A biotecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) foi um marco na agricultura, contribuindo expressivamente para o manejo de pragas. Os genes Bt são inseridos geneticamente em algumas das principais culturas agrícolas como, milho, possibilitando o controle das principais pragas que acometem a lavoura, especialmente lagartas.
O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria Gram positiva, que pode ser caracterizada pela sua habilidade de formar cristais proteicos durante a fase estacionária e/ou de esporulação. O mecanismo de ação das proteínas Cry de Bt envolvem a solubilização do cristal no intestino médio do inseto, causando sua morte (Carneiro et al., 2009).
Figura 1. Esquema da ação das toxinas Bt no intestino médio de insetos suscetíveis.

Para a manutenção da eficácia da tecnologia Bt, alguns cuidados são necessários, evitando a seleção de indivíduos resistentes e a perda de funcionalidade Bt. A principal estratégia adotada com esse intuito, envolve o cultivo de áreas de refúgio. As áreas de refúgio, consistem em áreas cultivadas sem a tecnologia Bt, que permitem a multiplicação de pragas entre áreas (Bt e não Bt), resultando em indivíduos suscetíveis a tecnológica e facilmente controlados por ela.
Figura 2. Representação esquemática da estratégia de alta dose e refúgio.

As áreas de refúgio devem ser cuidadosamente planejadas no sistema de produção, atendendo alguns requisitos básicos, como tamanho correspondente a 10% da área cultivada de milho, as áreas de refúgio devem ser semeadas com híbridos ou variedades não Bt, o ciclo da variedade ou híbrido semeado no refúgio deve ser similar ou mais próximo possível a cultura Bt, e deve ser semeado ao mesmo tempo das áreas Bt. Além disso, o refúgio deve ser formado por um bloco de plantas não Bt, que se encontra a menos de 800 metros da área de cultivo Bt, sendo 800 metros a distância máxima entre qualquer planta Bt e uma planta da área de refúgio.
Figura 3. Opções de configurações de áreas de refúgio.

Sobretudo, embora muitas vezes o manejo de insetos seja focado nas áreas Bt, as áreas de refúgio também devem receber cuidados para o controle das pragas. Conforme recomendações técnicas, o manejo de insetos em áreas de refúgio deve seguir as orientações dos fornecedores das sementes quanto ao limite de pulverizações foliares para o controle de pragas, devendo-se não exceder duas pulverizações de inseticidas em áreas de refúgio, as quais deverão ser realizadas até o estádio V6 (IRAC-BR, 2018). É importante enfatizar que, se tratando do controle de lagartas como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) em áreas de refúgio, o nível de ação pré-estabelecido para o controle deve ser considerado, atuando de forma eficaz, ao atingir os níveis de controle.
Tabela 1. Nível de ação para o controle de lagartas em milho Bt e áreas de refúgio, com foco no controle da lagarta lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).

Além disso, visando o manejo da resistência de pragas a inseticidas, boas práticas como a rotação de culturas, a eliminação de plantas voluntárias (tiguera) e a rotação de inseticidas com diferentes modos de ação são determinante para a manutenção da eficiência dos inseticidas. Não menos importante, visando um controle químico eficiente no milho refúgio, é essencial adotar janelas de aplicação de inseticidas, realizando aplicações somente quando a densidade populacional da praga atingir o nível de controle, dando preferência por inseticidas seletivos a inimigos naturais, e inserindo no programa de aplicações, inseticidas de distintos modos de ação, a exemplo de inseticidas fisiológicos como o Fiera.
Figura 4. Orientações para o manejo da resistência de lagartas em milho Bt, milho não-Bt e áreas de refúgio.

Também é importante não repetir a mesma mistura pronta de inseticidas. Caso for utilizada uma mistura, recomenda-se não utilizar inseticidas que apresentem o mesmo mecanismo de ação na próxima janela ou em rotação. Além disso, deve-se evitar inseticidas para os quais há casos comprovados recentemente de resistência na região do cultivo (IRAC-BR, 2018).
Essas orientações constituem algumas das principais e mais importantes estratégias de manejo para um controle pragas em milho Bt e áreas de refúgio, sendo portanto, essenciais para a manutenção da eficácia da tecnologia Bt e para um controle efetivo de pragas em milho.
Referências:
BERNARDI, O. et al. MANEJO DA RESISTÊNCIA DE INSETOS A PLANTAS Bt. PROMIP: Manejo Integrado de Pragas, 2016. Disponível em: < http://www.aenda.org.br/wp-content/uploads/2020/04/anexo-cir1274-manual_promip_manejo-da-resistencia-de-insetos-a-plantas.pdf >, acesso em: 19/12/2025.
IRAC-BR. MANEJO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS E PLANTAS Bt: Spodoptera frugiperda; Helicoverpa armigera; Chrysodeixis includens. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas Brasil, 2018. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/2bed6c_029627fdae5a499ca06c3eb4cb2fba0a.pdf >, acesso em: 19/12/2025.
LOGUERCIO, L. L.; CARNEIRO, N. P.; CARNEIRO, A. A. MILHO Bt.: ALTERNATIVA BIOTECNOLÓGICA PARA CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS-PRAGA. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, n. 24, 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/50711/1/milho-bt.pdf >, acesso em: 19/12/2025.




