No cultivo de plantas de interesse agrícola e econômico, o controle de pragas, doenças e plantas daninhas é indispensável para evitar maiores perdas produtivas e qualitativas. Dentre os principais e mais utilizados métodos de controle, o controle químico prevalece em lavouras comerciais.
Como pragas, doenças e plantas daninhas podem ser concomitantemente observadas em áreas de produção agrícola, é comum observar a mistura de defensivos agrícolas (mistura de tanque), visando otimizar recursos e aumentar a eficiência operacional, reduzindo muitas vezes, a necessidade de aplicações isoladas.
Embora tecnicamente a prática não seja recomendada, Gazziero (2015) destaca que avaliando as práticas adotadas com relação a aplicação de defensivos agrícolas, 97% dos produtores questionados realizam a mistura de mais de um produto no tanque de pulverização.
Figura 1. Aplicação de defensivos agrícolas com relação a mistura ou não de mais de um produto por aplicação.
Embora operacionalmente a mistura de tanque proporcione benefícios, cabe destacar que por se tratara de diferentes produtos e formulações, algumas reações químicas e físicas podem ocorrer, refletindo em dificuldades de aplicação, principalmente por conta das incompatibilidades físicas e químicas entre produtos.
Como principais resultados da incompatibilidade física podemos destacar a precipitações, floculação e separação dos produtos. Já se tratando da incompatibilidade química, a dissociação iônica (pH baixo), hidrólise alcalina (pH alto) e inatividade por radicais nas moléculas dos produtos se destacam.
A incompatibilidade de defensivos agrícolas pode resultar em baixa eficiência de controle dos alvos, além de dificuldades de aplicação, tais como entupimento de pontas, bicos e decantação dos produtos. Visando reduzir esses efeitos, além da adequada agitação da calda, deve-se atentar para o preparo da mistura, buscando maior assertividade da ordem de adição dos produtos.
Conforme destacado por Gazziero et al. (2021), existem uma ordem adequada da adição de produtos visando minimizar os riscos de incompatibilidade física e química da calda de pulverização, sendo recomendado a seguinte ordem:
1 – Encha o tanque com água em até 2/3 do volume a ser aplicado;
2 – Inicie o processo de agitação e o mantenha até o final;
3 – Adicione os condicionadores de água (agentes sequestrantes, acidificantes e tamponantes), agentes redutores de deriva, agentes antiespumante e de compatibilidade (caso a adição seja necessária);
4 – Adicione os pós molháveis (WP);
5 – Adicione os produtos granulados, granulados dispersíveis em água (WG) e granulados solúveis em água (SG). É sempre recomendável a realização da pré-mistura indicada nas bulas;
6 – Adicione as suspensões concentradas (SC);
7 – Adicione as concentradas solúveis (SL);
8 – Adicione os concentrados emulsionáveis (EC);
9 – Adicione os demais adjuvantes (caso necessário);
10 – Adicione fertilizantes foliares (caso necessário);
11 – Adicione o restante da água necessária (Gazziero et al., 2021).
Antes da adição dos produtos no tanque de pulverização, recomenda-se a pré-testagem da calda de pulverização, a qual pode ser realizada mediante algumas metodologias, sendo uma delas, o “teste da jarra”. O teste da jarra consiste na realização da mistura em escala inferior, simulando a mistura de tanque para avaliar possíveis incompatibilidades.
Conforme destacado por Gazziero et al. (2021), para realizar o teste da jarra é necessário escolher um recipiente transparente e com tampa que apresente volume suficiente para preparar 1 litro de calda. Nesse recipiente, deve-se adicionar 2/3 do volume de água, utilizando preferencialmente a mesma água destinada ao preparo da calda para aplicação na lavoura.
Em seguida, deve-se adicionar os condicionadores de água e produtos na ordem recomendada anteriormente. Posteriormente, deve-se adicionar o restante de água necessária, os demais produtos, fechar recipiente e agitar bem. Por fim, deve-se deixar a mistura em repouso por duas horas e avaliar se há incompatibilidade física.
Figura 2. Exemplos de incompatibilidades demonstrados no teste da jarra. Da esquerda para a direita: floculação, decantação e espuma.
Caso seja observada incompatibilidade a exemplo da figura 2, deve-se alterar a ordem da mistura e repetir o processo, a fim de definir a melhor ordem para o preparo da calda. Conforme orientações técnicas, a condição da calda de pulverização previamente testada pode definir a necessidade ou não de agitação constante da calda, bem como aptidão ou não para aplicação.
Tabela 1. Estabilidade das misturas entre as diferentes classes de defensivos agrícolas.
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Referências:
GAZZIERO, D. L. P. et al. MANUAL TÉCNICO PARA SUBSIDIAR A MISTURA EM TANQUE DE AGROTÓXICOS E AFINS. Embrapa, Documentos, n. 437, 2021. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1132371/1/DOCUMENTOS-437-1.pdf >, acesso em: 11/04/2022.
GAZZIERO, D. L. P. MISTURAS DE AGROTÓXICOS EM TANQUE NAS PROPRIEDADES AGRÍCOLAS DO BRASIL. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 33, n. 1, p. 83-92, 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/ZWy9dmvvYsbHqbJ7C3fFF3D/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 11/04/2022.
PETTER, F. A. et al. INCOMPATIBILIDADE FÍSICA DE MISTURAS ENTRE HERBICIDAS E INSETICIDAS. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 30, n. 2, p. 449-457, 2012. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/x7yXFQpfxM69Pdyjdb3NTFF/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 11/04/2022.