Por Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Natália Correr Ré, Thaís Bragion Bertoloti, Kaline Lacerda, Natália Guimarães e Maria Clara de Faveri.

Mesmo com o baixo índice pluviométrico no início da semeadura da safra 2020/21, as ocorrências de chuvas em volumes mais satisfatórios desde a última dezena de outubro/20 geram expectativas de produção recorde no Brasil, estimada em 134,5 milhões de toneladas pela Conab (+7,7%) e em 133 milhões de toneladas pelo USDA (+5,6%). Ainda assim, a relação estoque/consumo final pode ser a menor das últimas nove temporadas, podendo dar sustentação aos preços domésticos de soja e derivados no decorrer de 2021. Vale observar que o maior custo operacional das aquisições de insumos – especialmente de fertilizantes – pode limitar as margens do produtor em 2021.

Os sojicultores aproveitaram os altos patamares de preços em 2020 e já negociaram mais da metade da safra 2020/21, segundo pesquisas realizadas pelo Cepea. O Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) aponta que 66,45% da temporada 2020/21 já foi comercializada em Mato Grosso – principal produtor nacional de soja.

Grande parte do volume negociado deve ser destinado à exportação. Mas também há expectativas de aumento na demanda doméstica, especialmente por parte do setor pecuário, no caso do farelo de soja. Além disso, a demanda por óleo de soja para a produção de biodiesel deve seguir elevada – e também desafiando indústrias do setor alimentício quanto ao abastecimento do coproduto.

O consumo doméstico de soja é estimado pelo USDA em 48,1 milhões de toneladas na safra 2020/21, sendo 3,46% superior ao da anterior e um recorde. Esse cenário se deve a expectativas de maior demanda doméstica por farelo, que é estimada em volume recorde, de 18,5 milhões de toneladas, 2,8% a mais que na temporada anterior. O consumo brasileiro de óleo de soja também é previsto em volume recorde, de 7,7 milhões de toneladas, 4,19% superior ao de 2019/20. Vale ressaltar que, pela primeira vez, o consumo industrial brasileiro de óleo de soja (3,9 milhões de toneladas) deve superar o uso alimentício (3,8 milhões de toneladas).

Já as exportações devem se desacelerar no próximo ano. Isso porque a China deve adquirir maior parcela de soja dos Estados Unidos, motivada pelo acordo comercial entre ambos os países. Com isso, o escoamento brasileiro de soja é estimado em 85 milhões de toneladas, 7,7% inferior ao da temporada 2019/20. Para o farelo, a queda nas exportações pode ser de 4% e, para o óleo, de 0,52%, com os embarques estimados em 16,8 milhões de toneladas e em 1,15 milhão de toneladas, respectivamente.

Front externo – Com a China demandando mais soja norte-americana, o USDA estima que os Estados Unidos exportem 31,25% a mais na temporada 2020/21, somando recorde de 59,87 milhões de toneladas de setembro/20 a agosto/21. Ressalta-se que mais de 50% desse volume já havia sido embarcado pelos Estados Unidos até a primeira dezena de dezembro/20.

O consumo doméstico de soja nos Estados Unidos também é previsto em volume recorde, de 63,51 milhões de toneladas, puxado pelas maiores demandas por farelo e por óleo de soja, que também devem ser recordes, estimadas em 34,74 milhões de toneladas e em 10,43 milhões de toneladas, respectivamente, pelo USDA.

Na Argentina, mesmo com as expectativas de quebra de produtividade, a produção deve crescer 2,5%, indo para 50 milhões de toneladas, ainda segundo o USDA. Desse volume, 39 milhões de toneladas devem ser destinadas ao esmagamento. As exportações de óleo de soja devem ser as maiores das últimas cinco safras, enquanto os embarques de farelo de soja podem ser os menores das últimas três temporadas. Isso porque o consumo do cereal deve ser recorde na Argentina, de 3,25 milhões de toneladas.

A China, principal importadora mundial de soja, deve adquirir no mercado internacional 100 milhões de toneladas de soja – um recorde. Isso se deve aos consumos de farelo e de óleo também recordes no país asiático, com incrementos de 8,27% e de 9,35%, respectivamente, de acordo com o USDA.

Preços – Os contratos futuros de soja negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) operam acima de US$ 11,00/bushel no primeiro semestre de 2021 e de US$ 10,00/bushel no segundo, quando a safra norte-americana é colhida. Vale lembrar que, na maior parte de 2020, os valores estiveram entre US$ 8,00 e US$ 9,00/bushel.

Essa alta externa pode refletir em uma correção nos prêmios de exportação de soja no Brasil, limitando o repasse da valorização externa. Além disso, a relativa oscilação cambial, que tende a operar abaixo dos R$ 5,00 em 2021, pode limitar as valorizações em 2021.

Vale ressaltar, entretanto, que os contratos a termo com vencimentos em janeiro e fevereiro poderão ter dificuldades de serem cumpridos, devido ao atraso na semeadura. Com isso, em dezembro/20, os prêmios de exportação, pelo porto de Paranaguá (PR) com embarque de janeiro a agosto de 2021, foram ofertados próximos a US$ 1,00/bushel – patamar recorde nominal da série do Cepea, quando analisado o mesmo período de anos anteriores.

Para 2021, a paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 146,92/saca de 60 kg para fevereiro, de R$ 144,00 para março/21, de R$ 144,41/sc para abril/21, de R$ 145,10/sc para maio/21, R$ 146,82 para junho e R$ 147,91 para julho/21 – para este cálculo foi considerado o dólar futuro negociado na B3.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

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