O aumento da produtividade das culturas é um desafio que envolve vários fatores, dentre eles, o manejo do solo. São várias as propriedades do solo que afetam o crescimento e desenvolvimento de plantas e consequentemente, na produtividade final. As boas práticas de manejo são as ferramentas utilizadas para modificar a condição do solo, garantindo condições ótimas para o crescimento e desenvolvimento das plantas maximizando a produtividade.
O solo é o substrato onde a planta cresce e se desenvolve, basicamente ele proporciona um ambiente de sustentação para as raízes crescerem, onde essas usufruem dos nutrientes nele contido, suprindo assim, todas as necessidades básicas das plantas, porém ele é muito dinâmico, e outros fatores acabam interferindo no sucesso da produção. O solo é um conjunto de fatores químicos, físicos e biológicos interligados, que influenciam no sistema produtivo, a manutenção, conservação e bom funcionamento desse sistema é fundamental na produção pensando no presente o no longo prazo.
Esses fatores podem ser separados em dois grandes grupos, sendo eles: (1) as propriedades dinâmicas (propriedades que se alteram continuamente e são facilmente manejadas) e (2) as propriedades permanentes (propriedades que não se alteram ou dificilmente se alteram em função do tempo e do manejo). A interpretação correta desses fatores nos leva a compreensão do potencial produtivo dos nossos ambientes de cultivo, contudo, cabe saber manejá-lo corretamente. Na figura 1 podemos observar melhor a dinamicidade desses fatores.
Ela demonstra que diferentes solos possuem diferentes potenciais produtivos, os quais estão ligados a ambos grupos das propriedades do solo. Porém, suas características permanentes limitam o potencial produtivo, a qual só varia em função das propriedades dinâmicas. Logo, cabe manejarmos esses fatores em busca de altas produtividades.
Um bom manejo compreende um conjunto de práticas que se forem planejadas e adotadas corretamente reduzem o impacto ambiental, os custos de produção e, com o passar dos anos, aumentam a produtividade das culturas. A importância do correto manejo do solo ficou evidente na safra de verão (2019/2020) no sul do Brasil, região que passou por período de estiagem evidenciando ainda mais a qualidade do manejo do solo.
Estudos feitos pelo setor de manejo e conservação do solo da Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) demonstram a importância do gerenciamento do solo com boas práticas, bem como as de rotação de culturas, o não revolvimento do solo, cobertura permanente do solo (ausência do vazio outonal), semeadura em nível e correção do pH do solo propiciam um solo de alta qualidade, dando suporte para produtividades mais elevadas. Quando comparamos solos que são realizados essas operações (solos de alta qualidade) com outros que não seguem essas premissas (solos de baixa qualidade) se deparamos com resultados semelhantes que foram obtidos por Fiorin & Corassa (2020), onde que solos de alta qualidade (média de 48,8 sacos/ha) superam 13,7 sacos ha-1 a mais que solos de baixa qualidade (35,1 sacas/ha) (Figura 2).
Antes de iniciar o manejo é importante se ter análises química e física do solo,algumas características são fundamentais para gerenciar o solo. A análise do solo permite o conhecimento das condições físicas e da química do solo, que por sua vez fornecerão informações importantes para a tomada de decisão final.
Em primeiro momento, uma correta amostragem de solo é fundamental, pois uma pequena amostra poderá representar vários hectares de uma lavoura. Para isso, diferentes métodos para diferentes circunstâncias podem ser encontrados em diferentes lugares, seja via online ou por livros e manuais. Posteriormente, cabe a correta interpretação dos dados obtidos nos laudos físicos e químicos por profissionais habilitados para fazer as recomendações quanto a fertilidade do solo. Vale aqui chamar a atenção para a correta amostragem de solo, não adianta enviarmos a amostra para o melhor laboratório do mundo, se ele não é representativo da área.
Alguns fatores são facilmente manejados (pH e disponibilidade de nutrientes), enquanto outros são modificados com o passar dos anos. Devemos considerar que a construção de altas produtividade, também depende de fatores sazonais, como: a precipitação, temperatura do ar, intensidade de ataque de pragas e doenças. E fatores que partem da escolha do produtor, como: a cultivar, a plantabilidade da lavoura, dentre outras, mas o fator solo é condicionador de boas práticas de manejo a lavoura quanto aos fatores climáticos e vegetais.
Quanto às condições físicas do solo que condicionam a alta produtividade, a compactação e a porosidade são as principais propriedades (além da textura que implica na fertilidade do solo). A presença de compactação pode afetar o crescimento radicular das plantas, assim, limitando a capacidade da planta na absorção de água e nutrientes. O aumento da densidade impacta na porosidade do solo que por sua vez afeta a disponibilidade de água solo (microporos), e também a drenagem do solo após uma chuva (macroporos).
A melhor alternativa para melhorias nas condições físicas do solo e uso correto do sistema plantio direto, respeitando suas premissas (não revolvimento, cobertura permanente e rotação de culturas).
A cobertura permanente do solo forma uma barreira física protegendo-o do impacto causados pela chuva e diminuindo assim, o risco de erosão. A mesma cobertura tem função térmica no solo, impedindo que ele atinja altas temperaturas minimizando a amplitude térmica do mesmo. Além disso, com o passar do tempo essa cobertura vai sendo decomposta contribuindo para o aumento da matéria orgânica solo e toda sua importância nos vários efeitos biogeoquímicos (como: agente cimentam-te, maior armazenamento de água, neutralização de metais tóxicos, aumento da CTC, drenagem do solo, aumento da porosidade, aumento da biodiversidade da micro e mesofauna do solo, etc.), além da mitigação da emissão de gás carbônico para atmosfera.
