A mosca-branca, Bemisia tabaci MEAM1 (Figura 1), é uma importante praga na cultura da soja no Brasil, tendo causado preocupações a profissionais e produtores devido aos danos que causa e à dificuldade de seu controle. Os danos diretos da praga incluem sucção da seiva e injeção de toxinas nas plantas, além de atuar como vetor de diversas viroses. Já os danos indiretos ocorrem devido à excreção de substâncias açucaradas sobre as folhas, favorecendo a proliferação de fumagina (Capnodium sp.), uma camada fúngica escura que reduz a taxa fotossintética das plantas.

Figura 1. Adultos de mosca-branca em soja.Fonte: ballagro

O aumento da ocorrência de mosca-branca na cultura da soja pode estar associado ao uso abusivo de inseticidas não-seletivos aos inimigos naturais, entre outros fatores (VIEIRA et al., 2009). Adultos de mosca-branca são controlados com maior facilidade por meio de pulverizações foliares quando comparados às ninfas, devido à preferência pelo terço superior do dossel da cultura (folhas mais jovens) para sua alimentação e oviposição (POZEBON et al., 2019). Portanto, como melhor estratégia de manejo para a cultura da soja, deve-se fazer o controle de adultos de B. tabaci antes que novos ovos e ninfas sejam produzidas e as gerações seguintes se perpetuem.

 Figura 2. Adultos de mosca-branca em folíolo de soja.

Foto: Adeney de Freitas Bueno

A eficiência de controle e prevenção da redução do rendimento de grãos devido ao ataque de B. tabaci estão diretamente ligados ao estágio de desenvolvimento das plantas de soja em que as medidas de controle são empregadas. Em um experimento de duas safras conduzido por Padilha et al. (2020), constatou-se que os tratamentos pulverizados com inseticida antes do estágio R1 (início da floração) apresentaram rendimento significativamente superior àqueles pulverizados apenas em estágios posteriores, indicando que o período de convivência entre a praga e a cultura precisa ser reduzido ao máximo.

O início da infestação de mosca-branca é o ponto crítico para seu controle. Portanto, a densidade populacional de mosca-branca representa o melhor critério para a tomada de decisão. Segundo Bueno et al. (2005), níveis de infestação de até 79 adultos de mosca-branca por planta de soja não são suficientes para reduzir a capacidade fotossintética no estádio V2. Porém, ataques na fase reprodutiva da planta por densidades populacionais muito mais baixas do que isso podem causar danos irreversíveis e redução severa na produtividade de grãos (PADILHA et al., 2020).

Na safra 2018/19, por exemplo, a densidade populacional média de uma mosca-branca por trifólio de soja ocasionou uma perda de 27,03 kg de grãos por hectare (Figura 2). Com base nessa informação, é possível estabelecer um nível de dano econômico para a praga (NDE), que nada mais é do que a menor densidade populacional desta capaz de causar danos econômicos à cultura.

Considerando um custo de controle de R$ 90,00 por hectare e valor da soja de R$ 120,00 por saca, por exemplo, o NDE para B. tabaci em soja é de 1,5 mosca-branca por trifólio (Tabela 1). As medidas de controle devem ser empregadas antes que o NDE seja efetivamente alcançado.

Figura 2. Relação entre densidade populacional de B. tabaci (ninfas + adultos) e produtividade de grãos de soja (kg/ha) na safra 2018/19, em Santa Maria-RS.

Fonte: Padilha et al., 2020 (artigo em trâmite para publicação).

Tabela 1. Variação do nível de dano econômico (média de ninfas + adultos por trifólio) para B. tabaci em relação ao valor da produção de soja e custo de controle, considerando 90% de eficiência de controle e redução de 27 kg/ha na produtividade de grãos para cada unidade populacional de mosca-branca por trifólio de soja.

Fonte: Padilha et al., 2020 (artigo em trâmite para publicação).

Conforme a população infestante na lavoura aumenta e a cultura progride em seu desenvolvimento, o controle de mosca-branca torna-se cada vez mais caro e menos eficaz. Logo, é de fundamental importância monitorar a  presença de B. tabaci durante as fases iniciais de desenvolvimento da cultura da soja, a fim de prevenir o estabelecimento de altos níveis de infestação e danos irreversíveis às plantas.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

REFERÊNCIAS:

COSTA, A. S.; COSTA, C. L.; SAUER, H. F. G. Surto de moscas-branca em culturas do Paraná e São Paulo. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v. 2, n. 1, p. 20-30, 1973.

DE BUENO, A. F. et al. Resposta fisiológica das plantas de soja e tomate à injúria causada pela mosca-branca bemisia tabaci raça B (Hemiptera: aleyrodidae). Ecossistema, v. 30, n. 2, 2005.

FERREIRA, L. T.; AVIDOS, M. F. D. Mosca-branca: presença indispensável no Brasil. BioTecnologia – Ciência & Desenvolvimento, Brasília, v. 1, n. 4, p. 22-26, 1998.

PADILHA, G. et al. Damage assessment of Bemisia tabaci and economic injury level on soybean. Crop Protection, 2020. Artigo em trâmite para publicação.

POZEBON, H. et al. Distribution of Bemisia tabaci within soybean plants and on individual leaflets. Entomologia Experimentalis et Applicata 167: 396–405, 2019. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/eea.12798

SANTOS, E. do N. et al. Que nível populacional de ninfas de Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae) reduz a produtividade da soja?. In: Embrapa Arroz e Feijão-Resumo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 27.; CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE ENTOMOLOGIA, 10., Gramado. Saúde, ambiente e agricultura: anais. Gramado: SEB, 2018., 2018.

TOMQUELSKI, Germison Vital et al. Eficiência de inseticidas para o controle da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) em soja nas safras 2017/2018 e 2018/2019: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2020.

VIEIRA, Simone Silva et al. Redução na produção da soja causada por Bemisia tabaci (GENNADIUS) Biótipo B (Hemíptera: Aleyrodidae) e avaliação de táticas de controle. 2009.

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