O constante avanço no cultivo do trigo (Triticum aestivum) é notório no cenário atual da agricultura brasileira. A expectativa de produção para a safra 2022/23 é de 313,9 milhões de toneladas, representando acréscimo de 15,2% em relação à safra 2021/22 de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Diante desse incremento expressivo que vem se observado na produção nos últimos anos, é evidente e necessário cada vez mais, de estratégias de manejo relacionados com a questão nutricional buscando maximizar a produtividade e com aumento da lucratividade.
Diante desta perspectiva, uma das maneiras de otimizar a produção é com o correto emprego da adubação nitrogenada no trigo. Por ser uma gramínea, o trigo é uma cultura que apresenta grande responsividade ao nitrogênio (N), sendo a ureia a principal fonte deste nutriente aplicado nas lavouras comerciais. Devido a formulação deste produto, quando aplicada ao solo, passa por uma série de transformações entre elas a amônia passível de perdas por ser um gás altamente volátil que acaba sendo perdido para a atmosfera. Desta forma, a aplicação em uma condição de solo úmido preferencialmente a partir da meia tarde pode reduzir essas perdas por volatilização da amônia. Importante seria essa aplicação antes de uma chuva ou em uma condição irrigada onde se possa aplicar uma leve lâmina de água.
Além disso, é válida a discussão sobre qual o momento certo no desenvolvimento do trigo para aplicação da ureia. Tradicionalmente se adotou esta aplicação levando em consideração aspectos visuais externos de desenvolvimento apresentados pela planta, sendo recomendadas aplicações do N em cobertura nos estádios fenológicos de perfilhamento, elongação e emborrachamento. No entanto, a fase de desenvolvimento que realmente é recomendada a adubação nitrogenada vai além de aspectos visuais, sendo o correto posicionamento deste nutriente nos estádios morfologicamente nomeados como duplo anel (figura 2) e espigueta terminal a partir da observação do ápice de crescimento da planta (meristema apical), os quais podem variar dentro do ciclo da planta em detrimento da interação genótipo x ambiente.
A aplicação de nitrogênio na semeadura é importantíssima para o arranque inicial, sendo que nesta fase é definido no ponto de crescimento o número de afilhos, que é componente primário determinante da produtividade, o qual vai depender de condições ambientais adequadas como a baixa temperatura do ar, disponibilidade de água e nutrientes, condições físicas de solo, espaçamento entre plantas e também, a genética da cultivar.
A fase de duplo anel, ocorre muito precocemente na cultura do trigo, sendo que para ser observado o ápice de crescimento, é necessário a dissecação de uma planta escolhida ao acaso com o auxílio de uma agulha histológica. Devido a dificuldade de visualização, define-se esse momento de forma geral quando a planta apresenta de 2 a 4 folhas, podendo isso variar de acordo com cada cultivar e o ambiente de produção em que está inserida. Porém, para uma aplicação mais assertiva se faz necessário verificar o duplo anel, estádio que marca o início da fase reprodutiva do trigo, definindo neste momento o início da formação da espiga, e o número de espigas/m².
Na fase de duplo anel as espiguetas irão diferenciar-se na espiga até que a última esteja desenvolvida, período em que caracteriza o estádio de espigueta terminal (figura 3). Sendo nessa fase definida o número de espiguetas por espiga, onde ocorre a elongação do colmo principal em que a planta assumirá um porte mais ereto, momento em que desenvolve os órgãos florais masculinos e femininos. Nesse estádio de elongação do colmo principal são definidos os componentes de rendimento sendo eles: número de espiguetas por espiga, número de espigas/m2 e a determinação do potencial de rendimento de grãos.
No estádio de emborrachamento, caracterizado como um intumescimento visível, é um dos períodos oportunos para a adubação nitrogenada, momento esse que coincide com o aparecimento da última folha da planta. A aplicação de nitrogênio nesse estádio garante o aumento significativo na produtividade final de grãos.
Portanto, o parcelamento e a aplicação de nitrogênio na cultura do trigo nos períodos de duplo anel (perfilhamento), espigueta terminal (elongamento) e emborrachamento é essencial para garantir o bom estabelecimento e dos componentes que irão definir a produtividade final de grãos. Dessa maneira, para alcançar a alta produtividade dessa cultura, o clima é um fator determinante. No momento da aplicação da ureia, deve-se buscar minimizar as perdas decorrentes da volatilização, sendo indicado que sua aplicação anteceda a uma chuva ou seja efetuada em solo úmido a partir da meia tarde, e onde o pico dessa produção de amônia ocorre a noite em uma condição de ambiente que minimiza essas perdas de N por volatilização de amônia. Ademais, a correta visualização dos estádios fenológicos do trigo é fundamental para determinar o momento ideal da aplicação.
Por: Dyeferson dos Reis Rocha e Thaysla Vezaro Wiedemann, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Referências:
CONAB. Com boa produtividade, safra de grãos 2022/23 é estimada em 313,9 milhões de toneladas. Disponível em: https://www.conab.gov.br/ultimas-noticias/4997-com-boa-produtividade-safra-de-graos-2022-23-e-estimada-em-313-9-milhoes-de-toneladas. Acesso em: 14 de jun. 2023
RODRIGUES, Osmar et al. Ecofisiologia do trigo: bases para elevado rendimento de grãos. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/932195/ecofisiologia-de-trigo-bases-para-elevado-rendimento-de-graos. Acesso em: 14 de jun. 2023
STORCK, Adriele. Ureia no Trigo: por que e quando aplicar nitrogênio? 3 Tentos. Disponível em: https://www.3tentos.com.br/triblog/post/52. Acesso em 06 de jun. 2023
