
Estudar a interação entre pontas hidráulicas e nematoides entomopatogênicos visando uma alternativa operacional para o manejo fitossanitário, analisando a viabilidade do nematoide após aplicação foi o objetivo deste trabalho.
AUTORES:
Eng. Agr. e Professor Cleyton B. Alvarenga, no Instituto de Ciências Agrárias, UFU, Monte Carmelo/MG – Brasil;
Eng. Agr. Felipe A. Machado, Instituto de Ciências Agrárias, UFU, Monte Carmelo/MG – Brasil;
Eng. Agrônoma e Professora Vanessa Andaló, Instituto de Ciências Agrárias, UFU, Monte Carmelo/MG – Brasil;
Eng. Agr., Doutorando Renan Zampiroli, Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFU, Uberlândia/MG – Brasil;
Eng. Agrônoma Jéssica Mieko, Instituto de Ciências Agrárias, UFU, Uberlândia/MG – Brasil;
Biologo Lucas S. Faria, Instituto de Ciências Agrárias, UFU, Monte Carmelo/MG – Brasil;
Eng. Agr., Mestrando Gustavo S. M. Mindim, Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFU, Uberlândia/MG – BrasilGustavo S. M. Mindim
INTRODUÇÃO
A aplicação dos nematoides via pulverização hidráulica já foi relatada em trabalhos realizados por Bellini e Dolinski (2012); Leite et al. (2012), porém, o efeito da interação dos nematoides com diferentes pontas hidráulicas ainda não foi estudado.
As pontas de pulverização e os pulverizadores são dispositivos que poderão interferir no resultado de trabalhos visando a aplicação de entomopatógenos; por exemplo, não se tem estudos comparando a pulverização terrestre com a aérea, a hidráulica, hidropneumática, pneumática ou eletrostática e seus efeitos em organismos vivos presentes na calda, preocupação manifestada também no trabalho de Brusselman et al. (2012).
Alguns estudos, por exemplo, os conduzidos por Schroer et al. (2005), indicam que é possível a substituição do controle químico por Steinernema carpocapsae e Steinernema feltiae, para o controle de Plutella xylostella, em repolho.
O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de estudar a interação entre pontas hidráulicas e nematoides entomopatogênicos visando uma alternativa operacional para o manejo fitossanitário, analisando a viabilidade do nematoide após aplicação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas dependências do Laboratório de Entomologia (LABEN) e de Máquinas e Mecanização (LAMM), vinculados ao Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia, Campus Monte Carmelo. A aplicação foi realizada em ambiente controlado com temperatura média de 25 ºC, umidade relativa média de 60% e ausência de vento.
A aplicação foi realizada utilizando uma mesa de uniformidade de distribuição com barra contendo três porta-bicos, espaçados de 0,5 metros. A pressão de trabalho foi de 400 kPa, para todas as pontas. O pulverizador foi acionado por uma bomba centrífuga, com vazão de 50 L min-1, marca KSB, modelo Hidroblc P 1000. Em um conjunto de 10 pontas, seis foram sorteadas e, posicionadas na barra. O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos; sendo 3 pontas hidráulicas distintas e três testes controle (amostragem direta no reservatório), com seis repetições, analisadas uma a uma.
A calda de aplicação foi composta por suspensão aquosa do nematoide Heterorhabditis amazonensis MC01 na concentração de 400 juvenis infectantes (JI) mL-1, em um depósito de 30 litros, metodologia adaptada de Brusselman et al. (2012). A água utilizada foi proveniente de poço artesiano, sem tratamento, objetivando a reprodução das condições de campo.
Como tratamento controle, após cinco minutos com o sistema hidráulico em funcionamento, com toda a calda retornando para o depósito, retirou-se uma amostra de 2 mL, sendo 1 mL para verificação da viabilidade dos JI e 1 mL para o teste de infectividade sobre larvas de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae). Este é um inseto que ataca grãos armazenados comumente utilizado para testes de patogenicidade, por ser de fácil criação e multiplicação e ter uma dieta de baixo custo.
O teste de viabilidade teve como objetivo verificar a sobrevivência dos JI após circularem pelo retorno, enquanto o de infectividade teve o propósito de verificar a capacidade do JI em penetrar e se multiplicar no inseto. A amostragem da calda no reservatório foi realizada no início do experimento, seis e nove horas após, constituindo-se como tratamentos controle do processo, com a finalidade de checar a condição dos nematoides no depósito.
