Ao longo da safra de soja 2021/2022, entre os meses de setembro e abril, a equipe de campo do Projeto de Sistemas de Informações Geográficas do Agronegócio de MS – (SIGA-MS) da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul – APROSOJAMS coletou amostras em campo e realizou entrevistas junto a produtores, Sindicatos Rurais e empresas de Assistências Técnica.
Para a coleta de dados, foram visitadas propriedades nos principais municípios produtores do estado e levantadas informações como variedades plantadas, data de semeadura, área cultivada, unidades de armazenamento de grãos, incidência de plantas daninhas, pragas, doenças, precipitação e situação geral das lavouras. Para o acompanhamento do pré-plantio, plantio, desenvolvimento e colheita foram realizadas 1.883 visitas. Vale ressaltar que algumas destas propriedades foram visitadas mais de uma vez no decorrer da safra.
A área de soja na safra 2021/2022 em Mato Grosso do Sul alcançou a marca de 3.748.042,72 hectares e a produtividade média ponderada foi de 38,65 sc/ha. As médias ponderadas de produtividade por regiões foram de: 71,15 sc/ha para região norte que representa aproximadamente 15,2% da área; 46,67 sc/ha para a região centro que representa cerca de 22,4% da área e 27,85 sc/ha para região sul, que representa aproximadamente 62,4% da área total de cultivo acompanhada pelo projeto SIGAMS.
Portanto, a produção total de soja em Mato Grosso do Sul alcançou a marca de 8.691.711,76 toneladas na safra 2021/2022.
O levantamento de produtividade da soja no estado de Mato Grosso do Sul foi realizado entre os dias 07 de fevereiro e 15 de abril de 2022, completando 10 semanas de levantamento, que permitiu obter uma amostragem significativa de 977 propriedades em 77 municípios do estado
A região norte corresponde a 15,2% da área plantada do estado, é a menor região produtora de grãos, porém foi onde se obteve as melhores produtividades, mesmo com várias adversidades. Os municípios que se destacaram nesta safra foram: Alcinópolis, Costa Rica, Chapadão do Sul, São Gabriel do Oeste, Sonora, Paraíso da Águas, Cassilândia e Coxim.
A região centro corresponde a 21,7% da área plantada do estado, a cada safra a região demonstra bons resultados no campo mesmo com várias adversidades. Os municípios que se destacaram nesta safra foram: Rio Negro, Sidrolândia, Rio Brilhante, Terenos, Bandeirantes.
A região sul corresponde a 62,4% da área plantada do estado, é a maior região produtora de grãos, onde iniciou o plantio da soja e milho no estado, essa safra foi uma das piores em 10 anos na região, onde a estiagem comprometeu toda sua produção. Os municípios que se destacaram nesta safra foram: Corumbá, Maracaju, Miranda, Porto Murtinho e Antônio João.
Considerações sobre as produtividade estadual
A produtividade média ponderada para Mato Grosso do Sul manteve-se baixa devido as produtividades em alguns municípios como Maracaju, Sidrolândia, Ponta Porã, Dourados e Rio Brilhante que foram abaixo de 46,78 sc/ha, juntos possuem o peso de 34% na média estadual. Os municípios de Rio Negro, Alcinópolis, Costa Rica, Chapadão do Sul, São Gabriel do Oeste, Sonora, Paraíso da Águas, Cassilândia e Coxim obtiveram as produtividades mais altas, acima de 64,38 sc/ha. Ao todo 30 dos 77 municípios apresentaram produtividade média acima da média estadual.
Os municípios que registraram valores acima da produtividade média estadual foram: Rio Negro, Alcinópolis, Costa Rica, Chapadão do Sul, São Gabriel do Oeste, Sonora, Jaraguari, Paraíso das Águas, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Cassilândia, Coxim, Bandeirantes, Camapuã, Rochedo, Corumbá, Figueirão, Rio Verde de Mato Grosso, Aparecida do Taboado, Selvíria, Pedro Gomes, Paranaíba, Campo Grande, Maracaju, Miranda, Rio Brilhante, Porto Murtinho, Sidrolândia, Anastácio e Três Lagoas.
