Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira

As cotações da soja se mantiveram em baixa durante quase toda a semana, praticamente não saindo do nível do fechamento da semana anterior. Todavia, na quinta-feira (08/08) ajustes técnicos, puxados por esperanças de que o conflito comercial entre EUA e China se resolva antes do dia 1º de setembro, colocou o  fechamento em US$ 8,65/bushel, contra US$ 8,47 uma semana antes. Nota-se que o farelo de soja, desde o dia 31/07, vem trabalhando abaixo dos US$ 300,00/tonelada curta, situação que não era vista desde o dia 23/05. Entretanto, o óleo de soja disparou no dia 08/08, fechando em 28,96 centavos de dólar por libra-peso, ganhando 3,6% em um dia.


A principal notícia que derrubou as cotações nestes últimos dias foi o anúncio do governo estadunidense de impor tarifas de 10% sobre US$ 300 bilhões de produtos chineses, a partir de 1º de setembro, aumentando a tensão comercial entre os dois países. Em resposta, a China tomou a decisão de interromper toda e qualquer importação de produtos agropecuários procedente dos EUA, além de outras medidas de represália, como a desvalorização de sua moeda. O governo chinês comunicou o seguinte no início desta semana: “”A Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado não descartará tarifas de importação sobre os produtos agrícolas norteamericanos recémcomprados depois de 3 de agosto, e as empresas chinesas relacionadas suspenderam a compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos”. (cf. Safras & Mercado)

Analistas em geral, com os quais concordamos, destacam que se tal guerra comercial levar a um aumento ainda maior da tarifação dos produtos chineses, com consequentes represálias, o mundo poderá entrar em nova recessão econômica daqui a três trimestres, ou seja, a partir de meados de 2020. Aliás, algo que se vem alertando há algum tempo. Assim, o ajuste positivo da quinta-feira (08/08) pode ser apenas um fogo de palha.
Esta realidade fez o Real brasileiro se desvalorizar fortemente durante a semana, chegando novamente próximo dos R$ 4,00 por dólar. Tal movimento valorizou a soja, elevando os preços tanto no balcão quanto nos lotes, como veremos adiante.

Soma-se a isso a proximidade do relatório de oferta e demanda, previsto para este dia 12/08, o qual deverá atualizar a situação das principais safras de verão dos EUA, assim
como os estoques finais para o corrente ano e indicar números de produção, estoques e exportações no cenário mundial. Devido ao clima positivo desde início de julho nos EUA o mercado espera que possa vir uma correção para cima na futura produção estadunidense de soja, hoje projetada em pouco mais de 104 milhões de toneladas.

Por outro lado, até o dia 04/08 as condições das lavouras de soja nos EUA se mantinham em 54% entre boas a excelentes (o mercado esperava 53%), 33% regulares e 13% entre ruins a muito ruins.

Por sua vez, as inspeções de exportação deram alguma sustentação ao mercado, ao indicarem um volume de 1,03 milhão de toneladas na semana encerrada em 1º de agosto. Com isso, no acumulado do atual ano comercial, iniciado em 1º de setembro do ano passado, as inspeções somam 41,4 milhões de toneladas, contra 52,8 milhões no acumulado de um ano antes.

Aqui no Brasil, graças ao câmbio, a soja voltou a se valorizar, com o balcão gaúcho fechando a semana na média de R$ 69,79/saco, enquanto os lotes atingiram a R$
79,00 a R$ 79,50/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes ficaram entre R$ 77,00 e R$ 77,50 no Paraná; R$ 66,00 a R$ 73,50 no Mato Grosso; R$ 71,00 a R$ 73,50 no Mato Grosso do Sul; R$ 69,50 a R$ 70,00 em Goiás; R$ 78,00 a R$ 79,00 em Santa Catarina; R$ 70,00 em Uruçuí (PI) e R$ 67,00/saco em Pedro Afonso (TO).

Auxiliou igualmente para este movimento de alta a disparada dos prêmios nos portos brasileiros, após o aumento das tensões comerciais entre EUA e China durante a semana. Os mesmos fecharam a semana entre US$ 1,15 e US$ 1,33/bushel, ganhando, em média, cerca de 50% sobre a semana anterior.

Dito isso, vale ainda destacar que tal realidade pode mudar a qualquer momento, já que as causas podem não se sustentar por muito tempo. Por outro lado, segundo a Secex brasileira, a China comprou 39 milhões de toneladas de soja em grão do Brasil entre janeiro e julho. Esse volume é 11% menor do que o comprado no mesmo período do ano passado. A Espanha vem em segundo lugar, com 1,9 milhão de toneladas, contra 1,8 milhão no ano anterior, seguida da Holanda com 1,4 milhão de toneladas, o que representa um aumento de 25% sobre o mesmo período do ano anterior.

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CEEMA

Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

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