Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
A cotação da soja, para o primeiro mês cotado, após romper o teto dos US$ 9,00/bushel no final da semana passada, não conseguiu manter este nível por muito tempo e voltou a recuar durante a corrente semana. O fechamento desta quinta-feira (30) ficou em US$ 8,91/bushel, contra US$ 9,06 uma semana antes. Para comparação, um ano atrás, o bushel de soja nesta época valia US$ 8,78. Portanto, em Chicago os valores da soja pouco se alteraram nos últimos 12 meses.
Dito isso, é importante frisar que não há, efetivamente, motivos altistas suficientes para manter as cotações nestes níveis. De um lado, a safra dos EUA transcorre muito bem, com o clima correspondendo, e de outro lado prosseguem os litígios políticos e comerciais entre EUA e China, o que atrapalha o mercado, embora os chineses continuem importando soja estadunidense. Assim, para Chicago se manter em um patamar mais alto será preciso notícias altistas consistentes.
Pelo lado da safra dos EUA, tais notícias estão distantes, já que as condições das lavouras daquele país, até o dia 26/07 melhoraram, com 72% atingindo a situação de boas a excelentes, 22% regulares e apenas 6% em condições entre ruins a muito ruins, sendo que 76% das lavouras estavam em floração e 43% em formação de vagens. Isso consolida a ideia de que, em o clima permanecendo assim durante o mês de agosto, a nova safra estadunidense poderá ver sua produtividade média se elevar entre 3% a 5% em relação ao previsto até o momento. Isso aumentaria o volume final a ser colhido naquele país, pressionando para baixo as cotações da oleaginosa em Chicago a partir do final de setembro.
Em paralelo, a União Europeia diminuiu suas importações de soja, para o ano 2020/21, em 17% até este final de julho, ao totalizar compras de um milhão de toneladas. Já em farelo de soja as compras chegaram a 1,17 milhão de toneladas, com recuo de 31%, enquanto as compras de óleo de palma somaram 285.000 toneladas, com recuo de 25%.
As exportações semanais de soja por parte dos EUA, para o ano 2020/21, atingiram a 382.371 toneladas apenas no dia 27/07, consolidando uma demanda interessante. A China teria comprado 132.000 toneladas ndaquele total. Como a disponibilidade de soja no Brasil e na Argentina, neste momento, já está bem menor, o país asiático se vê obrigado a comprar dos EUA, mesmo com os atritos entre os dois países. Já na semana encerrada em 23/07 os EUA embarcaram 472.680 toneladas da oleaginosa, ficando dentro das projeções do mercado. Com isso, o acumulado exportado no atual ano comercial chega a 38,8 milhões de toneladas, contra pouco mais de 40 milhões no mesmo período do ano anterior.
Apesar desta situação, ainda em junho os chineses compraram 11,2 milhões de toneladas de soja do Brasil, sustentando a alta dos prêmios locais como veremos logo adiante. Este volume foi 91% acima do que o importado no mesmo mês de 2019 e ainda 18,6% acima do que a China comprou em maio no Brasil. Já dos EUA, os chineses compraram apenas 267.553 toneladas em junho, ou seja, 56,5% a menos do que um ano atrás e 45,6% a menos do que haviam comprado em maio passado.
Esta forte demanda chinesa está sendo atribuída a recuperação, mesma que lenta, dos planteis suinícolas chineses, após o auge da peste suína africana em 2018 e no ano passado.
Vale destacar, todavia, que os estoques de soja e farelo estão elevados na China, fato que começa a pesar sobre as margens de esmagamento das indústrias chinesas. Esta situação está sendo monitorada pelo mercado, pois poderá ter desdobramentos importantes nas próximas semanas.
Aqui no Brasil, os preços estabilizaram, apesar das fortes elevações dos prêmios nos portos nacionais. De fato, não havendo pressão altista de Chicago e com o câmbio recuando para valores abaixo de R$ 5,20 por dólar em boa parte da semana, sobrou o prêmio para dar alguma sustentação aos preços internos. Neste último caso, em Paranaguá os mesmos variaram entre US$ 1,35 a US$ 1,45/bushel durante a semana, pelo lado comprador. Em alguns portos o prêmio já bate em US$ 1,65/bushel, fazendo com que exportadores passem a acreditar que os mesmos possam atingir novamente a casa dos US$ 2,00 nas próximas semanas.
Neste contexto, a semana fechou com a média de balcão gaúcha ficando em R$ 107,15/saco (em fins de julho do ano passado a média gaúcha no balcão era de R$ 68,88/saco). Por sua vez, nas demais praças nacionais, julho de 2020 fecha com os seguintes preços médios: R$ 100,00/saco no Paraná; R$ 103,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 108,00 em Maracaju (MS); R$ 94,00 em Rio Verde (GO); e R$ 101,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Diante desta performance de preços, espera-se um novo aumento na área a ser semeada com soja no Brasil para a próxima safra. Seria o 14º ano consecutivo de aumento de área no país. A projeção é de uma área ao redor de 38 milhões de hectares, fato que poderia resultar, em clima normal, em quase 132 milhões de toneladas.
Enfim, a safra passada de soja já estaria com mais de 90% de seu total vendido, elevando a disputa pelo restante, enquanto ainda se está na entressafra dos EUA, fato que sustenta os prêmios em nossos portos e força importações por parte de empresas esmagadoras nacionais. Neste último caso, no acumulado de julho, o Brasil já teria comprado 66.000 toneladas da oleaginosa, contra apenas 12.700 toneladas em todo o mês de julho do ano passado.
Esta situação, como já frisamos no comentário passado, leva também as indústrias brasileiras a pagarem mais do que a exportação para garantir que a soja restante fique no Brasil. Isso igualmente mantém os preços internos aquecidos e em níveis de recordes nominais. Neste sentido, algumas indústrias brasileiras estariam alertando que os estoques de novembro a janeiro serão insuficientes para dar continuidade às atividades, salvo de houver reversão de negócios, ou seja, renegociação de contratos para trazer para o Brasil a soja que sairia para exportação.
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui? Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