O período inicial do desenvolvimento da soja é extremamente sensível a influência de fatores bióticos e abióticos, especialmente os relacionados a condições de clima e ambiente, podendo esses, afetar o desenvolvimento inicial da soja e até mesmo interferir no estabelecimento do estande de plantas. Assim como as demais culturas agrícolas, a soja apresenta algumas exigências climáticas e ambientais para um adequado crescimento e desenvolvimento vegetal, sendo a temperatura, um dos principais fatores fontes de estresse.
Segundo Monteiro et al. (2009), a temperatura ótima para o crescimento e desenvolvimento da soja varia em torno de 30°C, já a temperatura basal inferior da cultura é de aproximadamente 13°C, enquanto a temperatura basal superior é de 40°C. Por definição, pode-se dizer que a temperatura basal representa o limite térmico para a ocorrência estresse, uma vez que abaixo da temperatura basal inferior não há crescimento e nem desenvolvimento da soja, assim como acima da temperatura basal superior também não.
Elevadas temperaturas, tanto no ar quando solo, podem resultar na ocorrência de estresses fisiológicos na planta, alterando o metabolismo e funcionamento da soja, prejudicando o crescimento e desenvolvimento da cultura, ou até mesmo causando a morte da planta em casos mais extremos, quando o estresse ocorre nos estádios iniciais do desenvolvimento da cultura. Conforme observado por Ribas et al. (2015), a temperatura média do solo pode variar de acordo com a cobertura do solo, chegando a ultrapassar os 50°C dependendo da cobertura utilizada.
Figura 1. Temperatura do solo média semanal a 0,05 m de profundidade, às 15 h (18 UTC), no solo desnudo sem irrigação, solo desnudo com irrigação, solo coberto com plástico transparente, solo coberto com plástico opaco preto, solo coberto com plástico opaco branco e solo coberto com palha de aveia (5 t ha-1), de 10-10-2011 a 31-05-2012, em Santa Maria-RS (Ribas et al., 2015).

Um dos principais distúrbios fisiológicos resultantes da elevada temperatura do solo nos estádios iniciais do desenvolvimento da soja é o tombamento fisiológico. Embora seja confundido muitas vezes com o tombamento por Rhizoctonia solani, o tombamento fisiológico consiste na desidratação dos tecidos, ao nível do colo da planta, desestruturando as membranas das células e causando o tombamento das plantas. Como principal consequência, tem-se a redução do estande de planta na lavoura.
Veja mais: Temperatura e o tombamento fisiológico
Infelizmente alguns fenômenos de natureza desconhecida vem ocorrendo em algumas áreas de produção, chamando atenção pela quebra das plantas de soja. Em vídeo, o professor e pesquisador Marcelo Madalosso destaca que essa é uma característica que vem sendo observada comumente em anos com ocorrência de estresse hídrico no início do desenvolvimento da soja.
Como na maioria dos casos tem-se a ausência de pragas e doenças em áreas onde vem sendo observado esse tipo de quebra/tombamento das plantas, esses fatores podem ser descartados como principais agentes causais desse fenômeno. Embora a causa da quebra de plantas ainda seja desconhecida, num primeiro momento, atribui-se essa característica a ocorrência de adversidades ambientais, sendo possível considerar a influência da ocorrência do cancro de calor não letal nessa quebra repentina das plantas.
Possivelmente, elevadas temperaturas do solo causaram a desidratação do colo da planta ao nível do solo, porém sem causar a morte da planta, mas que resultou na maior sensibilidade (menor resistência) do local afetado, conferindo menor sustentação para a planta. Contudo, cabe destacar que maiores estudos e avaliações necessitam ser realizadas e fim de determinar a real causa desse fenômeno.
Confira o vídeo abaixo e veja o que o professor e pesquisador Marcelo Madalosso tem a dizer sobre o assunto.
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Referências:
MONTEIRO, J. E. B. A. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INEMET, 2009.
RIBAS, G. G. et al. TEMPERATURA DO SOLO AFETADA PELA IRRIGAÇÃO E POR DIFERENTES COBERTURAS. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.35, n.5, p.817-828, set./out. 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/eagri/a/PSdSsGGMLzNdNzs9KW8ndHk/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 20/12/2021.