Os municípios que obtiveram produtividade média abaixo da média ponderada estadual foram: Antônio João, Terenos, Bodoquena, Bonito, Angélica, Guia Lopes da Laguna, Aquidauana, Nova Alvorada do Sul, Aral Moreira, Ponta Porã, Itaporã, Santa Rita do Pardo, Corguinho, Dois Irmãos do Buriti, Laguna Carapã, Brasilândia, Jardim, Caracol, Bela Vista, Nova Andradina, Douradina, Dourados, Amambai, Itaquiraí, Anaurilândia, Sete Quedas, Coronel Sapucaia, Vicentina, Batayporã, Tacuru, Bataguassu, Novo Horizonte do Sul, Japorã, Juti, Nioaque, Mundo Novo, Caarapó, Glória de Dourados, Naviraí, Eldorado, Deodápolis, Ivinhema, Fátima do Sul, Jateí, Taquarussu, Paranhos, Iguatemi.
Série histórica de produção, área e produtividade
Conforme os levantamentos do projeto para a safra de verão 2021/2022, a área de soja atingiu 3,748 milhões de hectares, a produção 8,692 milhões de toneladas e produtividade 38,65 sc/ha. Entre a safra 2017/2018 e a safra 2021/2022 a produção reduziu 9,32%, a área plantada aumentou 38,81% e a produtividade teve uma retração de 34,68%, conforme pode ser visualizado no Gráfico 1.
Metodologia
Nas visitas a campo, os técnicos(as) que atendem regiões coletam informações diretamente com os produtores ou gerente das propriedades, além de realizar uma análise visual dos aspectos técnicos. As informações coletadas compõem o banco de dados do projeto e ficam relacionadas à sua localização geográfica, obtida através de GPS. As informações desta safra são pertinentes as 906 propriedades e 570 produtores visitados nas etapas de plantio e desenvolvimento, onde essas informações são auditadas e repassadas para o público com interesse conhecer a realidade da safra de soja e/ou milho.
No levantamento de variedades de soja utilizadas em MS, foi constatada a utilização de 174 cultivares, no universo total de 726 cultivares que são indicadas pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) através da Portaria nº 113, de 11 de Maio de 2021, que aprova o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para o estado de Mato Grosso do Sul em 2021/2022. Na coleta de informações foi questionado quais variedades foram implantadas, sistema de plantio e variedades de refúgio utilizada em sua lavoura.
Nas visitas aos produtores foi questionado quanto ao emprego de softwares de agricultura de precisão. Perguntou-se se o produtor utiliza algum programa para este fim. Para aqueles que responderam sim, perguntou-se em qual operação é utilizado. Das 906 propriedades visitadas, 54% relataram que fazem uso desta tecnologia, sendo que a maioria a utiliza nas operações de fertilidade, plantio e aplicação. Outros 46% não fazem uso desta tecnologia.
Também foi questionado quanto ao uso de softwares na propriedade. 94,0% de 570 produtores responderam que não utilizam essa ferramenta. Atualmente a tecnologia embarcada nos softwares se tornou uma forte aliada ao trabalho do campo, atualmente atua em todas operações, como no planejamento, plantio, manejo, colheita, estatística, medição, acompanhamento das ações da propriedade, além de ajudar na tomada de decisão. Onde a informação correta e técnica melhora o sistema de produção.
Incidência de Plantas Daninhas:
- Buva (Conyza spp.):
Em MS, a buva (Conyza spp.) é uma das principais invasoras dos cultivos de soja e milho. É uma planta considerada resistente para alguns princípios ativos disponíveis no mercado nacional (VARGAS et. al., 2016)
Os municípios que apresentaram presença alta foram: Amambai, Anaurilândia, Batayporã, Deodápolis, Dois Irmãos do Buriti, Dourados, Eldorado, Guia Lopes da Laguna, Itaquiraí, Ivinhema, Japorã, Jateí, Juti, Maracaju, Miranda, Mundo Novo, Naviraí, Nova Andradina, Novo Horizonte do Sul.
Os municípios de Anaurilândia, Batayporã, Eldorado, Itaquiraí, Japorã, Jateí, Mundo Novo, Naviraí, Nova Andradina e Novo Horizonte do Sul estão localizados na região sudeste do estado, onde em sua maioria é composta por produtores que possuem um nível tecnológico menor, com isso, possuem certa dificuldade no controle dessa planta daninha. No geral, pode-se considerar a infestação em controle no estado. Em muitas propriedades a planta daninha está ausente ou com baixa incidência.
- Trapoeraba (Commelina spp.)
A trapoeraba (Commelina spp.) é uma das principais invasoras dos cultivos de soja e milho em MS, uma planta que possui preferência em solos argilosos, férteis, úmidos e sombreados. Causam impedimentos na colheita mecânica e hospedeira insetos que causam prejuízos nas culturas de grãos. Porém a planta daninha é considerada de fácil controle no cultivo.