Com o não revolvimento do solo, todos esses benefícios listados acima permeiam com o passar do tempo, pois o solo é muito sensível a qualquer mudança em sua estrutura. A rotação de culturas permite o aumento da diversidade do material orgânico solo, aumentando sua biodiversidade, e promovendo melhorias às condições físicas e estruturais do solo. Com a diversificação dos sistemas radiculares o solo passa por uma escarificação vegetal, promovendo a diminuição da densidade do solo e o aumento de sua porosidade. Com a decomposição das raízes surgem bio-póros, que permite a passagem de outras raízes, e assim propiciando uma maior rizosfera (ou seja, maior área para absorção de água e nutrientes).
Outro fundamental cuidado que se deve ter com relação ao solo é com o controle do tráfego de máquinas, principalmente em condições de alta umidade no solo. Em regiões com alta declividade é recomendado a construção de outras barreiras físicas (curvas de nível e terraceamento), além da cobertura do solo, com o objetivo de dificultar o movimento lateral da água no solo, aumentando a infiltração e a retenção da água no perfil.
Para a verificação de como se encontra a estrutura do solo, algumas práticas são recomendadas, como: o monitoramento do crescimento radicular (quando o tamanho e a direção do crescimento das raízes), e análises visuais do solo, como a avaliação visual da estrutura do solo – VESS (siglas em inglês).
Em nossos solos encontramos organismos vivos, partículas orgânicas, oriundas de resíduos vegetais, a biologia do solo desempenha papel fundamental na estruturação e conservação do solo, os fungos, hifas, macro, meso e microfauna atuando de forma conjunta, produzem galerias no solo, decompondo resíduos, auxiliando na infiltração e aeração do solo, contribuindo para a formação e estabilização da matéria orgânica, e especialmente o aumento de coloides orgânicos, que aumentam a CTC do solo.
Os excrementos desses organismos atuam como agentes cimentastes entre as partículas do solo melhorando a estabilização de agregados. Neste sentido, o manejo biológico do solo busca proporcionar condições favoráveis para o desenvolvimento dos organismos vivos. Como já mencionado, o uso de cobertura de solo, rotação de culturas, atuam como alimento para estes organismos auxiliando na conservação do solo e incremento da matéria orgânica.
Os microrganismos são os principais agentes da ciclagem de nutrientes, eles têm a capacidade de degradar e digerir substratos orgânicos do solo. Desde substratos simples com baixa relação C/N (leguminosas) e plantas mais complexas com alta relação C/N (gramíneas). A vida do solo tem a capacidade de transformar o nitrogênio, a mineralização, e a solubilização do fósforo, a oxidação, entre outras.
Quando se pensa no manejo da química do solo, é preciso conhecer os parâmetros químicos (teor de argila, CTC, pH, matéria orgânica), os quais são fornecidos nas análises do solo. De modo geral, o que se busca é a neutralização de elementos tóxicos, cuidados com a salinidade, correção da acidez e o fornecimento de nutrientes que assegurem um ótimo crescimento das plantas.
Se deve ter atenção com a necessidade de calagem do solo, monitorando o pH, saturação por alumínio e bases do solo. Para que se possa manter o pH do solo próximo de 6,0 a 7,0, faixa de pH de maior absorção de nutrientes pelas plantas, fora desta faixa, por mais que o solo apresenta altos teores de nutrientes, alguns se tornam menos disponível para absorção pela planta.
Como se pode ver, o sistema plantio direto possui benefícios para os fatores físicos, químicos e biológicos a do solo. Com um maior e aporte constante de resíduos a superfície, associado ao não revolvimento do solo, premissas básicas do sistema plantio direto e com um histórico de cultivo e possível se ter um incremento no solo e com isso, teor da matéria orgânica, aumento na CTC do solo também aumenta e no reservatório de nutrientes para as plantas. Esse efeito positivo da matéria orgânica é fundamenta, ainda mais em solos arenosos, que possuem baixa CTC e onde grande parte das vezes os coloides orgânicos representam a maior parte da CTC desses solos.
Para nós técnicos e produtores, conhecer o solo é fundamental quando se pensa a sustentabilidade do processo produtivo. As boas práticas de manejo, permitem melhorar e manter a qualidade do solo. O manejo dos nutrientes, associado às práticas agronômicas, são ferramentas fundamentais para a correção dos solos e as informações de práticas de manejo que orientam para a melhor qualidade do solo, devem ser estudadas e adaptadas às condições locais, melhorando a curto e a longo prazo o sistema de cultivo e as condições do solo. Para finalizar, o conjunto de todos esses fatores e práticas de manejo que melhoram a qualidade do solo e garantem o aumento da produtividade das culturas deve ser constante e onde os resultados mais significativos aparecerão no médio e longo prazo.
Referência:
Fiorin J. E. & Corassa G. M. Produtividade em função da qualidade do uso do sistema de plantio direto frente a uma estiagem (safra de 2019/2020). Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL); Rede Técnica de Cooperativa (RTC) 2020.
Autores: Marcos André Bonini Pires e Larrisa Lamperti Tonello – Universidade Federal de Santa Maria – Campus Frederico Westphalen-RS – Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias