A matocompetição de plantas daninhas com a soja é um dos principais fatores responsáveis por reduzir a produtividade da cultura. Dependendo da espécie infestante, perdas de produtividade de até 21% podem ser observadas com apenas uma planta por metro quadrado, como é o caso do capim-amargoso (Digitaria insularis).
Nesse sentido, o controle eficiente de plantas daninhas é indispensável para a manutenção da produtividade da soja. No entanto, pensando em um manejo eficiente técnica e economicamente, é necessário compreender os períodos de interferência das comunidades de planta daninhas na cultura, bem como o grau de competição.
Embora seja consenso que estabelecer a cultura “no limpo” (sem a presença de plantas daninhas), é uma das principais estratégias para o bom crescimento e desenvolvimento inicial da soja, há um período em que, teoricamente, a soja e as plantas daninhas podem conviver de forma conjunta durante o início do desenvolvimento da cultura, sem que danos expressivos à produtividade e/ou qualidade da cultura sejam observados em função da matocompetição. Esse período é conhecido como período anterior a interferência (PAI).
Em tese, o PAI, é o período em que o meio é capaz de fornecer os recursos de crescimento necessários à comunidade infestante e à cultura, sem que perdas expressivas de produtividade sejam observadas. De acordo com Silva et al. (2009), com a introdução da soja resistente ao glyphosate, o PAI passou a ter importância prática muito maior, pois possibilita a utilização mais correta do herbicida em pós-emergência, visto que este atuará independentemente do estádio de desenvolvimento da planta daninha, permitindo a sua eliminação no momento desejado.
Em termos de manejo de plantas daninhas, o PAI torna-se o período de maior importância, a partir do qual a produtividade é significativamente afetada. Sendo assim, conhecer esse período para definir estratégias de manejo no controle de plantas daninhas é indispensável para ajustar práticas de controle, visando reduzir as perdas de produtividade.
Vale destacar que o PAI varia de acordo com a densidade populacional e espécie da planta daninha infestante, no entanto, dificilmente ultrapassa 20 dias considerando 5% de perda de produtividade na soja. Para condições de baixa infestação de plantas daninhas, considerando 5% e 10% de perdas de produtividade, Silva et al. (2009) obtiveram resultados que demonstram que, o PAI em soja é de respectivamente 17 e 24 dias para esses níveis de perda de produtividade.
Corroborando esses resultados, Piazentine (2021), avaliando os períodos de interferência do capim-amargoso em soja, observou que, para a redução tolerável de 5% e 10% na produtividade da cultura da soja, o PAI foi de respectivamente 9 e 37 DAS (dias após semeadura), resultados similares também foram encontrados por Zandoná et al. (2018).
Figura 1. Produtividade de grãos de soja, ‘TMG 7063 IPRO’, em função dos períodos de interferência das plantas daninhas, com a estimativa do período anterior à interferência (PAI).
Em suma, quanto maior a tolerância da perda de produtividade, maior o PAI, independentemente da espécie de planta daninha. No entanto, pensando na manutenção do potencial produtividade da soja, é essencial trabalhar com níveis baixos de tolerância à perda de produtividade, em especial se tratando de espécies com elevada habilidade competitiva como o capim-amargoso. Lembrando que, o estabelecimento da cultura “no limpo” ainda é uma das melhores estratégias de manejo para reduzir a matocompetição em soja.
Referências:
PIAZENTINE, A. E. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DO CAPIM-AMARGOSO NA CULTURA DA SOJA E DO MILHO. UNESP, Dissertação de Mestrado, 2021. Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/bb6e4558-e9ba-4c83-9816-4976be78e969/content >, acesso em: 08/10/2024.
SILVA, A. F. PERÍODO ANTERIOR À INTERFERÊNCIA NA CULTURA DA SOJA-RR EM CONDIÇÕES DE BAIXA, MÉDIA E ALTA INFESTAÇÃO. Planta Daninha, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/BBHnkvPVDYTZ7BhqN3WxgFv/?format=pdf&lang=pt > acesso em: 08/10/2024.
ZANDONÁ, R. R. et al. INTERFERENCE PERIODS IN SOYBEAN CROP AS AFFECTED BY EMERGENCE TIMES OF WEEDS. Planta Daninha, 2018. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Hx8ZzWSHY3TcjpGzcKdrLVL/?format=pdf&lang=en >, acesso em: 08/10/2024.
