É conhecido que para a obtenção de altas produtividades é necessário além da escolha e posicionamento da cultivar, um adequando manejo do sistema produtivo, visando proporcionar condições adequadas para o crescimento e desenvolvimento vegetal, além de reduzir as perdas ocasionadas por pragas, doenças e plantas daninhas. Contudo, além de investir em um adequado sistema produtivo e manejo da lavoura, é necessário atentar para o período pós-colheita onde é possível observar significativas perdas produtivas.

Em virtude da infraestrutura do país, boa parte da produção de grãos passa por algum momento pelo transporte rodoviário, esse, considerado mais rápido e dinâmico em relação ao transporte fluvial e ferroviário, principalmente se tratando do escoamento da produção das lavouras. Entretanto, cabe destacar que infelizmente, a maior parte das rodovias brasileiras ainda não é pavimentada, o que prejudica o transporte rodoviário, sendo possível observar uma drástica diferença na densidade da malha rodoviária pavimentada (km/1.000 km2) em comparação a outros países.

Figura 1. Densidade da malha rodoviária pavimentada por país (km/1.000 km²).

Fonte: Atlas CNT do Transporte, Sistema Rodoviário

Conforme observado por Péra (2017), avaliando as perdas logísticas de soja e milho no Brasil, após as perdas por armazenamento, o transporte rodoviário representa a maior perda de grãos com 13,3%, seguido pelo terminal portuário com 9,0%, o transporte multimodal ferroviário com 8,8% e o transporte multimodal hidroviário com 1,7%.



Dentre os principais fatores influenciadores da elevada perda de grãos pelo transporte rodoviário podemos destacar as péssimas condições das estradas brasileiras, incluindo  estradas rurais, rodovias  municipais,  estaduais e federais. Conforme Tsiloufas et al. (2011, apud Constabile, 2017), as perdas de produção durante o transporte rodoviário podem variar de 5% a 20% do volume de grãos produzidos no país. Além da baixa qualidade das estradas e rodovias, carrocerias inadequadas, depreciadas e sucateadas contribuem significativamente para o aumento das perdas da produção ao longo do transporte.

Figura 2. Perda de grãos durante o transporte rodoviário.

Fonte: Agência Goiana de Defesa-Agropecuária (2017)

Evidenciando a importância da qualidade do transporte rodoviário, resultados obtidos por Constabile (2017), avaliando as perdas no transporte rodoviário de uma transportadora de grãos, demonstram que no ano de 2013 de 440.000 toneladas de grãos transportados 5,92% da produção foi perdida durante o transporte, o equivalente a 26.051 toneladas (Laconski et al., 2021).

A exemplo, levando em consideração a perda média de 5% da produção durante o transporte rodoviário, em uma área cuja produtividade média é de 50 sc.ha-1, a perda durante o transporte resultaria em 2,5 sc.ha-1, ou seja, considerando um preço médio da saca de soja de 159,80 (05/11/2021 – INDICADOR DA SOJA CEPEA/ESALQ – PARANÁ), essa perda de produção durante o transporte pode resultar em uma redução da lucratividade de quase R$ 400,00.ha-1.

Tendo em vista a elevada perda de produção durante o processo de transporte dos grãos e o impacto econômico negativo que isso pode causar ao agricultor, analisar o sistema produtivo do ponto de vista final (colheita e transporte) é essencial para reduzir as perdas produtivas e aumentar a rentabilidade das culturas, garantindo que a produção do campo não seja perdida nas estradas e rodovias brasileiras.


Veja mais: Perdas de colheita – possíveis problemas x soluções


Referências:

AGÊNCIA GOIANA DE DEFESA-AGROPECUÁRIA: GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS. AGRODEFESA INTENSIFICA AS FISCALIZAÇÕES DO TRANSPORTE DE GRÃOS DE SOJA, 2017. Disponível em: < https://www.agrodefesa.go.gov.br/noticias/137-agrodefesa-intensifica-as-fiscalizacoes-do-transporte-de-graos-de-soja.html >, acesso em: 08/11/2021.

ATLAS CNT DO TRANSPORTE. SISTEMA RODOVIÁRIO, 2° edição. Disponível em: < https://atlas.cnt.org.br/ >, acesso em: 08/11/2021.

CEPEA, ESALQ. INDICADOR DA SOJA CEPEA/ESALQ – PARANÁ, 2021. Disponível em: < https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/soja.aspx >, acesso em: 08/11/2021.

CONSTABILE, L. T. ESTUDO SOBRE AS PERDAS DE GRÃOS NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA. Tese de Doutorado, Universidade Paulista, 2017. Disponível em: < https://repositorio.unip.br/dissertacoes-teses-programa-de-pos-graduacao-stricto-sensu-em-engenharia-de-producao/estudo-sobre-as-perdas-de-graos-na-colheita-e-pos-colheita/ >, acesso em: 08/11/2021.

LACONSKI, J. M. O. et al. PERDAS DE GRÃOS NA CADEIA LOGÍSTICA DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO. Rev. Agr. Acad., v. 4, n. 1, Jan/Fev, 2021. Disponível em: < https://agrariacad.com/wp-content/uploads/2021/03/Rev-Agr-Acad-v4-n1-2021-p91-104-Perdas-de-graos-na-cadeia-logistica-do-transporte-rodoviario.pdf >, acesso em: 08/11/2021.

PORTAL DA USP, JORNAL DA USP. PESQUISA QUANTIFICA PERDAS LOGÍSTICAS DE SOJA E MILHO NO BRASIL, 2017. Disponível em: < https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-agrarias/pesquisa-quantifica-perdas-logisticas-de-soja-e-milho-no-brasil/ >, acesso em: 08/11/2021.

TSILOUFAS,   S.   P. et al. SOLUÇÃO PARA PERDA DE GRÃOS NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO: SISTEMA DE  ENLONAMENTO  AUTOMATIZADO. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Universidade de Tecnologia de Delft,17p., 2011.

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