A visita de abelhas e outros polinizadores podem incrementar em até 20% a produção das lavouras de algodão, uma das principais matérias-primas da indústria da moda. É por causa da relevância desses insetos para o setor algodoeiro que a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) faz questão de celebrar o Dia Mundial das Abelhas (20 de maio) em parceria com a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).
Áreas de algodoeiros localizados a menos de 200 metros de fragmentos de mata – onde as abelhas constroem seus ninhos – tiveram mais porcentagem de fibra (+2%), número de sementes (+18%) e produtividade (+18,4% de Kg de fibra/ha).
O cultivo do algodão não é totalmente dependente da polinização realizada por insetos. A reprodução da planta pode acontecer por autopolinização (autogamia), mas também com a ajuda do vento (anemofilia) e até pela ação do homem (manualmente).
Porém, há anos, pesquisas científicas (veja abaixo) vêm demonstrando que as abelhas podem ser aliadas dos cotonicultores, prestando um serviço de polinização cruzada, que contribuiu para uma maior rentabilidade dos cultivos de algumas variedades de algodão.
Um estudo realizado no Mato Grosso, entre 2011 e 2012, mostrou que áreas de algodoeiros localizados a menos de 200 metros de fragmentos de mata – onde as abelhas constroem seus ninhos – tiveram mais porcentagem de fibra (+2%), número de sementes (+18%) e produtividade (+18,4% de Kg de fibra/ha). O estudo mostrou que, além da abelha-africanizada (Apis mellifera), inúmeras outras espécies de abelhas nativas visitam as plantas do algodoeiro.
Ou seja, trabalhando de graça, as abelhas podem elevar a produção, a rentabilidade e o lucro dos produtores. E, de quebra, os cotonicultores colaboram para a sustentabilidade e a conservação do meio ambiente, já que as flores do algodão alimentam e fortalecem as populações de abelhas no entorno das áreas agrícolas. Ademais, a existência desses insetos contribui para a conservação de toda a biodiversidade local.
Os principais polinizadores
Duas espécies de abelhas são apontadas como as melhores polinizadoras do algodoeiro: as mamangavas do chão (Bombus spp.) e mamangavas de toco (Xylocopa spp.). Porém, elas visitam as flores com menor frequência do que outras espécies de abelhas, como a abelha-africanizada (Apis mellifera), a mais abundante. Outros visitantes florais do algodoeiro são a abelha-irapuá (Trigona spinipes), Gaesischia sp., Ptilothrix plumata e Diadasina sp. (espécies que não possuem um nome popular).
Como atrair as abelhas
É possível ajudar as abelhas a realizarem o seu trabalho – e lucrar com isso. A Rede de Pesquisa dos Polinizadores do Algodoeiro no Brasil (PoAL) aponta algumas dicas úteis aos produtores:
Conservar a vegetação natural próxima às áreas cultivadas, para dar abrigo e alimento às abelhas (néctar e pólen) durante maior período do ano, e a outros animais que ajudam a controlar as pragas do algodoeiro e plantas que cultivamos;
Ter plantios consorciados com outras culturas, o que aumenta a oferta de alimentos para abelhas e insetos que ajudam no controle natural das pragas;
Utilizar técnicas alternativas para o controle de pragas como as caldas naturais, catação de botões florais atacados por bicudo e lagarta e Manejo Integrado de Pragas (MIP). Assim, é preciso usar menos produtos químicos que também matam os insetos úteis;
Fazer plantio direto (sem revolvimento do solo) para favorecer as abelhas que constroem ninhos no solo;
Recompor as áreas próximas as plantações de algodão com espécies nativas que forneçam alimentos às abelhas e outros polinizadores.
Parceria em prol das abelhas
A Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) tem consciência do importante papel dos polinizadores para a produção de algodão e da necessidade de conservação dessa fauna. Por essa razão, desde 2016 é uma das apoiadoras da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), que atua com a missão de promover o conhecimento científico sobre abelhas e outros polinizadores e na conscientização da população e de agricultores sobre a importância de se conservar a biodiversidade.
Referências:
Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.
Pires C. S. S., Pires V.C., Rodrigues W. et al. (2015) Plano de manejo para polinizadores em áreas de algodoeiro consorciado no Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Funbio. 40p., Brazil
Pires C.S.S., Silveira F.A., Cardoso C.F. et al. (2014) Selection of bee species for environmental risk assessment of gm cotton in the Brazilian Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira
Rodrigues A.W., Torezani K.R.S., Pires V.C., Arantes R.C.C., Pires C.S.S. e Silveira F.A. et al. (2013) Projeto Polinizadores do Algodoeiro no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Stephens S. G. (1956) The Composition Of An Open Pollinated Segregating Cotton Population. Amer. Nat. 90(850): 25 – 39.
McGregor, S.E. 1976. Insect Pollination of Cultivated Crop Plants.Agric. Handbook 496: 171-190.
Fonte: Abrapa, disponível no Portal da Ampasul
Foto de capa: Apis melífera na flor do algodoeiro – Foto: Viviane Pires, disponível na Página da Embrapa