Embora seja tradicionalmente classificado como uma doença de final de ciclo (DFC) da soja, o crestamento foliar de cercospora, causado pelo fungo Cercospora kikuchii, pode iniciar sua infecção ainda nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura. Apesar de seus sintomas se manifestarem predominantemente no final do ciclo, a infecção precoce do patógeno na planta pode comprometer o desempenho fisiológico e resultar em perdas significativas de produtividade.
Na parte aérea da planta, os sintomas incluem o surgimento de pontuações escuras, castanho-avermelhadas, com bordas difusas, as quais coalescem e formam grandes manchas escuras que resultam em severo crestamento e desfolha prematura (Henning et al., 2014). Já nas sementes, o sintoma característico é a formação de manchas púrpuras no tegumento.
Figura 1. Sintomas típicos de mancha púrpura causada por (Cercospora kikuchii) em sementes de soja.

Os danos variam em decorrência da suscetibilidade da cultivar e severidade da doença, podendo representar perdas de produtividade de até 50% em casos mais severos (Araujo Junior, 2021). Embora estudos demonstrem que a mancha púrpura não reduz significativamente atributos fisiológicos das sementes como germinação, a ponto de afetar o estabelecimento da cultura, é consenso que sementes infectadas são uma das fontes de inoculo da doença (Dorneles et al., 2021). Logo, a aquisição de sementes com boa qualidade sanitária, assim como o tratamento de sementes com fungicidas são estratégias importantes para reduzir os danos ocasionados pela doença em soja.
Para tanto, é preciso posicionar adequadamente os fungicidas no tratamento de sementes, dando preferência por princípios ativos de maior performance, principalmente quando o foco é reduzir a incidência do crestamento foliar de cercospora. Analisando a eficiência do tratamento de sementes de soja com fungicidas no controle dos principais fungos de sementes e habitantes do solo, na safra 2023/2024, Utiamada et al. (2024) observaram que, dentre os tratamentos avaliados (tabela 1), todos os tratamentos com fungicidas apresentaram menores incidências nas sementes em relação à testemunha.
Tabela 1. Fungicidas utilizados nos experimentos de tratamento de sementes de soja (nome comercial e ingrediente ativo), doses do produto comercial (p.c.), do ingrediente ativo (i.a.) e volume de calda (mL/100 kg de sementes), safra 2023/2024.

Contudo, os maiores controles foram verificados com os tratamentos tiofanato metílico + mancozebe (T14 – 94%), mancozebe (T15 – 93%), ciclobutrifluram + fludioxonil + metalaxil-M + difenoconazol (T10 – 89%), carboxina + tiram + ipconazol (T5 – 89%), tiofanato metílico + clorotalonil (T7 – 86%) e tiofanato metílico + fluazinam (T9 – 86%), enquanto que os menores controles foram observados nos tratamentos com os fungicidas ipconazol (T6 – 51%) e fluxapiroxade (T12 – 52%). Para os demais fungicidas avaliados os controles variaram de 56% (T3 – piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil) a 76% (T8 – tiofanato metílico + fluazinam) (Utiamada et al., 2024).
Tabela 2. Incidência de Cercospora spp. (%) nas sementes no Blotter Test e controle (%) em relação à testemunha, em função dos diferentes fungicidas aplicados nas sementes de soja, safra 2023/2024.

Embora não representem recomendações diretas de manejo, os resultados apresentados por Utiamada et al. (2024) fornecem subsídios importantes para orientar técnicos e produtores no posicionamento de fungicidas utilizados no tratamento de sementes, sobretudo quando o objetivo é mitigar o crestamento foliar de cercospora originado de sementes infectadas. Nesse sentido, fungicidas de maior performance, como Vitavax Ultra + Rancona 450 SC, Tiofanil FS e Certeza N, todos devidamente registrados para o tratamento de sementes de soja, configuram alternativas importantes para a redução da presença de cercospora em lotes contaminados, reforçando sua relevância no contexto de estratégias integradas de proteção inicial da cultura.
Veja mais: Mancha púrpura compromete a germinação das sementes de soja?
Referências:
ARAÚJO JÚNIOR, I. P. CONTROLE QUÍMICO DE MANCHAS FOLIARES EM DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA. Universidade Federal de Uberlândia, Dissertação de Mestrado, 2021. Disponível em: < https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/33377/4/ControleQuimicoManchasSoja.pdf >, acesso em: 27/11/2025.
DORNELES, K. R. et al. QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE SOJA COM MANCHA PÚRPURA. ACSA, Patos-PB, v.17, n.1, p. 23-28, janeiro-março, 2021. Disponível em: < http://revistas.ufcg.edu.br/acsa/index.php/ACSA/article/view/1251/pdf >, acesso em: 27/11/2025.
HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, ed. 5, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 27/11/2025.
UTIAMADA, C. M. et al. Eficiência do tratamento de sementes de soja com fungicidas, no controle dos principais fungos de sementes e de solo, safra 2023/2024: resultados sumarizados dos experimentos cooperativos. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 210, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1169704/1/Circ-Tec-210.pdf >, acesso em: 27/11/2025.