Após o início da aplicação e a estabilização da vazão da ponta, 30 segundos depois de acionada a bomba, também foi coletado uma amostra da calda de pelo menos 2 mL, para a realização dos testes de viabilidade e infectividade. Para o teste de viabilidade foram utilizadas placas sorológicas do tipo Elisa contendo 96 poços, onde se adicionou 0,1 mL de suspensão em cada poço, totalizando 10 poços.
Com auxílio de um microscópio estereoscópio foi feita a contagem do número de nematoides vivos e mortos em cada poço, desta forma, obteve-se a porcentagem de JI vivos em um mililitro da suspensão pulverizada. Para o teste de infectividade a suspensão de JI foi pulverizada em placa de Petri (9 cm de diâmetro) contendo duas folhas de papel filtro e quatro larvas de T. molitor.
As placas foram acondicionadas em B.O.D. a 26 ± 1 ºC e fotofase de 12 h. A verificação da mortalidade das larvas foi realizada após cinco dias, confirmando por meio da sintomatologia para o gênero Heterorhabditis, metodologia adaptada de Nossidum et al. (2016). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e quando significativos para o teste “t”, foi aplicado o teste Scott-Knnot a 5% de probabilidade para comparação entre médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aplicação hidráulica afetou a sobrevivência do nematoide, porém, não apresentou efeito sobre a mortalidade da larva, indicando que mesmo após passar pelo sistema hidráulico o nematoide vivo mantem sua capacidade de infectar o inseto.
A passagem dos nematoides pela bomba centrifuga nos primeiros cinco minutos que corresponde ao tratamento “Teste 1”, apresentou a maior sobrevivência. Após nove horas de agitação observou-se que a taxa de sobrevivência reduziu, porém, ainda permanecia em um patamar elevado, conforme tratamento “Teste 3” (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito da interação entre o uso de pontas hidráulicas na sobrevivência e infectividade do nematoide Heterorhabditis amazonensis MC01 a Tenebrio molitor

A passagem dos nematoides pela bomba de pulverização e retorno ao tanque, não teve grandes efeitos na sobrevivência do nematoide pois apresentaram 98,6, 95,7 e 92,7% de sobrevivência, nos tratamentos controle “Teste 1, 2 e 3”, respectivamente. A maior diferença na sobrevivência entre pontas foi de 5,1%, entre as pontas AXI 110-03 e GAT 110-03.
A movimentação da calda no interior da ponta afetou sua sobrevivência, indicando que o contato com as partes internas da ponta e a passagem pelo orifício de saída foi menos danoso para a ponta GAT, ao passo que a ponta AXI promoveu menor sobrevivência devido a sua configuração interna.
Os nematoides que sobreviveram ao sistema hidráulico, mantiveram sua capacidade infectiva, sendo capazes de causar a mortalidade da larva em no mínimo 83,3%, este percentual é considerado muito bom, considerando o ganho operacional obtido com a liberação dos nematoides utilizando pulverizadores hidráulicos, em comparação a outros métodos de liberação, como por exemplo, o método manual de larvas infectadas.
Para Nossidum et al. (2016), a sobrevivência dos nematóides é dependente dentre outros fatores; do método de aplicação, condições meteorológicas, hábitos do nematóide, inseto hospedeiro, entre outras. Em condições de campo, o efeito do sistema hidráulico pode ser ampliado, em função das dificuldades maiores que o nematoide deverá ter para localizar o inseto e, por aumentar a quantidade de filtros presentes nos pulverizadores corroborando Alvarenga et al. (2018).
CONCLUSÕES
Há relação entre os nematoides e pontas hidráulicas de pulverização. Os nematoides vivos mantêm sua capacidade infectiva. A aplicação do nematoide via pulverização é uma alternativa operacionalmente vantajosa ao produtor.
AGRADECIMENTO
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e, às empresas Jacto agrícola, Magnojet e Pentair/Hypro pelo apoio para a realização deste trabalho.
REFERÊNCIAS
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Fonte: Apresentado no IX SINTAG – Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos