As cotações da soja, em Chicago, para o primeiro mês cotado, chegam nesta metade de dezembro valendo US$ 12,77/bushel, contra US$ 12,64 uma semana antes. Na mesma época do ano passado, o bushel de soja era cotado a US$ 11,83. Portanto, na comparação ponta-à-ponta tem-se um aumento de 7,9%. As atuais cotações se mantêm firmes em função da elevação nos preços do farelo (o mesmo chegou a bater em US$ 404,50/tonelada curta no dia 14/12, porém, cedeu bastante no dia seguinte), as quais se devem à seca no sul da América do Sul, particularmente atingindo a Argentina. Este país, que abastece quase 50% das exportações mundiais de farelo de soja, já estava indicando uma safra menor devido à redução da área semeada.
Agora, com a seca, a produção final deverá ser ainda menor, podendo comprometer o fornecimento de farelo. Por outro lado, nos EUA, na semana encerrada em 09/12, os embarques de soja chegaram a 1,7 milhão de toneladas, ficando abaixo das projeções do mercado. No acumulado do atual ano comercial, os EUA exportaram 32,3 milhões de toneladas de soja, ficando este volume 21% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado.
Enquanto isso, a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA apontou que o esmagamento de soja naquele país, em novembro, ficou em 4,88 milhões de toneladas, se estabelecendo abaixo do esperado pelo mercado, que apostava em um volume de 4,93 milhões. Em outubro, o procesamento estadunidense de soja foi de 5 milhões de toneladas.
E no Brasil os preços se mantêm estáveis. O balcão gaúcho fechou a semana com a média de R$ 161,49/saco, contra R$ 132,96 na mesma época do ano passado. Isso representa um aumento ponta-à-ponta de 21,4%, enquanto a inflação oficial, em 12 meses, está em 10,74%. Porém, os custos de produção subiram muito mais, chegando, para a soja, ao redor de 52,1% no período, segundo dados da Fecoagro.
Isso reduzirá bastante a rentabilidade final da atividade, esperando que a seca no Rio Grande do Sul, que já está provocando quebras e replantio, não continue. Nas demais praças nacionais a soja fechou a semana com preços entre R$ 143,00 e R$ 160,00/saco, contra valores entre R$ 125,00 e R$ 149,00/saco um ano antes.
Dito isso, o plantio da atual safra atingia a 97% da área esperada até o início da presente semana, havendo atrasos nos dois Estados do sul do país devido a falta de umidade. Outros Estados que ainda estavam plantando eram Maranhão, Tocantins, Piauí e Pará. Lembrando que as inundações na Bahia e em Minas Gerais provocaram perdas importantes nas áreas de soja atingidas nestes dois Estados.
No geral, parte do Centro-Sul brasileiro já está muito apreensiva com a falta de chuvas e as quebras que, aos poucos, vão se avolumando, especialmente no Rio Grande do Sul. Mas tal problema atinge igualmente a Argentina e o Paraguai, comprometendo a meta de produção de soja da América do Sul.
Esta situação mantém aquecidas as cotações em Chicago. Acompanhamento da Weather Group dão conta de que o estresse climático no sul do Brasil e no Paraguai já está atingindo a 30% das lavouras da oleaginosa. Nesta situação difícil também se encontraria um terço da área semeada com soja na Argentina. Para dezembro praticamente não há chuvas importantes previstas. Espera-se que o quadro mude radicalmente a partir de janeiro.
Caso contrário, as perdas na produção de soja tendem a ser importantes. E além da falta de chuvas importantes, o calor é intenso, chegando facilmente entre 35 e 40 graus na maioria destas regiões. No Paraguai, consultorias privadas já estão indicando uma perda de um milhão de toneladas de soja em relação as 10 milhões esperadas.
No Brasil, o estresse hídrico estaria alcançando entre 20% a 25% da área de soja total, podendo alcançar um terço da área de produção até o final do mês de dezembro. Em paralelo, a Abiove aponta que nos 10 primeiros meses do corrente ano o Brasil assistiu a um recuo de 1,7% em seu esmagamento de soja, com o total ficando em 39,5 milhões de toneladas no período (a partir de uma amostra de 84,5% das indústrias de esmagamento existentes no país).
Por sua vez, o país aumentou em 40% as exportações de óleo de soja, entre janeiro e novembro de 2021, chegando a mais de 1,5 milhão de toneladas. Já no mesmo período de 11 meses as exportações de grãos de soja chegam a 83,4 milhões de toneladas, segundo a entidade, se constituindo em recorde histórico.
Enfim, a soja convencional, no Brasil em geral e no Mato Grosso em particular, volta aganhar certo espaço. Segundo o Instituto Soja Livre, entidade que fomenta a produção de soja não-transgênica no país, projeta-se uma área de 3% a ser semeada com esta soja, do total plantado no país com a oleaginosa, sendo que o Mato Grosso irá semear 60% desta área específica. Hoje este Estado é o maior produtor nacional da soja convencional.
Este avanço no plantio se dá em função de prêmios bastante positivos que o mercado mundial vem pagando pelo produto. A Índia, que era o principal concorrente brasileiro para este tipo de soja, com a pandemia, parou de exportar, abrindo espaço para o produto nacional. Hoje, há falta de produto porque durante três safras seguidas os prêmios foram ruins, desestimulando os produtores. Atualmente, os prêmios chegam a até US$ 6 o saco (R$ 34,20/saco ao câmbio desta semana), acima do mercado normal. Esse prêmio já foi de 10 ou 15 reais por saco o que desincentivou o plantio da soja convencional.
Assim, mesmo com o custo de produção da soja convencional sendo 4% maior do que a soja transgênica, a estes prêmios a rentabilidade chega a sete sacos por hectare acima da transgênica. Por enquanto, o grande mercado para este produto específico continua sendo a Europa, porém, a China já demonstra interesse no produto.
Entretanto, os chineses precisam pagar mais pela soja convencional, pois é mais difícil de produzir e tem todos os percalços de um nicho de mercado, sendo uma soja totalmente rastreada, onde em cada etapa da produção é verificado se a carga da oleaginosa está dentro do padrão de soja convencional.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).