Por Jossana Cera

Condições meteorológicas ocorridas em agosto de 2025 no estado do Rio Grande do Sul (RS)

O mês de agosto teve grande variação espacial nos volumes de chuva, sendo o Norte, o Noroeste, a Zona Sul e a Campanha, com os menores acumulados, entre 40 e 120 mm. Já em parte da Região Central, Vales e região metropolitana, os acumulados superaram os 160 mm (Figura 1A). As anomalias de precipitação foram negativas na fronteira com o Uruguai, em toda a Zona Sul, Noroeste e Norte do Estado. As demais regiões ficaram com anomalias positivas de precipitação (Figura 1B).

Figura 1. Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, no estado do Rio Grande do Sul, durante o mês de agosto de 2025, em relação aos valores da Normal Climatológica, relativa ao período 1991-2020. Fonte de dados: INMET. 

Agosto teve apenas dois eventos de chuva, o primeiro no início do mês e o segundo ao redor do dia 20. E as temperaturas seguiram esse padrão, com as quedas de temperaturas ocorrendo logo após o eventos de chuva. De maneira geral, as temperaturas máximas e mínimas ficaram a maior parte do período abaixo dos valores da Normal Climatológica (NC), inclusive com mínimas próximas a 0°C (Figura 2). A média mensal da temperatura do ar foi negativa em todo o RS, com anomalias abaixo de -3°C no Oeste.

Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C) e suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas em vermelho e azul) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de agosto de 2025, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras. Fonte de dados: INMET.
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de junho a setembro de 2025. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas

Segundo a atualização da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), de 11 de setembro de 2025, o sistema acoplado oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical refletiu as condições Neutras do ENOS (El Niño-Oscilação Sul). Em agosto, a anomalia mensal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 baixou para -0,3°C, mas se mantendo dentro da faixa de neutralidade. Já na região Niño 1+2, o valor foi de +0,2°C (Figura 3). A anomalia trimestral, referente a Jun-Jul-Ago/2025, baixou para -0,2°C, também dentro da faixa de Neutralidade.

Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da água da Superfície do Mar no mês de agosto de 2025. O
retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade de distribuição das chuvas, ou seja, sua regularidade de ocorrência no estado do RS. Fonte: Adaptado de CPTEC.

Destaca-se, ainda, a ampla presença de áreas com anomalias positivas de temperatura da superfície do mar na maior parte dos oceanos globais. Esse cenário merece atenção, pois pode estar influenciando o clima do Planeta e interferindo nos prognósticos do ENOS, uma vez que tende a mascarar sinais captados pelos modelos de previsão. Isso é tão importante, que tanto o instituto americano de meteorologia (NOAA), quanto o australiano (Bureau of Meteorology) mudaram a forma de calcular o índice ONI (Oceanic Niño Index). Agora eles passaram a usar o índice RONI, que é o índice ONI relativo. Isso visa remover o efeito desse aquecimento, proporcionando uma visão mais clara do status do ENOS. Segundo o instituto australiano de meteorologia, se o aquecimento não for levado em conta, o El Niño pode parecer mais comum e a La Niña menos comum.

Na atualização do início de setembro, a NOAA elevou a probabilidade de estabelecimento da La Niña para 70%, para o trimestre Out-Nov-Dez/2025. Cabe salientar que esse é o trimestre com a probabilidade mais alta, pois nos trimestres seguintes ela cai para 65%, 55%, e assim por diante. Isso significa, e a própria NOAA destaca isso, que a La Niña seria curta, possivelmente algo similar à safra anterior. Mas, a pergunta é: existe La Niña curta, de dois trimestres? Pela teoria não. A metodologia nos diz que são necessários cinco períodos de três trimestres consecutivos com valores de anomalias inferiores a -0,5°C. Logo, a safra passada ocorreu sob Neutralidade com viés frio. O centro australiano de meteorologia também prevê Neutralidade, com pequeno período mais próximo a condições de La Niña, mais precisamente durante a primavera, e retornando à Neutralidade já no verão.

O bolsão de águas subsuperficiais com anomalias negativas voltou a se formar em meados
de agosto, e tem se mantido em setembro (Figura 4). Já faz algumas semanas que essas águas mais frias emergiram à superfície, tanto que houve duas semanas em que a Região Niño3.4 registrou anomalias limítrofes à La Niña. Caso a bolha subsuperficial se mantenha, o resfriamento em superfície poderá se prolongar, conferindo características de La Niña, por um curto período.

Previsão de Precipitação – trimestre outubro, novembro e dezembro de 2025
no RS

Para este trimestre, o consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) indica déficit de chuvas para todo o RS, principalmente a Metade Sul, onde há 60% de probabilidade de as chuvas ficarem abaixo do padrão normal. O modelo CFSv2 (Climate Forecast System), da NOAA, prevê precipitações inferiores à NC em outubro e novembro, e próximo da NC em dezembro. Por sua vez, a previsão do modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) indica precipitações abaixo da NC em outubro. Para novembro, a anomalia deve ficar entre normal ou acima da NC nas áreas de fronteira com o Uruguai e dentro da NC nas demais regiões da Metade Sul. Já para dezembro, é esperado que as precipitações voltem a ficar abaixo da NC (Figura 5). Esse prognóstico seria o ideal, visto que em havendo maior sequência de tempo seco em outubro, a semeadura do arroz avançaria sem maiores problemas e, assim, o produtor poderia semear a soja em novembro, também favorecido pela boa umidade do solo.

Figura 5. Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para outubro,
novembro e dezembro de 2025 no estado do RS. Fonte: adaptado de INMET.

O padrão Neutro do ENOS tende a dificultar os prognósticos climáticos, uma vez que não há uma forçante capaz de direcionar os padrões de chuva em escala global. Como se está em um padrão Neutro, com viés frio, espera-se que a umidade da atmosfera diminua daqui para frente, sobretudo da metade da primavera em diante.

Ao que tudo indica, as condições do Oceano Pacífico Equatorial nessa safra serão semelhantes às da safra anterior, o que traz maior risco de ocorrência de períodos de estiagem entre o final da primavera e o verão. No entanto, alguns modelos estão indicando melhora nas anomalias para janeiro e fevereiro, o que seria uma ótima notícia para a soja.
Diante desse cenário de incertezas, recomenda-se o acompanhamento contínuo das previsões meteorológicas de curto prazo (7 a 15 dias), como estratégia para melhorar a eficiência na execução das atividades agrícolas e apoiar a tomada de decisão no manejo das lavouras, assim como da previsão climática, para saber o quanto o Pacífico irá resfriar e impactar nas chuvas do RS nos próximos meses.

Fonte: IRGA



 

FONTE

Autor:Instituto Rio Grandense do Arroz

Site: Irga

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