Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Um ciclo de desafios e vitórias
O Portal SNA relembra as reportagens especiais que destacaram os principais acontecimentos do setor agropecuário brasileiro em 2025. O ano, que se aproxima de seu final, reservou aos produtores enormes desafios, como o tarifaço americano; a inflação dos alimentos, que pressionaram as safras; as demandas por sustentabilidade, com o país recebendo a COP 30. Em todos esses cenários, os diversos segmentos do agro se mostraram resilientes e unidos. Respaldados por entidades de representação, que articularam o diálogo com autoridades, e bancadas parlamentares, que se mantiveram vigilantes a eventuais retrocessos no parlamento, agricultores e pecuaristas de todas as regiões e portes buscaram soluções num período que testou suas forças como nunca antes, mas comprovou seu protagonismo em definitivo.
Logo na volta do recesso, em fevereiro, as Casas Legislativas elegeram seus novos presidentes: Hugo Motta (Republicanos – PB) na Câmara dos Deputados, e Davi Alcolumbre (União – AP) no Senado Federal. Ambos dialogaram com as bancadas do agro em suas campanhas e se comprometeram com pautas importantes para o setor, reforçando o prestígio dessas articulações no Congresso, em especial a Frente Parlamentar da Agropecuária. A FPA teve diversos de seus membros eleitos para a composição das respectivas Mesas Diretoras.
A expectativa por uma nova safra recorde de grãos, que viria a se confirmar, novamente mereceu atenção das reportagens do Portal SNA em fevereiro, destacando também um antigo problema: o gargalo da armazenagem, que reduz a competitividade dos produtores e gera desperdício. Com o preço dos alimentos já elevados naquele momento, esse obstáculo agravava a dificuldade de fazer chegar aos consumidores todo o volume possível produzido. O governo chegou a cogitar medidas temerárias, como tabelamento. Após forte reação do setor, a ideia acabou descartada.
As tensões continuaram com a suspensão temporária de importantes linhas de crédito do Plano Safra então vigente, em fevereiro. Com indisponibilidade, explicada pelo governo como falta de recursos para equalizar juros dos empréstimos, somente o Pronaf ficou disponível. Uma medida provisória acabou sendo editada para crédito complementar de R$ 4 bilhões, e reacendeu o debate sobre o Orçamento, que até aquele momento não tinha sido aprovado pelo Congresso. O episódio ilustrou uma falha sistemática de comunicação por parte do Planalto, ao anunciar medidas de grande impacto sem detalhar previamente seus detalhes, obrigando o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a recuar.
Barreiras tarifárias monopolizaram atenções e esforços
Em abril, o presidente americano Donald Trump anunciou tarifas de importação para quase todos os países do mundo, como parte de sua promessa de campanha, que buscava corrigir supostas disparidades nas relações comerciais dos Estados Unidos. Ao Brasil, ficou reservada uma alíquota de 10%, que alarmou o setor agropecuário, forte parceiro daquela nação. Era o início de uma crise que teria fortíssimas repercussões nos meses seguintes e colocaria à prova a cadeia produtiva nacional. O Portal SNA esteve atento, mostrando a reação de segmentos e possíveis implicações.
O movimento de resistência às barreiras tarifárias americanas já havia começado antes mesmo de seu anúncio, uma vez representantes da carne bovina realizavam visitas a países estratégicos na Ásia, que finalmente abriam seus mercados para o produto brasileiro. Japão e Vietnã receberam empresários e autoridades que viajaram junto com a comitiva presidencial, ainda no fim de março. Durante todo o ano, essa prospecção continuou, se mostrando decisiva para escoar embarques inicialmente destinados aos EUA. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e seu presidente, Roberto Perosa, que concedeu entrevista ao Portal SNA logo em janeiro, se destacaram nesses esforços.
Em maio, um susto mobilizou autoridades e criadores de frango, devido a focos de gripe aviária detectados numa granja comercial no Rio Grande do Sul. Todos agiram com rapidez e transparência, seguindo os protocolos de desinfecção e isolamento, além de declarar emergência zoosanitária. Inevitavelmente, houve suspensão e cancelamento de compras por parte de países e blocos. O monitoramento seguiu em outras áreas, com casos isolados de aves infectadas em parque públicos e em algumas criações de subsistência. Decorrido o prazo após as medidas previstas, não houve transmissão nem novos relatos, e aos poucos, os embarques se restabeleceram. O episódio ilustrou como décadas de investimento sanitário preparam o país para evitar ocorrências assim, ou mitigá-las com agilidade em comparação a outros países, nos quais a doença se alastra sem controle.