Os municípios que apresentaram presença alta foram: Dois Irmãos do Buriti, Guia Lopes da Laguna, Maracaju e Naviraí. No geral, pode-se considerar a infestação em controle no estado. Em muitas propriedades a planta daninha está ausente ou com baixa incidência.
- Milho Tiguera (Zea mays L.)
O milho tiguera (Zea mays L.) é uma invasora no cultivo de soja cuja incidência cresce a cada safra. Durante o cultivo da soja, o produtor deve se atentar em efetuar o controle das plantas tigueras para que não venham a servir de hospedeiras para pragas e doenças.
O Enfezamento pálido e vermelho (Spiroplasma Kunkelii) é uma doença que afeta a cultura do milho e pode causar redução de até 70% da produção. Sua incidência cresce a cada safra, demandando atenção dos produtores.
Os municípios que apresentaram alta incidência foram: Chapadão do Sul, Coronel Sapucaia, Iguatemi, Itaquiraí, Mundo Novo e Naviraí. No geral, pode-se considerar a infestação em controle no estado. Em muitas propriedades a planta daninha está ausente ou com baixa incidência.
- Capim Amargoso (Digitaria insularis)
O capim amargoso (Digitaria insularis) é a principal invasora dos cultivos de soja e milho em MS. É uma planta considerada resistente para alguns princípios ativos. O custo total com o controle no Brasil é de aproximadamente 1,4 a 2,0 milhões de reais ao ano, demandando uma atenção redobrada do produtor no cultivo (ADEGAS et al., 2017).
Os municípios que apresentaram incidência alta foram: Bataguassu, Batayporã, Deodápolis, Dois Irmãos do Buriti, Douradina, Dourados, Eldorado, Guia Lopes da Laguna, Itaquiraí, Ivinhema, Japorã, Jardim, Jateí, Maracaju, Miranda, Mundo Novo, Naviraí, Nova Andradina, Novo Horizonte do Sul, Tacuru e Taquarussu. A infestação pode ser considerada sob controle, porém demanda atenção e monitoramento.
- Capim Pé de Galinha (Eleusine indica)
O capim pé de galinha (Eleusine indica) é uma invasora nos cultivos de soja e milho, a planta daninha é considerada de fácil controle, no entanto se desenvolve bem em qualquer tipo de solo e possui grande produção de sementes que germina em qualquer época do ano. Sua incidência aumenta a cada safra, no entanto, na safra 2021/2022 sua incidência diminuiu, apresentando alta incidência no município de São Gabriel do Oeste. No geral, pode-se considerar a infestação em controle no estado. Em muitas propriedades a planta daninha está ausente ou com baixa incidência.
Incidência de Pragas:
- Percevejo Marrom (Euschistus heros)
O percevejo marrom (Euschistus heros) é uma das principais pragas nos cultivos de soja e milho em MS. Um dos fatores que contribuem para o aumento população dessa espécie é a flutuação populacional em sucessão soja – milho (vice-versa), assim a praga continua refazendo seu ciclo em condições favoráveis (SISMEIRO et. al., 2013).
Os municípios que apresentaram incidência alta foram: Anaurilândia, Batayporã, Deodápolis, Dourados, Guia Lopes da Laguna, Itaquiraí, Ivinhema, Jateí, Mundo Novo, Naviraí e Taquarussu. A população do percevejo marrom pode ser considerada sob controle, porém demanda atenção e monitoramento.
- Percevejo Barriga Verde (Dichelops spp.)
O percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus) é a principal praga nos cultivos de soja e milho. Os mesmos fatores que contribuem para o aumento da população do percevejo marrom também contribui para o percevejo barriga verde, no entanto, a praga só apresenta taxa de incidência alta no milho 2ª safra, na passada registrou 2% de “alta incidência” e 17% de “média incidência” no estado de Mato Grosso do Sul. Nenhum município apresentou alta incidência. A incidência é considerada baixa para a cultura da soja no estado. Em muitas propriedades a praga está ausente ou com baixa incidência.
- Lagartas das Vagens (Spodoptera spp.)
As lagartas das vagens (Spodoptera spp.) é uma das principais pragas no cultivo de soja sendo distribuídas em 3 espécies frugiperda, eridania e cosmiodes, além de atacar as vagens também causa desfolha. Uma praga de difícil controle, mesmo com inserção de cultivares tolerantes a algumas dessas espécies. Nenhum município apresentou alta incidência. A situação pode ser considerada sob controle no estado até o momento. Muitas propriedades estão ausentes de infestação no momento e outras com baixa incidência.
