Uma das principais fontes limitantes da produtividade de uma cultura agrícola é a fertilidade do solo. A baixa disponibilidade de um nutriente pode limitar a produtividade da planta, mesmo que se tenha altas quantidade de os outros nutrientes no solo, fato esse conhecido como “Lei do mínimo”

Veja também: A Lei de Liebig (ou Lei do mínimo) e a produtividade das lavouras

Em meio as práticas convencionais de correção e manutenção da fertilidade do solo, o gesso agrícola (sulfato de cálcio) mostra-se como uma forte ferramenta na “construção da fertilidade do solo” especialmente em áreas de cerrado, onde a baixa fertilidade e acidez do solo são comumente encontradas (EMBRAPA).

Uma das características interessantes do gesso agrícola é que quando comparado ao calcário, ele apresenta maior mobilidade no solo. Segundo SOUZA; LOBATO; REIN, (2005), quando aplicado o gesso agrícola em solos onde já foi realizada a calagem em profundidades até a camada arável, o gesso agrícola tende a se movimentar para as camadas mais profundas do solo, carregando consigo cátions de Cálcio. Dessa forma, os níveis de Cálcio tendem a aumentar nas camadas mais profundas do perfil do solo e por consequência a acidez nessas camadas tende a diminuir, proporcionando melhores condições para o crescimento e desenvolvimento de raízes.

Com um ambiente favorável ao desenvolvimento radicular, é possível uma melhor distribuição das raízes (figura 1) e consequentemente maior volume de solo explorado. Com isso, tende-se a aumentar o aproveitamento e assimilação de nutrientes do solo, além de elevar os níveis de tolerância a déficits hídricos.

Figura 1. Distribuição de raízes de milho no perfil do solo sem e com a utilização do gesso agrícola.

Fonte: SOUZA; LOBATO; REIN, (2005).

SOUZA; LOBATO; REIN, (2005), ainda avaliaram o desempenho produtivo de Milho, Trigo e Soja submetidos a veranico no período de floração das culturas e encontraram resultados que demonstram a potencial contribuição que o uso do gesso agrícola traz ao sistema de produção (figura 2).

Figura 2. Produtividade de Milho, Trigo e Soja, (t.ha-1) submetidos a veranico no período de floração das culturas, com e sem a utilização do gesso agrícola.

Fonte: SOUZA; LOBATO; REIN, (2005).

A contribuição do gesso agrícola na produtividade de culturas também foi observada por ASCARI & MENDES (2017), onde a resposta da produtividade da soja em função de diferentes doses de gesso agrícola foi avaliada (figura 3).

Figura 3. Produtividade de soja em função de diferentes doses de gesso agrícola.

Fonte: ASCARI & MENDES (2017).

As melhores respostas obtidas pelos autores apontam para maiores produtividades quando utilizados cerca de 2000kg.ha-1 de gesso agrícola. Contudo cabe destacar que conforme observado por FILHO et al. (2016) o efeito desempenhado pelo gesso agrícola é principalmente condicionante, ou seja, proporciona melhores condições ao desenvolvimento radicular e seus efeitos na produtividade das culturas podem ser observados a longo prazo. Conforme observado pelos autores, avaliando a “Influencia de doses de gesso agrícola sobre a produtividade do trigo”, efeitos diretos da utilização do gesso agrícola a curto prazo podem não ser significativos para o aumento da produtividade da cultura.

Dentre os principais benefícios da utilização do gesso agrícola, destaca-se a capacidade do insumo em se movimentar no solo, fazendo do gesso agrícola uma interessante alternativa para correção da acidez do solo em camadas mais profundas de áreas com plantio direto já consolidado, onde não se há intenção de revolver o solo. Além disso o gesso agrícola se mostra uma importante fonte de Cálcio e Magnésio, sendo uma interessante alternativa para a adubação de solos carentes destes nutrientes.

Outro fato importante é que a partir da utilização do gesso agrícola, conforme citado anteriormente, melhores condições são fornecidas para o desenvolvimento radicular em maiores profundidades do perfil do solo, e com isso tende-se a aumentar a tolerância das culturas a pequenos períodos de déficit hídrico em virtude do maior desenvolvimento do sistema radicular e com isso maior exploração do solo e água disponível nas camadas mais profundas (figura 4).

Figura 4. Utilização relativa da lâmina de água disponível no perfil de um latossolo argiloso pela cultura do milho, após um veranico de 25 dias para tratamento sem e com a utilização de gesso agrícola.

Fonte: Fonte: SOUZA; LOBATO; REIN, (2005).

Cabe destacar que a utilização do gesso agrícola deve ser vista como um investimento a longo prazo na fertilidade do solo que pode trazer melhores condições para o desenvolvimento radicular e com isso o incremento da produtividade de culturas agrícolas. A utilização do gesso agrícola não substitui as demais formas de correção da fertilidade do solo e deve ser uma medida complementar na busca por altas produtividades, contribuindo para a construção sustentável da fertilidade do solo.

Referências:

ASCARI, J. P; MENDES, I. R. N. DESENVOLVIMENTO AGRONÔMICO E PRODUTIVIDADE DA SOJA SOB DIFERENTES DOSES DE GESSO AGRÍCOLA. Revista Agrogeoambiental, Pouso Alegre, v. 9, n. 4, dez. 2017.

EMBRAPA. USO DE GESSO AGRÍCOLA NA CULTURA DA SOJA EM SOLOS DA REGIÃO DO CERRADO. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/3845/uso-do-gesso-agricola-na-cultura-da-soja-em-solos-da-regiao-de-cerrado>, acesso em: 27/05/2020.

FILHO, E. S. et al. INFUÊNCIA DE DIFERENTES DOSES DE GESSO AGRÍCOLA SOBRE A PRODUTIVIDADE DA CULTURA DO TRIGO (Triticum sativum L.). Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, p. 442-449, 2016.

SOUZA, D. M. G; LOBATO, E; REIN, T. A. USO DE GESSO AGRÍCOLA NOS SOLOS DO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 32, 2005.

Sobre o autor: Maurício Siqueira dos Santos, Engenheiro Agrônomo formado pela UFSM. Atualmente Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da UFSM e Integrante da Equipe Mais Soja.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.