Em junho, outro relevante passo no credenciamento da proteína animal brasileira perante potenciais compradores e parceiros já consolidados: a outorga do certificado de país livre da febre aftosa sem vacinação, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), com sede em Paris. A viagem também serviu para que as autoridades brasileiras e empresários da comitiva manifestassem apoio ao acordo comercial entre MERCOSUL e União Europeia, aprovado no fim do ano passado, mas que ainda precisa de homologação e implementação nos países de cada bloco, apesar da relutância de mandatários como o próprio presidente francês, Emmanuel Macron.
Escalada da crise e outros assuntos
Em julho, a relação com os Estados Unidos sofreu seu maior abalo em mais de dois séculos: Donald Trump anunciou um acréscimo de 40% nas tarifas vigentes sobre as importações brasileiras, levando a alíquota total a um patamar de 50%, sem paralelo com outras nações. A justificativa recaía, para além do protecionismo, em questões políticas que levaram inclusive a sanções sobre integrantes do Judiciário. O setor agropecuário passou a se preparar para um cenário de prejuízos e demissões, enquanto autoridades e demais representantes montaram uma força tarefa para dialogar com americanos antes que o tarifaço entrasse em vigor.
Ainda em julho, a realização da cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro pode ter tido influência na decisão do mandatário republicano, pois o a ideia do bloco adotar moeda alternativa ao dólar, antigo projeto que os americanos rechaçam, foi novamente defendida pelo presidente Lula. No mesmo mês, o anúncio oficial do Plano Safra 2025 – 2026, pela primeira vez dividido em modalidades familiar e empresarial, decepcionou defensores do setor pela ausência de maiores detalhes sobre o seguro rural e maior capacidade de equalização dos juros nos empréstimos.
A sanção de Trump entrou em vigor no começo de agosto, mas gradualmente o que se verificou foi a resistência da cadeia produtiva nacional. Segmentos como carne bovina, café e frutas, mesmo severamente impactados de início, assimilaram o choque e entregaram números alvissareiros na balança comercial. Em outro flanco, diplomatas e empresários pressionavam por uma trégua, apelando a importadores americanos que também se viam afetados pela sobretaxa nas commodities do Brasil, seu principal e melhor fornecedor. A inflação interna nos EUA maculava a promessa de que barreiras tarifárias beneficiariam o produtor americano.
Em setembro, o MERCOSUL selou importante acordo comercial com a Efta – Associação Europeia de Livre Comércio (composto por Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein), em cúpula realizada no Rio de Janeiro. Nos termos do que foi combinado, o Brasil terá protagonismo nas transações e mostrou que não está isolado, uma vez que pacto semelhante com a União Europeia ainda carece de validação definitiva.
Suspensão das tarifas e protagonismo na COP 30
Enquanto isso, a China batia recordes nas compras de soja brasileira, e assumia a dianteira também na aquisição de carne bovina. Estremecido com os Estados Unidos, o país asiático acabou aliviando a pressão comercial do momento, virando as costas para o grão americano. Assim, as negociações avançaram, e em outubro, na Malásia, Lula e Trump se encontraram pela primeira vez, num claro sinal de distensão. Os chanceleres Mauro Vieira e Marco Rubio seguiram em tratativas, que culminaram com a retirada das tarifas. Primeiramente, caíram as sanções de 10%; depois, a sobretaxa de 40%. Foi um grande triunfo do agro brasileiro, que ainda luta para redução de alíquotas vigentes sobre certos itens. O mês de novembro marcou essa vitória.
Outros êxitos aconteceram no Congresso, que aprovou o Projeto de Lei (PL) 2.088/2023, chamado de Lei da Reciprocidade, que autoriza o governo a retaliar países ou blocos econômicos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros. Até então, o Brasil seguia somente uma regra da Organização Mundial do Comércio (OMC) que proíbe favorecer ou prejudicar outro membro da entidade com tarifas. Mais adiante, a aprovação do Novo Licenciamento Ambiental, com derrubada subsequente dos vetos presidenciais, também representou importante vitória. A bancada do setor conseguiu também o adiamento da regularização fundiária de imóveis rurais em áreas de fronteira, além de apontar as contradições do Plano Clima proposto pelo governo.
Coroando 2025, ano em que mostrou força e protagonismo, o agro acabou sendo o grande destaque da COP 30 em Belém. No vácuo de decisões climáticas efetivas, o Brasil acabou destacando a liderança do setor como principal agente de transição para uma cadeia produtiva mais sustentável. Estiveram representados importantes segmentos, como o da carne bovina. No evento, a Abiec apresentou estudo mostrando que a pecuária nacional reduzirá drasticamente as emissões sem comprometer a produtividade. O mercado cafeeiro também mostrou suas iniciativas. O agronegócio, antes apontado como vilão desses debates, agora deixou claro que é aliado e vetor das soluções. Em 2025, o agro definitivamente se superou.
Com base nas reportagens publicadas pelo Portal SNA ao longo do ano.
Fonte: SNA




