Algumas doenças podem surgir no final do ciclo de desenvolvimento da soja, durante a fase de enchimento de grãos. Essas doenças, ocasionadas por fungos apresentam sintomas semelhantes que dificultam sua diferenciação, nesse sentido, são consideradas como o complexo de doenças de final de ciclo (DFC).

O crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii) e a mancha-parda (Septoria glycines) são responsáveis pelo desfolhamento precoce da soja. Ambos os patógenos podem estar presentes na lavoura ao longo de todo o ciclo da cultura. Os fungos sobrevivem em restos culturais e podem permanecer latentes nos tecidos das plantas desde o estádio vegetativo sem manifestar sintomas (Godoy et al., 2023). De acordo com Grigolli (2015), o complexo de doenças de final de ciclo pode ocasionar perdas de produtividade que, em alguns casos ultrapassam os 20%, podendo atingir até 30% de perdas.

Condições e características das DFC’s

As doenças de final de ciclo, conforme destacado por Seixas et al. (2020), são favorecidas por condições de elevada umidade e temperaturas, com faixas ideais entre 23 e 27 °C para Cercospora kikuchii e entre 15 e 30 °C para Septoria glycines. A cercospora pode afetar todas as partes da planta, desde folhas, pecíolos e hastes até vagens e sementes. Nas folhas, os sintomas se manifestam por meio de pontuações escuras de coloração castanho-avermelhada, com bordas difusas, que gradualmente coalescem, formando grandes manchas escuras que resultam em severo crestamento e desfolha prematura.

Nas hastes, o fungo provoca o aparecimento de manchas vermelhas, em geral, superficiais e limitadas ao córtex. Além disso, quando a infecção ocorre nos nós da planta, o fungo pode penetrar na haste, ocasionando necrose na medula. Nas vagens, é comum observar pontuações vermelhas que evoluem para manchas castanho-avermelhadas. Através das vagens, o fungo atinge a semente e causa a mancha púrpura no tegumento (Henning et al., 2014).

A coloração das manchas de crestamento, conforme ressaltam Godoy et al. (2023), é atribuída à toxina cercosporina produzida pelo fungo. Essa toxina é ativada pela luz, gerando espécies reativas de oxigênio que resultam no extravasamento do conteúdo celular, levando à morte das células afetadas. Além disso, Seixas et al. (2020) destacam que o fungo é frequentemente encontrado em lotes de sementes, no entanto, não afeta a germinação das sementes.

Figura 1. Sintomas de cercospora em soja.

Os primeiros sintomas da mancha-parda surgem aproximadamente duas semanas após a emergência, manifestando-se como pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares, com coloração castanho-avermelhada, nas folhas unifolioladas. Em condições favoráveis, a doença pode avançar para os primeiros trifólios e resultar em desfolha significativa.

Nas folhas, as pontuações pardas, com menos de 1 mm de diâmetro, se desenvolvem formando manchas com halos amarelados e um centro de contorno angular, com coloração castanha em ambas as faces, podendo alcançar até 4 mm de diâmetro. Em casos mais severos de infecção, essa doença pode levar à desfolha prematura e antecipação do processo de maturação da planta (Henning et al., 2014).

Figura 2. Sintomas de mancha-parda em soja.
Fonte: North Dakota State University.
Estratégias de manejo e controle

Devido a sobrevivência do fungo em restos culturais, a rotação de culturas é uma estratégia recomendada para reduzir o inóculo presente na área de cultivo. Dessa forma, o controle das DFC’s deve ser realizado utilizando sementes livre de patógenos, tratamento de sementes e aplicações de fungicidas na parte aérea. Seixas et al. (2020) destacam que isolados de C. kikuchii com resistência a fungicidas IQo (estrobilurinas) e MBC (benzimidazóis) têm sido observados em plantas e sementes de diferentes regiões produtoras do país.

Apesar de as DFC’s sejam comuns na soja nas semeaduras iniciais, onde há menor ocorrência de ferrugem-asiática, Godoy et al. (2023) destacam a importância de observar o histórico da área e a ocorrência de outras doenças, conhecer a reação das cultivares, manter uma boa cobertura com palha para reduzir o impacto das gotas de chuva e a dispersão de inóculo para as folhas primárias, para fazer um manejo racional das manchas foliares, utilizando fungicidas com eficiência conhecida quando necessário.

Conforme os ensaios para a comparação da eficiência de fungicidas no controle das DFC’s, observou-se que todos os tratamentos apresentaram diferenças em relação à testemunha sem tratamento. Com relação à severidade das doenças e maiores percentuais de controle, destacaram-se os tratamentos com mancozebe + picoxistrobina + protioconazol (T8), Evolution (T7) e para o programa com rotação de fungicidas (T9), todos demonstrando um controle de 71% ou mais em relação à testemunha sem fungicida.

Por outro lado, as maiores produtividades foram alcançadas pelos tratamentos com mancozebe + picoxistrobina + protioconazol (T8 – 4.641 kg/ha), clorotalonil + tebuconazol (T3 – 4.616 kg/ha), para o programa com rotação de fungicidas (T9 – 4.616 kg/ ha), Tridium (T6 – 4.567 kg/ha), Evolution (T7 – 4.560 kg/ha) e mancozebe + difenoconazol (T5 – 4.460 kg/ ha).

Figura 3. Severidade das doenças de final de ciclo, porcentagem de controle em relação ao tratamento testemunha (T1) (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os demais tratamentos. Média de 15 experimentos para severidade e 10 experimentos para produtividade (locais 1, 2, 3, 5, 6, 8, 9, 11, 13 e 14). Safra 2022/2023.
Fonte: Godoy et al. (2023).

Em suma, para evitar a incidência dessas doenças é essencial utilizar sementes de qualidade e livre de patógenos. Além disso, o tratamento de sementes com fungicidas é uma prática essencial como medida preventiva. Em períodos chuvosos, é recomendado aplicar fungicidas na parte aérea das plantas para controlar o surgimento de doenças. Atualmente, existem 297 produtos registrados para o controle de Cercospora kikuchii e 291 para Septoria glycines na cultura da soja (Agrofit, 2024).


Veja mais: Qual o potencial de danos do crestamento foliar de cercospora?



Referências:

AGROFIT. SISTEMA DE AGROTÓXICOS FITOSSANITÁRIOS. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2024. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 20/03/2024.

GODOY, C. V. et al. EFICIENCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 193. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 20/03/2024.

GRIGOLLI, J. F. J. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Soja 2014/2015, Fundação MS, cap. 8. Curitiba – PR, 2015. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-Producao-Soja-20142015.pdf >, acesso em: 20/03/2024.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, documentos, 256. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 20/03/2024.

SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Embrapa, Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 10. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 20/03/2024.

Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (SiteFacebookInstagramLinkedinCanal no YouTube)

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.