Embora os ácaros sejam considerados pragas secundárias na cultura da soja, quando as condições são favoráveis ao seu desenvolvimento, podem ocasionar danos significativos à cultura. Um dos principais impactos relacionados a presença de ácaros na lavoura está na redução da área fotossinteticamente ativa, resultando na redução na produção e translocação de fotoassimilados para os grãos e/ou sementes.
Dentre as principais espécies de ácaro, o ácaro-rajado (Tetranychus urticae) destaca-se como uma praga altamente polífaga, com capacidade de atacar uma ampla gama de hospedeiros, totalizando mais de 1100 espécies de plantas pertencentes a 140 famílias distintas, incluindo as principais culturas agrícolas do Brasil. Sua incidência e potencial de danos são observados em todas as regiões produtoras do país (Agro Bayer Brasil).
De acordo com Sosa-Gómez et al. (2014), o ácaro-rajado destaca-se como a segunda espécie mais frequente na cultura da soja no Brasil, habitualmente é mais agressiva do que o ácaro-verde, no entanto, é muito sensível a chuvas, predadores e patógenos. Assim, quando as condições ambientais são favoráveis, como durante períodos de estiagem e uso de fungicidas e inseticidas piretróides, especialmente quando aplicados desde a fase vegetativa da cultura, o ácaro-rajado tende a ocasionar ataques intensos na soja.
Características do ácaro-rajado
Geralmente, o T. urticae ocorre em pequenas reboleiras na lavoura, e seu ataque tende a ser mais severo do que o ácaro-verde. Nas folhas, é comum observar colônias densas acompanhadas de teias, enquanto o ácaro-verde produz pouca teia. Dessa forma, as colônias do ácaro-rajado tendem a se concentrar principalmente na face inferior das folhas. Enquanto na face superior das folhas atacadas, são observadas, o surgimento de pequenas regiões cloróticas que aumentam de tamanho e tornam-se amareladas e, posteriormente, bronzeadas (Roggia et al., 2020).
Figura 1. a) Folhas de soja com sintomas do ataque de Tetranychus urticae; b) ácaro-rajado na face inferior da folha de soja.
Durante todas as fases de vida do ácaro-rajado, eles vivem em colônias abrigadas sob teia que é produzida em grande quantidade na face inferior das folhas (Sosa-Gómez et al., 2014). Os adultos do ácaro-rajado possuem aproximadamente 1 mm de comprimento e 0,6 mm de largura. Durante suas fases ativas, exibem uma coloração que varia de verde-amarelada a verde-escura, caracterizada por duas manchas escuras distintas no dorso. As fêmeas, de tamanho maior, têm o abdômen ovalado, enquanto os machos possuem uma extremidade posterior do abdômen mais estreita. Frequentemente, esses ácaros são encontrados em grandes números na parte inferior das folhas, onde tecem teias para sua proteção. Os ovos, de formato esférico e coloração amarelada, são depositados entre os fios da teia (Botton & Nava, 2021).
Por outro lado, Santos destaca que o ciclo biológico do ácaro-rajado varia entre 5 e 21 dias, dependendo da temperatura e umidade relativa. As condições ideais para seu desenvolvimento são em torno de 25 ºC, com pouca ou nenhuma precipitação. Nesse sentido, no Rio Grande do Sul, as maiores populações desses ácaros são observadas nos meses de novembro e dezembro.
Prejuízos
De acordo com Roggia & Sosa-Gómez (2012), a infestação de ácaros na cultura da soja tem um impacto direto na eficiência fotossintética da planta. Em situações de ataques severos, pode levar à antecipação da senescência e à queda prematura de folhas, resultando em uma redução significativa da produtividade da cultura. As perdas de produtividade devido ao ataque de ácaros podem variar consideravelmente. Em experimentos controlados, observou-se uma redução de até 4,5 sacas de soja por hectare quando comparadas parcelas com e sem controle de ácaros durante a fase de enchimento de grãos.
Além disso, é possível observar maiores populações de ácaros na cultura da soja durante anos mais secos, caracterizados por estiagens e a presença de veranicos com temperaturas diárias elevadas, tais condições contribuem para o aumento da incidência e proliferação desses insetos. A ocorrência de estiagem, de acordo com Roggia & Sosa-Gómez (2012), é o principal fator que favorece o ataque de ácaros na cultura da soja.