- Lagarta da Soja (Anticarsia gemmatalis)
A lagarta da Soja (Anticarsia gemmatalis) é uma das principais pragas no cultivo de soja em MS. Nenhum município apresentou alta incidência, entretanto os municípios de Deodápolis e Dourados apresentaram média incidência. Fator que tem contribuído para redução desta pragas é o período de plantio, nas últimas safras o período de plantio no estado está se concentrando entre os meses de outubro e dezembro onde tem desfavorecido o ciclo da praga no cultivo. A situação pode ser considerada sob controle no estado até o momento. Muitas propriedades estão ausentes de infestação no momento e outras com baixa incidência.
Incidência de Doenças:
- Ferrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi)
A ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) é uma doença da cultura da soja. Para seu controle, é aconselhado realizar a rotação de culturas, realizar o plantio dentro zoneamento agro climático e usar fungicidas no momento certo, no caso do fungicida é a última estratégia que deve ser adotada. Nenhum município apresentou alta incidência. É considerada sob controle no estado. A maioria das propriedades não têm incidência da doença e outras possuem baixa incidência.
- Mancha Alvo (Corynespora cassiicola)
A mancha alvo (Corynespora cassiicola) é uma doença foliar que afeta a soja. Para seu controle é aconselhado o uso de variedades resistentes, tratamento de sementes, rotação de culturas e usar fungicidas no momento certo, no caso do fungicida é a última estratégia que deve ser adotada. Nenhum município apresentou alta incidência. É considerada sob controle no estado. A maioria das propriedades não têm incidência da doença e outras possuem baixa incidência.
- Mancha Parda (Septoria glycines)
A mancha parda (Septoria glycines) também é uma doença foliar que afeta a cultura do milho. Para seu controle, aconselhado realizar a rotação de culturas, evitar desequilíbrio nutricional com ênfase na adubação potássica e usar fungicidas no momento certo. Apenas o município de Dourados apresentou alta incidência. A doença é considerada sob controle no estado. A maioria das propriedades não têm incidência da doença e outras possuem baixa incidência.
- Antracnose (Colletotrichum spp.)
A antracnose (Colletotrichum spp.) é uma doença que causa morte de plântulas, necrose dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes e vagens em estádios R3 e R4 da soja. Para seu controle, é aconselhado realizar a rotação de culturas, maior espaçamento entre linhas, tratamento de sementes, evitar desequilíbrio nutricional com ênfase na adubação potássica e usar fungicidas no momento certo. Nenhum município apresentou alta incidência. É considerada sob controle no estado. A maioria das propriedades não têm incidência da doença e outras possuem baixa incidência.
Considerações Finais
Os levantamentos realizados a campo, corroborados com o mapeamento do uso e ocupação do solo através de técnicas de sensoriamento remoto, permitiram identificar aumento da área plantada em aproximadamente 6,2% em relação à safra 2020/2021. Enquanto a produção teve retração, durante o desenvolvimento fenológico enfrentou diversas intempéries climáticas que interferem no cultivo. Em vários municípios houve redução da média de produtividade, que foi de aproximadamente 38,49% menor que a safra passada, gerando uma redução de 34,68% no volume de grãos.
Além das visitas técnicas às propriedades, os dados foram obtidos através de entrevistas com os produtores rurais que receberam as equipes de campo e forneceram dados e informações in loco, contatos com as empresas de assistência técnica do estado, representantes sindicais e de empresas privadas dos principais municípios produtores. Nas pesquisas foram levantados dados de produtividade, estádio de desenvolvimento da cultura, influência climática, data de plantio, colheita, e outras informações que viessem a agregar qualidade ao banco de dados do SIGA-MS, oportunizando estudos e identificando fatores para o bom desenvolvimento da cultura no estado. Esses dados podem ser utilizados como fonte de informação a produtores, acadêmicos, pesquisadores, técnicos e interessados na cultura da soja.
O Projeto SIGA-MS se aperfeiçoa e se consolida a cada safra como fonte de dados e informações consistentes, servindo de base para estudos realizados por instituições diversas, confirmando a qualidade do projeto, respaldando a sua continuidade a cada ano. APROSOJA/MS agradecem a todos que colaboram e compartilham informações, cujo valor é fundamental para o desenvolvimento da Agricultura e do Mato Grosso do Sul.
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