O azevém (Lolium multiflorum) é uma espécie anual pertencente à família Poaceae, altamente adaptada as condições edafoclimáticas do Sul do Brasil. Originária da Europa, essa gramínea é amplamente utilizada, como cultura forrageira de inverno para gado leiteiro por conta da época do cultivo e valor nutricional elevado (Carvalho et al., 2022). Também é utilizada como planta de cobertura do solo para a formação de palhada.
De acordo com Rizzardi, essa espécie foi inserida no Sul do Brasil como forrageira, tornando-se uma planta daninha de significativa relevância em culturas de inverno como trigo e cevada, além de afetar o milho semeado durante a primavera. Sua característica de ressemeadura natural é considerada muito útil pelos pecuaristas, contudo, para os agricultores, isso acarreta desafios no controle, uma vez que as plantas surgem em diferentes estádios de desenvolvimento devido a germinação ocorrer de forma escalonada, além de ocasionar prejuízos significativos nas culturas agrícolas devido a elevada capacidade competitiva.
O azevém se reproduz por meio de sementes, apresentando um desenvolvimento mais vigoroso durante os meses mais frios. Na região sul do Brasil, o florescimento ocorre geralmente nos meses de setembro e outubro, seguido pela maturação no final do ano. A planta de azevém possui uma notável capacidade de emitir afilhos, suas folhas e colmos possuem cerosidade, conferindo uma tonalidade verde intensa às folhas. Além disso, as plantas exibem aurículas desenvolvidas, envolvendo o colmo (Rizzardi).
Figura 1. A: detalhe da base do caule arroxeada; B: espiguetas; C: aurículas abraçando o caule.

Quando o azevém é utilizado como planta de cobertura, a época de semeadura ocorre de março a junho nas regiões recomendadas. O ciclo da cultura até o florescimento varia conforme a cultivar, geralmente situando-se entre 100 e 120 dias. Esta cultura demonstra uma excelente adaptação a solos com baixa fertilidade, revelando elevado potencial na produção de biomassa e matéria seca, alcançando de 20 a 40 toneladas por hectare e de 2 a 6 toneladas por hectare, respectivamente (Carvalho et al., 2022).
O azevém é uma espécie de polinização cruzada, após o florescimento e a frutificação, ocorre a abscisão das sementes, as quais, quando não colhidas, caem ao solo e permanecem em estado de dormência até o final do verão, quando se inicia o processo de germinação. Uma planta possui o potencial de produção de sementes de aproximadamente 3.500 sementes (Rizzardi).
Conforme destacam Pagnoncelli Junior & Trezzi (2020), a quebra da dormência das sementes ocorre durante o período pós-maturação, quando expostas a altas temperaturas típicas do verão. Essas sementes são fotoblásticas positivas, ou seja, a luz é essencial para que ocorra o processo de germinação. A temperatura ótima para que ocorra a germinação é de 30,1°C, sendo inibida em temperaturas inferiores a 1,9°C e superiores a 34,6 °C.
Figura 2. (1) germinação, (2) estádio vegetativo, perfilhamento e alongamento de entrenós, (3) emergência floral, floração plena, (4) fecundação e formação de sementes.

Os prejuízos ocasionados pela presença de azevém nas culturas agrícolas, em grande parte é devido à sua utilização como cobertura de solo e pastagem, contribuindo para o aumento o banco de sementes do solo com sementes dessa espécie. Além disso, a resistência aos herbicidas tem gerado problemas quanto a questão de eficiência de controle dessas plantas daninhas na lavoura.
O azevém apresenta casos de resistência a diferentes mecanismos de ação de herbicidas, incluindo inibidores da EPSP’s (Enolpiruvil Shiquimato Fosfato Sintase) com resistência ao ingrediente ativo glifosato, inibidores da ALS (enzima acetolactato sintase) com resistência ao ingrediente ativo iodosulfuron-metil-Na. Além disso, existem casos de resistência múltipla, abrangendo inibidores de ACCase (Enzima Acetil Coenzima A Carboxilase) e EPSP’s, inibidores de ACCase e ALS, e inibidores de ALS e EPSP’s (Heap, 2023).
Como é comum o cultivo de azevém como pastagem e cobertura de inverno na região sul, os pesquisadores Franz et al. (2020) desenvolveram um estudo com o objetivo de avaliar os efeitos de diferentes manejos no controle de azevém sobre o desenvolvimento inicial da cultura do milho. De acordo com os resultados obtidos, foi possível observar que para a variável número de plantas emergidas, não houve diferenças significativas entre os tratamentos. Com relação a variável altura de plantas, houve diferenças em todas as épocas de avaliação. Na avaliação aos 10 dias após a emergência (DAE) destacou-se o tratamento em que foi realizado o controle químico aos 10 dias após a semeadura que apresentou maior valor que a testemunha, controle aos 30 DAS e roçado sem palha.
Aos 20 dias após a emergência os menores valores de altura de plantas foram observados nos tratamentos de testemunha e com controle químico no dia da semeadura, eles não diferiram entre si, mas diferiram dos demais tratamentos. Nas duas últimas épocas de avaliação, aos 30 e 40 dias após a emergência, os menores valores de altura de plantas foram observados na testemunha, valores intermediários no tratamento em que foi realizado o controle químico ao 0 DAS, e os maiores valores nos demais tratamentos.
Figura 3. Número de plantas emergidas (NPE), número de plantas final (NPF) e altura de planta (AP) de milho, em função do manejo do azevém na pré-semeadura da cultura.