Pesquisa
Estudos realizados por Suekane et al. (2012), observaram que o nível de 100% de clorose ocasionada pelo ataque do ácaro-rajado, a produção média reduziu 75,15%. No entanto, com 25% de infestação houve um aumento de 2,57% de produção em relação à testemunha (sem infestação), fato atribuído ao aumento dos nutrientes fotossintéticos e pela disponibilidade para crescimento de estrutura reprodutivas decorrente do melhor aproveitamento de luz, o que pode explicar o aumento da produção e do número de sementes causado pelo nível clorótico de 25%.
De acordo com os autores, em uma comparação prática, calculando os níveis de produção para uma população de 266.000 plantas por hectare, a parcela controle produziu 3.598,2 kg por hectare, enquanto a parcela com 25% de infestação excedeu o tratamento controle, produzindo 3.690,6 kg por hectare. No entanto, à medida que os níveis cloróticos aumentaram, a produção reduziu.
Figura 2. Produtividade por hectare em função do nível de dano do ácaro-rajado nas plantas de soja (% de área foliar danificada).
Controle
De acordo com o Comitê de Ação a Resistência à Inseticidas (IRAC-BR, 2022), um dos problemas associados ao ácaro-rajado é o rápido desenvolvimento de resistência a acaricidas, principalmente em culturas com intenso uso de produto químicos. Os surtos de ácaros são frequentemente observados durante a fase reprodutiva da soja, dificultando uma boa deposição de calda nas folhas do interior do dossel. Devido à dificuldade de controle e do custo associado ao tratamento, as estratégias para o manejo de ácaros em soja priorizam a preservação de inimigos naturais, por meio do uso racional de agrotóxicos.
Dessa forma, para o controle químico de ácaros na soja, estão registrados os seguintes princípios ativos: espiromesifeno, diafentiurom, abamectina e profenofós+lufenurom. Como o ataque de ácaros pode ocorrer de forma pontual na lavoura, recomenda-se vistoriar todos os talhões e realizar pulverizações apenas nas áreas atacadas, seguindo as doses registradas para cada produto (Roggia et al., 2020).
Veja mais: Helicoverpa armígera na cultura da soja
Referências:
AGRO BAYER BRASIL. ÁCARO RAJADO: SINTOMAS, CONTORLE, TEMPO DE VIDA. Agro Bayer Brasil. Disponível em: < https://www.agro.bayer.com.br/pragas/acaro-rajado >, acesso em: 05/03/2024.
BOTTON, M.; NAVA, D. E. ÁCARO-RAJADO. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/morango/producao/insetos-e-acaros-praga/acaro-rajado >, acesso em: 05/03/2024.
IRAC-BR. Tetranychus urticae (ÁCARO-RAJADO): UM DOS ÁCAROS DE MAIOR IMPORTÂNCIA ECONÔMICA. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas, 2022. Disponível em: < https://www.irac-br.org/single-post/tetranychus-urticae-%C3%A1caro-rajado-um-dos-%C3%A1caros-de-maior-import%C3%A2ncia-econ%C3%B4mica >, acesso em: 05/03/2024.
ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Embrapa, Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 9. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 05/03/2024.
ROGGIA, S.; SOSA-GÓMEZ, D. R. MANEJO DE ÁCAROS-PRAGA EM SOJA. Embrapa Soja, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54312/1/folder-acaros-soja-COAMO.pdf >, acesso em: 05/03/2024.
SANTOS, R. S. S. ÁCARO-RAJADO (Tentranychus urticae). Embrapa. Disponível em: < https://www.cnpuv.embrapa.br/uzum/morango/acaro_rajado.html >, acesso em: 05/03/2024.
SOSA-GÓMEZ, D. R. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa, documentos, 269. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105924/1/Doc269-OL.pdf >, acesso em: 05/03/2024.
SUEKANE, R. et al. DAMAGE LEVEL OF THE TWO-SPOTTED SPIDER MITE Tetranychus urticae KOCH (ACARI: TETRANYCHIDAE) IN SOYBEANS. Revista Ceres, v. 59, p. 77-81. Viçosa – MG, 2012. Disponível em: < https://ojs.ceres.ufv.br/ceres/article/view/3690/1600 >, acesso em: 05/03/2024.
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