocorrer em qualquer estádio do desenvolvimento da soja, acometendo não só as folhas da planta, como também plântulas e estruturas reprodutivas da soja.

Figura 2. Períodos críticos para ocorrência e danos de lagartas de diferentes espécies na soja.
Figura: Jerson Guedes.

No entanto, independentemente da espécie da lagarta, há períodos mais sensíveis da soja a desfolha, os quais a redução drástica da área foliar, pode afetar significativamente a produtividade da cultura.

Analisando o efeito da desfolha em diferentes estádios do desenvolvimento da soja, em duas cultivares (M5947 IPRO e M6410 IPRO), Lacerda et al. (2024) constataram que a desfolha da soja impacta diretamente a produtividade da cultura, principalmente quando ocorre durante o período reprodutivo da soja.


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Os autores submeteram as cultivares a diferentes níveis de desfolha (33% e 66%), durante os períodos V5, R1, R3 e R5. Conforme resultados obtidos pelos autores, para   a   cultivar M5947   IPRO,      a   desfolha   de   33%   não   afetou   a   produtividade independentemente do estádio fenológico, em R3, a desfolha de 66% foi mais prejudicial do que 33% e a desfolha de 66% reduziu a produtividade nos estádios reprodutivos mas não no vegetativo V5.

Já para a  cultivar M6410  IPRO,  as  desfolhas  afetaram  a  produtividade  principalmente  nos estádios  reprodutivos  e  pode  haver  recuperação  das  plantas  no  estádio  vegetativo,  as desfolhas  de  33%  reduziram  a  produtividade  apenas  no  estádio  vegetativo  V5  e  as desfolhas de 66% reduziram a produtividade nos estádios reprodutivos R3 e R5 (Lacerda et al., 2024).

Tabela 1. Médias  das  produtividades  (kg/ha)  dos  tratamentos  com  desfolha  nos  estádios fenológicos V5, R1, R3 e R5 para as cultivares M5947 IPRO e M6410 IPRO.
Fonte: Lacerda et al. (2024)

Embora as respostas produtivas em função da desfolha possam variar ligeiramente em função da cultivar, com base nos resultados obtidos por  Lacerda et al. (2024), fica evidente que a fase reprodutiva do desenvolvimento da soja, é o período mais sensível da cultura à desfolha, principalmente se tratando de elevados níveis de desfolha. Por possuir certa plasticidade (habilidade compensativa), é esperado que a soja tolere maior desfolha durante o período vegetativo, entretanto, mesmo assim, perdas significativas de produtividade podem ser observadas sob elevada condição de desfolha.

Corroborando, os níveis de ação pré-estabelecidos para o controle de lagartas em soja são inferiores (mais rígidos) no período reprodutivo da cultura (tabela 2), evidenciando que esse período é mais sensível a desfolha. Contudo, independentemente da espécie de lagarta e período de desenvolvimento da soja, o monitoramento frequente é essencial para controlar de forma eficiente as lagartas, sem comprometer a produtividade da cultura.

Tabela 2. Nível de ação para o controle das principais lagartas da soja.
Fonte: Roggia et al. (2020)

Veja mais: Uso do parasitoide Trichogramma pretiosum para controle de lagartas em soja e milho


Referências:

BOTELHO, A. B. R. Z.; SILVA, I. F.; ÁVILA, C. J. ASPECTOS BIOLÓGICOS DA LAGARTA-FALSA-MEDIDEIRA E SUA CRIAÇÃO EM LABORATÓRIO COM DIETA ARTIFICIAL. Embrapa, Circular Técnica, n. 47, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1118272/1/36927.pdf >, acesso em: 16/10/2024.

GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

LACERDA, K. L. et al. PRODUTIVIDADE DA SOJA COM DESFOLHA ARTIFICIAL EM DIFERENTES ESTÁDIOS FENOLÓGICOS. PEER REVIEW, 2024. Disponível em: < https://peerw.org/index.php/journals/article/view/1753/1024 >, acesso em: 16/10/2024.

ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Embrapa, Tecnologias de Produção de Soja, Sistemas de Produção, n. 17, cap. 9, 2020. Disponível em:< https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 16/10/2024.

 

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