Os tratamentos em que foi realizada a aplicação de herbicidas aos 10 dias após a semeadura e roçada com palhada se destacaram com maior produtividade em comparação a testemunha. Conforme os resultados obtidos, os pesquisadores concluíram que a semeadura do milho realizada sobre a palhada de azevém não manejada comprometeu o desenvolvimento inicial das plântulas de milho, resultando em na redução da produtividade final da cultura. O manejo químico em cobertura no dia da semeadura também comprometeu o desenvolvimento inicial do milho. A palhada de azevém mostrou ser uma boa opção de cobertura vegetal, suprimindo a infestação de plantas daninhas. A dessecação do azevém com muita antecedência à semeadura resultou em ocorrência de maior densidade de plantas daninhas na cultura do milho (Franz et al., 2020).
A roçada com palha e a dessecação realizada 10 dias antes a semeadura obtiveram as menores densidades de daninhas, sendo considerados os melhores manejos para a semeadura do milho em sucessão do azevém. Os autores destacam que a melhor época para o controle químico do azevém foi 10 dias antes da semeadura do milho. Nesse sentido, a roçada pode ser considerada uma forma de manejo alternativa, sendo interessante deixar a palhada sobre o solo.
Figura 4. Diâmetro de colmo (cm) e produtividade (kg ha-1) de milho, em função do manejo do azevém na pré-semeadura da cultura.

Devido aos casos de resistência do azevém aos herbicidas, torna-se importante combinar diferentes métodos de manejo, incluindo estratégias de manejo física, cultural e química, através de um planejamento de longo prazo para todo o sistema produtivo. Esses métodos têm como objetivo reduzir a produção de sementes do azevém, levando à redução da quantidade de sementes no banco de sementes e, consequentemente, reduzindo gradualmente a presença dessas plantas na lavoura.
Nesse sentido, Vargas et al. (2018), destacam que a rotação de culturas é uma ferramenta essencial, permitindo a utilização de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, favorecendo o manejo e reduzindo a pressão de seleção dos herbicidas sobre as plantas. Práticas como essas visam mitigar os efeitos da resistência das plantas daninhas. Essas estratégias de forma integrada podem contribuir para preservar a eficácia dos métodos de controle.
Veja mais: Desafios no controle do Leiteiro (Euphorbia heterophylla)
Referências:
CARVALHO, M. L. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBERTURA ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. Organização de Maurício Roberto Cherubin, 126 p., ESALQ – USP. Piracicaba – SP, 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 30/11/2023.
FRANZ, E. et al. MANEJO DA COBERTURA DE AZEVÉM EM PLANTIO DIRETO NA CULTURA DO MILHO E SUA FITOSSOCIOLOGIA. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10. Curitiba – PR, 2020. Disponível em: < https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/18952/15241 >, acesso em: 30/11/2023.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE. Online, 2023. Disponível em: < https://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 30/11/2023.
PAGNONCELLI JUNIOR, F. B.; TREZZI, M. M. Lolium multiflorum: BIOLOGIA, RESISTÊNCIA E MANEJO. Comitê de Ação à Resistencia a Herbicidas, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/116tXRfLpsveezKZ0XT57DI3T_Iv6U11S/view >, acesso em: 30/11/2023.
RIZZARDI, A. M. PLANTAS DANINHAS: AZEVÉM. Up Herb, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/azevem >, acesso em: 30/11/2023.
VARGAS, L. et al. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE AZEVÉM (Lolium multiflorum L.) RESISTENTE A HERBICIDAS EM ÁREAS AGRÍCOLAS. Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, ed. 162, 2018. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/177110/1/ID44326-2018v28n162p15PlantioDireto.pdf >, acesso em: 31/11/2023.
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