A preparação da calda para o pulverizador é uma atividade chave na agricultura. É extremamente importante ter o conhecimento prévio dos produtos que vão ser utilizados, além das misturas e compatibilidade dos mesmos, visando um processo de aplicação eficiente e garantia que o investimento feito nos produtos fitossanitários retorne no controle efetivo do alvo.
As principais formulações de inseticidas que usam água como meio de aplicação são: pó molhável, suspensão concentrada, granulado dispersível em água e concentrado emulsionável. Toda mistura é chamada de dispersão e pode ser uma suspensão, emulsão ou solução (Souza, 2020).
A dispersão do pó molhável é sob forma de suspensão, onde após se juntar com a água é necessário agitação constante para diluir o produto e evitar decantação e floculação das partículas (cuidado no entupimento de filtros). A suspensão concentrada se dispersa da mesma forma, porém com mais estabilidade de mistura.
Outro tipo de formulação é o granulado dispersível em água que forma uma solução, ou seja, em contato com a água, se dissolve prontamente formando uma solução estável. É uma formulação recente e tem se tornando popular devido à sua eficiência, porém possui custo maior em relação às suspensões concentradas.
Por fim, o concentrado emulsionável é uma formulação líquida homogênea que se dispersa na forma de uma emulsão. Apresenta boa estabilidade e nesse caso a agitação, assim como no granulado dispersível, não é crítica. A calda fica com aspecto leitoso e homogênea. A Figura 1 ilustra o grau de necessidade de agitação das formulações de pré-mistura com água.
Figura 1. Ordem do grau de necessidade de agitação das formulações de pré-mistura com água, seguido em ordem crescente: concentrado emulsionável (CE), granulado dispersível em água (GRDA), suspensão concentrada (SC) e pó-molhável (PM).
Fonte: Diego M. Souza. Confira a imagem original clicando aqui.
De acordo com um levantamento da Embrapa Soja (2015), a mistura de defensivos mais comumente utilizada em lavouras de soja transgênica é o herbicida aplicado em pós-emergência juntamente com inseticida e fungicida no tanque. O estudo demonstra também que, em 40% dos casos, são misturados três produtos no tanque e em 26% a mistura é de quatro produtos. No entanto, há necessidade do produtor juntamente com o técnico conhecer as reações que vão ocorrer quando dois ou mais produtos forem combinados no tanque, para evitar problemas futuros.
A principal vantagem da mistura de agroquímicos é o custo-benefício, visto que é possível o controle de diferentes pragas e doenças de forma eficiente reduzindo a quantidade de pulverizações na lavoura: assim, obtém-se economia de tempo, de mão-de-obra e de combustível. Porém, isso levanta algumas preocupações, especialmente referente à compatibilidade entre os produtos misturados, visto que a incompatibilidade poderia alterar a composição física e química das soluções e anular ou enfraquecer a eficácia dos defensivos.
Um sintoma claro de incompatibilidade é a formação de precipitados ou grumos dentro do tanque de pulverização, que normalmente depositam-se nos filtros ou nas pontas de pulverização (Figura 2). Nesse caso, é recomendado buscar meios para substituir os produtos incompatíveis ou aplicá-los de forma isolada.
Figura 2. Exemplo de obstrução de filtros do pulverizador proporcionada pela incompatibilidade de agrotóxicos adicionados no tanque de pulverização.
Fonte: Infobilos. Confira a imagem original clicando aqui.
É importante ressaltar alguns fatores sobre a qualidade da água. O pH da água deve ser medido e controlado a partir do conhecimento do pH ideal de trabalho, sendo que valores demasiadamente altos de pH podem acelerar a degradação do produto por hidrólise alcalina. Somado a isso, deve-se atentar para a dureza da água (quantidade de cálcio e magnésio), pois esta interfere negativamente na qualidade da calda. Por fim, a presença de ferro e alumínio na água pode reduzir a eficiência do princípio ativo (Vitória, 2020).
Ao fazer mistura de inseticidas com herbicidas e fungicidas, deve-se atentar principalmente para o tipo de formulação de cada produto, buscando evitar incompatibilidades e efeitos negativos na eficiência da aplicação. Abaixo temos a recomendação da ordem de preparação da calda de acordo com o tipo de formulação.
Figura 3. Recomendação da ordem de preparação da calda de acordo com o tipo de formulação dos defensivos agrícolas.
Fonte: TV UFBA. Confira a imagem original clicando aqui.
Portanto, para garantir uma calda de qualidade, alguns cuidados devem ser tomados como a manutenção da agitação dentro do tanque, conhecimento sobre os tipos de formulações, qualidade da água, controle do pH e ordem de preparação da calda. Com isso em mente, é possível ter uma maior eficiência no processo de pulverização e segurança do retorno de investimento feito nos produtos fitossanitários.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
GAZZIERO, D.L.P. Embrapa Soja. Misturas de Agrotióxicos em Tanque nas Propriedade. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 33, n. 1, p. 83-92, 2015. Disponível em https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125560/1/GAZZIERO-2015-Planta-Daninha.pdf
SOUZA, D.M. Faculdade Gammon. Formulações. 25 de Março de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iiVY5Jtc4KE&t=3359s
VITÓRIA, E.L. TV UFBA. Tecnologia de aplicação de Defensivos agrícolas. 29 de mai. de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=3_3wa3znuHQ