A Embrapa e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) desenvolveram o Monitora Oeste, um sistema digital que envia ao celular alertas sobre o avanço de doenças como a ferrugem asiática e a mancha de ramulária, que atacam lavouras de algodão e soja, nas propriedades rurais do oeste baiano.
Agressivas, as enfermidades impactam a produtividade das propriedades agrícolas provocando perdas estimadas em 30%, na cotonicultura, e de até 80%, na sojicultura. Desenvolvida ao longo de dois anos, a tecnologia está disponível para navegação gratuita em smartphone (Android e IOS) e em plataforma web. Ao cadastrar-se, o usuário passa a receber informações sobre os focos e as condições climáticas favoráveis para a proliferação das doenças e para a dispersão dos esporos na região.
Dentro do aplicativo, o usuário encontrará sete funcionalidades: ocorrências e alertas; gráfico de ocorrências; mapa de ocorrências; armadilhas; mapa de armadilhas; favorabilidade e agrometeorologia. A tecnologia possibilita a aplicação de filtros, como espécie (doença), municípios, núcleos regionais e safra. A versão para Web traz ainda mais recursos, como o tipo de área em que a ocorrência foi registrada, a sobreposição de camadas e a geração e exportação de mapas em alta resolução.
Para o pesquisador da Embrapa Territorial Julio Bogiani, líder da equipe que desenvolveu o produto, o Monitora Oeste permitirá elevar a eficiência de controle das doenças, com a possibilidade de redução de custos e de impacto ambiental pelo menor número de aplicações de defensivos agrícolas. Ele explica que, atualmente, as aplicações dos fungicidas são calendarizadas. Em cada safra, são realizadas de oito a dez aplicações, com intervalos de 15 dias, período de duração residual do fungicida. “O sistema dá aos produtores as melhores condições para a tomada de decisão de abrir mão ou de utilizar os defensivos agrícolas na época certa e na dose correta. Com o direcionamento dos seus gastos, eles alcançarão uma economia muito boa”, afirma o cientista.
A Abapa levará a tecnologia aos seus associados. Na visão de Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da associação, o Monitora Oeste possui os elementos necessários para o incremento da produtividade do agricultor baiano. “A mancha de ramulária e a ferrugem da soja são potencialmente devastadoras, quando fora de controle, e de rápida disseminação. Ter a informação precisa e atualizada permite traçar estratégias mais eficazes de controle, com sustentabilidade. Isso traz maior rentabilidade e se alinha à nossa busca diária por sustentabilidade econômica, ambiental e social”, disse.
O app e o WebGIS
No WebGIS o usuário encontrará mais filtros de pesquisa, como estádio (fase de vida da planta) e tipo de área onde se levantou o dado (área comercial, de experimento, de pesquisa ou manejadas por empresas ou por instituições de pesquisa). Poderá ainda identificar se os dados provêm da coleta de plantas voluntárias (que nascem sem o manejo humano, seja no meio da estrada ou na lavoura). Pela plataforma Web, também há a possibilidade de baixar as imagens em alta resolução e realizar a sobreposição de camadas.
Os alertas emitidos pelo Monitora Oeste estão organizados em três níveis: ocorrências de doenças, condições climáticas favoráveis para as ocorrências e condições climáticas favoráveis para a dispersão de esporos no ar.
O primeiro nível mostra onde foram identificadas plantas infectadas. Os dados são expressos em mapas e gráficos. O levantamento das informações em campo segue o método tradicional de observação, com o monitoramento realizado por uma rede de colaboradores já atuante na região. As equipes são formadas por produtores locais, técnicos da Abapa, da Embrapa e de parceiros, que percorrem as lavouras dos municípios e dos núcleos regionais do oeste baiano, e verificam se há a presença de doenças nas plantas.
Os núcleos regionais foram criados pela Abapa em seu programa fitossanitário. São zonas produtivas delimitadas com o intuito de facilitar o trabalho de monitoramento das lavouras, tendo em vista a vasta extensão dos municípios do oeste baiano. Cada um dos 16 núcleos possui uma equipe própria responsável por rondar as propriedades agrícolas. Ao identificar focos das doenças, eles fazem o registro e lançam no sistema, chegando ao celular do usuário instantaneamente.
Essa celeridade é um dos diferenciais do Monitora Oeste, ressalta Antônio Carlos, responsável pelo programa fitossanitário da Abapa. “O produtor precisa ser informado acerca dos problemas que ocorrem nas suas propriedades, em tempo hábil, seja no caso de ocorrência de pragas, doenças ou incidência de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, entre outros eventos percebidos na lavoura”, afirma.
Como observa Bogiani, um número significativo de notificações de ocorrências nas proximidades das plantações são sinais da iminência de um enfrentamento. De posse dessas informações, os agricultores do núcleo regional podem planejar ações sincronizadas de defesa.
Além da Abapa e da Embrapa, a rede de colaboradores é formada por profissionais da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), da Fundação Bahia, da Associação de Agricultores Irrigantes da Bahia (Aiba) e de algumas consultorias. A cada ano, a equipe receberá capacitações pela Embrapa no uso do sistema.
Os outros alertas
Outro nível de alerta enviado pelo Monitora Oeste aponta se as condições climáticas estão favoráveis para o surgimento e para o desenvolvimento das doenças. O filtro “favorabilidade” mostra sobre o mapa se existe alto ou baixo risco de proliferação dos agentes causadores da mancha de ramulária e da ferrugem asiática pelas plantações de acordo com as condições do clima. Para esse nível de alerta, o aplicativo utiliza o banco de dados das estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com atualização diária e em tempo real.
O fitopatologista da Embrapa Algodão Fabiano Perina explica que há dois fatores ambientais relevantes para a infecção dos fungos: umidade e molhamento das folhas. Mas, ele ressalta, para que os esporos obtenham sucesso na dispersão pela região, é necessário haver tempo seco. Ele destaca que essas condições climáticas são encontradas no Cerrado baiano, com dias mais secos e noites úmidas.
O sistema também reúne dados da presença de esporos na região a partir de 44 armadilhas georreferenciadas, distribuídas pelos núcleos regionais. Quanto mais pontos de coletas, maior a precisão das informações, explica Perina.
Semanalmente, uma equipe coleta as lâminas das armadilhas e levam-nas ao laboratório para análise. Perina classifica como proativo esse monitoramento e destaca a relevância dessa informação para o produtor. “Essas partículas caem na lavoura e, se houver condições favoráveis, elas podem germinar e infectar a planta”, explica.
Dentro do sistema, os mapas das armadilhas são sobrepostos ao mapa da favorabilidade climática, facilitando ao usuário compreender o risco de disseminação.
Índices agrometeorológicos
Além dos dados de alerta, o Monitora Oeste traz vários índices agrometeorológicos da região: albedo, biomassa, NDVI, evapotranspiração e produtividade da água. O produtor poderá fazer cruzamentos de camadas para obter informações estratégicas de seu talhão. Essas buscas podem ser salvas na ferramenta, gerar um banco de dados capaz de revelar a dinâmica temporal da produtividade do terreno ao longo das safras. “São funcionalidades que terão uma rica informação agregada futuramente”, acredita Bogiani. O sistema também poderá incluir futuramente informações complementares, como vazio sanitário da cultura, dados do consórcio de ferrugem, eficiência de fungicidas, entre outros.
Fonte: Embrapa