InícioDestaqueSoja no cerrado: plantas de cobertura atuam como ferramentas de manejo

Soja no cerrado: plantas de cobertura atuam como ferramentas de manejo

A agricultura no cerrado brasileiro tem crescido, apresentando grande participação na economia nacional. Dentre as principais culturas cultivadas, destacam-se as lavouras de verão produtoras de grãos, como soja e milho, sendo responsáveis por grande participação em escala comercial.

Contudo, visando a sustentabilidade e manutenção da qualidade do solo, algumas práticas de manejo necessitam ser adotadas, a fim de assegurar a qualidade física, química e biológica do solo. Uma dessas práticas é o cultivo de plantas de cobertura, podendo ser inserida no sistema de rotação de culturas da lavoura.

Como uma das premissas básicas do sistema plantio direto (SPD) é a cobertura permanente do solo, o cultivo de plantas de cobertura durante o período entressafra pode ser uma importante ferramenta para a manutenção do sistema plantio direto. Além de contribuir para a cobertura do solo, reduzindo as erosões superficiais para redução do impacto da gota da chuva, a boa cobertura do solo traz outros benefícios ao sistema de produção.



A palhada residual das plantas de cobertura possibilita a redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas, além de estimular a fauna edáfica do solo, possibilitando a melhora da estrutura química, física e biológica do solo. Além da cobertura superficial do solo, o cultivo de diferentes espécies de plantas de cobertura possibilidade a melhoria de atributos físicos do solo, reduzindo os efeitos da compactação do solo, além das raízes formarem galerias que contribuem para a formação de caminhos preferenciais para a infiltração de água no solo, aumentando a taxa de infiltração de água no solo.

Algumas espécies ainda possuem a habilidade de ciclar nutrientes do solo, absorvendo-os das camadas mais profundas e disponibilizando-os posteriormente através da decomposição e mineralização dos resíduos culturais. A abundante formação de raízes em algumas espécies contribui para o aumento da ciclagem de nutriente, e/ também, para o aumento o teor de matéria orgânica no solo, que é tão dependente dos resíduos culturais em superfície como também dos resíduos oriundos do sistema radicular das plantas (subsuperfície).

Figura 1. Sistema radicular de diferentes culturas agrícolas.

Fonte: Embrapa Trigo, citado por Tiecher (2016)

 

Figura 2. Raízes de Braquiária no perfil do solo.

Foto: Lourival Vilela

Pode-se dizer ainda, que os efeitos do cultivo de plantas de cobertura vão além da cobertura do solo, sendo observados inclusive na cultura em sucessão. Embora em algumas regiões como no Cerrado há certas limitações de cultivo em função dos períodos entressafra e espécies adaptadas, avaliando a decomposição e liberação de nutrientes de resíduos vegetais depositados sobre Latossolo Amarelo no Cerrado Maranhense, Leite et al. (2010) observaram resultados que demonstram cientificamente que, a adoção do cultivo de plantas de cobertura traz benefícios ao sistema de produção, superiores aos promovidos pela vegetação espontâneas das áreas agrícolas.

Para compor o estudo, os autores utilizaram como culturas de cobertura, vegetação espontânea (VE), braquiária (B) (Brachiaria brizantha cv. Marandu), milheto (M) (Pennisetum glaucum L. R. Br.) – cv. BN1-2 e o consórcio destas duas últimas gramíneas. Embora já esperada a redução da cobertura do solo ao longo do tempo pela degradação e decomposição dos resíduos culturais, um dos resultados que mais chama atenção é a quantidade de nutrientes acumulados e liberados pelas plantas de cobertura ao longo do tempo, se sobressaindo ao observado para a vegetação espontânea (figura 2).

Figura 3. Quantidade remanescente de nitrogênio (a), fósforo (b) e potássio (c) em função do tempo de decomposição da fitomassa de resíduos culturais de plantas de cobertura solteiras, consorciadas e vegetação espontânea em um Latossolo Amarelo do cerrado maranhense.

M – milheto, B – braquiária, BM – braquiária + milheto, VE – vegetação espontânea
Fonte: Leite et al. (2010)

Segundo resultados obtidos por Leite et al. (2010), aos cem dias, os tratamentos braquiária, milheto, braquiária + milheto e vegetação espontânea apresentavam 33; 43; 35 e 51% de Nitrogênio (N) total. A taxa de liberação de N obtida para os tratamentos braquiária, milheto, braquiária + milheto foi de 1,00; 0,26 e 0,52 kg ha-1 dia-1. O acúmulo de nutrientes e posterior liberação gradual também foi observada para os macronutrientes P e K, diferindo da vegetação espontânea.

Levando em consideração que as culturas da soja e milho necessitam de nutrientes em quantidades satisfatórias para suprir a demanda nutricional da planta, o cultivo de espécies de plantas de cobertura adaptadas ao cerrado, com habilidade em ciclar nutrientes, pode ser uma importante estratégia para o manejo entressafra das lavouras, contribuindo para sustentabilidade dos cultivos, e aumento da produtividade das lavouras em sucessão.


Veja mais: Soja após plantas de cobertura produz mais?



Referências:

LEITE, L. F. C. et al. DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES DE RESÍDUOS VEGETAIS DEPOSITADOS SOBRE LATOSSOLO AMARELO NO CERRADO MARANHENSE. Rev. Ciênc. Agron., v. 41, n. 1, p. 29-35, jan-mar, 2010. Disponível em: < https://www.redalyc.org/pdf/1953/195314910004.pdf >, acesso em: 17/02/2023.

Foto de capa: Sebastião Araújo – Embrapa

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Equipe Mais Soja
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