Os altos rendimentos de grãos estão diretamente relacionados ao bom manejo do solo. O diagnóstico da estrutura do solo precisa considerar profundidade das raízes, infiltração de água, estruturação e compactação. As orientações foram repassadas para os produtores durante um treinamento realizado em Entre Rios do Sul, RS, nesta quinta-feira (10/12), sediado na propriedade do produtor Irineu Verseletti, reunindo pesquisa e extensão rural, através da Emater/RS-Ascar e Embrapa Trigo.
Em quatro trincheiras abertas na área, os participantes puderam avaliar, num primeiro momento, características físicas e biológicas do talhão. Foram avaliados o crescimento radicular da soja, implantada no final de outubro, e identificação de camadas de compactação no perfil do solo. Também foram coletadas amostras de solo de 5 em 5 cm até 40 cm de profundidade para avaliar aspectos relacionados à química do solo, principalmente se há alta concentração de Matéria Orgânica e macronutrientes nos primeiros 10 cm daquele solo.
As orientações foram repassadas pela equipe da Embrapa Trigo, composta pelos engenheiros agrônomos Jorge Lemainski, André do Amaral e Marcelo Klein. “A partir das informações sobre física e química do solo o produtor pode adotar um manejo voltado para a rentabilidade e produtividade da lavoura”, garantiu Lemainski. No entanto, ele chamou atenção para um conjunto de práticas, começando pelo acompanhamento do desenvolvimento das plantas para fazer o diagnóstico: “Numa noite de chuva intensa, o produtor já deve amanhecer na lavoura para avaliar a infiltração de água no solo. Caso a enxurrada esteja causando escoamento superficial, é porque a água não está infiltrando no solo. A abertura de uma trincheira vai ajudar a entender o que está acontecendo naquela lavoura”. Ele citou, como exemplo, uma lavoura de soja com solo compactado, cujo rendimento foi de 29,5 sacas por hectares e outra, com solo descompactado, que resultou em 62 sacas/ha. “Quase o dobro do rendimento, sendo a única diferença a compactação do solo”, ponderou.
O engenheiro agrônomo Marcelo Klein reforçou os cuidados com a conservação do solo, observando que a cobertura com palha ajuda a manter a umidade, mas é a raiz que vai promover a descompactação e permitir à planta acessar o reservatório da água nas camadas mais profundas do solo.
Outro fator determinante para garantir o êxito das lavouras é a taxa de infiltração de água no solo. O pesquisador André Amaral utilizou um equipamento chamado de penetromêtro para demonstrar o quanto de água da chuva infiltra e o quanto escorre devido as enxurradas. Na prática foi simulada chuvas de intensidade de 300 mm por hora, onde a taxa de infiltração chegou a 72%. “Essa taxa de infiltração demonstra um solo de boa qualidade, mas sempre podemos melhorar, já que o escorrimento superficial da água da chuva, ou seja, a água que não infiltrou, pode causar erosão na lavoura”, explica André.
Rotação de culturas faz parte do investimento
Na propriedade de Irineu Verseletti são 100 hectares destinados à produção de grãos, em Entre Rios do Sul, RS. Por quase quatro décadas, o produtor investiu na rotação soja e milho no verão, e aveia de cobertura no inverno. Com as frequentes frustrações com o milho, a rotação ficou restrita à aveia preta e à soja. “Sempre conseguimos formar boa palhada no inverno, mas como a cobertura de aveia não contava com adubação não formava raízes, comprometendo a infiltração da chuva no solo. Então passamos a investir no sorgo a cada dois anos apenas para estruturação do solo, e no trigo no inverno para cobertura e raízes, além de uma renda adicional com a colheita de grãos”, conta o produtor que, na última safra, chegou aos 72 sacos de soja por hectare e a 56 sacos de trigo.
O extensionista da Emater/RS-Ascar, Ernani Schneider, comemorou a troca de conhecimentos durante o treinamento em solos, que reuniu 30 participantes: “Neste tipo de interação o produtor vê que é possível fazer melhor na sua lavoura, sem maiores investimentos, utilizando apenas o conhecimento. O treinamento permitiu que cada participante fizesse na prática a abertura da trincheira, o diagnóstico do solo e a retirada da amostra com subsídios que vão orientar a tomada de decisão. Agora ele pode repetir as práticas para avaliar o solo na sua lavoura”.
Participaram do evento, o prefeito de Entre Rios do Sul, Jairo Leyter; o presidente da Câmara de Vereadores, Jandir Zuravski; o Chefe-Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski; o secretário municipal da Agricultura de Entre Rios do Sul, Dejacir Czarnobay; o secretário municipal da Agricultura de São Valentim, Arnaldo Roberto Putrick; o gerente adjunto do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar, Cezar da Rosa; e o produtor Irineu Verseletti. A atividade também foi acompanhada pela equipe do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar integrada pelos extensionsitas Ernani Schneider, Gabrielle Pellin e Fernanda Tacca Angonese.
Fonte: Embrapa Trigo – Colaboração Terezinha Vilk, Jornalista da Emater/RS-Ascar
Foto de capa: Joseani Antunes