Por: Fernando Mendes Lamas  
 

A agricultura é fundamental para a sobrevivência do homem, especialmente quando o assunto é produção de alimentos. Mas não só isso; é da agricultura que vem boa parte da fibra utilizada para a produção de vestimentas, muitos dos remédios utilizados pelas diferentes civilizações, a bioenergia, além de matéria prima para a indústria de papel e celulose, de cosméticos, de pneus, de móveis, tintas, dentre outras.

Um dos temas que mais preocupam a sociedade é a questão da segurança alimentar, tanto no seu aspecto quantitativo como no qualitativo. Garantir alimentos seguros para a humanidade é, talvez, um dos maiores desafios para todos os países do globo. Em termos de agricultura tropical, o Brasil é de longe o líder mundial. Tem-se tecnologia adequada, a partir de conhecimentos gerados em centros de pesquisa da Embrapa, das Universidades, das organizações estaduais de pesquisa e pela iniciativa privada e produtores rurais com alta capacidade empreendedora.

Ao longo dos anos, para a maioria das espécies cultivadas, constata-se evolução significativa da produção, especialmente devido ao aumento da quantidade produzida por unidade de área. Melhorar a produtividade com sustentabilidade deve ser o foco central das atenções de todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente com a agricultura. Este artigo tem, como ponto central, uma reflexão sobre os produtos utilizados na agricultura em contraste com modelos de produção menos demandantes de insumos externos.

Em tempo não muito distante, além das sementes, utilizavam-se fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas, principalmente, para o suprimento de nutrientes e o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. Atualmente, produtos como os nematicidas, desfolhantes, maturadores, reguladores de crescimento, enraizadores, adubos foliares, aminoácidos, produtos para minimizar estresse abióticos como os efeitos de temperatura supra ótimas ou infra ótimas, para reduzir o impacto negativo de altas radiações e biopotencializadores de plantas, passaram a ser utilizados pelos agricultores brasileiros, visando otimizar a produção. Será essa a melhor estratégia? Não seria mais adequado o uso de processos que contribuam para minimizar os efeitos dos estresses quer de natureza biótica ou abiótica?

Sistemas de produção mais diversificados, com rotação de culturas, com a inclusão do cultivo de espécies para produção de palha, são mais equilibrados. A palha sobre a superfície do solo contribui para amenizar os efeitos das altas temperaturas e mantém a umidade do solo. Palhas de determinadas espécies vegetais liberam para as culturas sucessoras potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio, fosforo e enxofre, principalmente. Algumas espécies são importantes para o controle de nematoides (https://bit.ly/3tcgkPO).

Hoje já se dispõem de cultivares de soja que são resistentes à ferrugem asiática e tolerantes ao percevejo. Com essas cultivares, menos fungicidas e inseticidas são utilizados. Assim, fica evidente que há muito conhecimento disponível que, sendo incorporados aos sistemas de produção, podem contribuir para a redução da quantidade de produtos que são utilizados na agricultura. Para se ter ideia do que isso representa em termos financeiros, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (IMEA), estima-se que do total de recursos demandados para o custeio de um hectare de algodão, aproximadamente 50% são com defensivos agrícolas (inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros) (https://bit.ly/33b7yXT).

A cultivar de algodão BRS 500 B2RF recentemente lançada pela Embrapa é resistente a ramulária, doença que normalmente exige grande quantidade de fungicidas em cultivares susceptíveis. Para o milho segunda safra, em Mato Grosso do Sul, inseticidas, fungicidas, herbicidas e adjuvantes correspondem a quase 17 % do custo variável, valor que também é muito alto (https://bit.ly/3b0l8lg). Além de impactar fortemente o custo de produção, o uso excessivo de produtos químicos pode contribuir para que a sustentabilidade da produção agrícola seja comprometida. Surgimento de plantas daninhas resistente a herbicidas, de insetos resistentes a inseticidas e fungos resistentes a fungicidas, muitas vezes se dá devido ao uso inadequado desses insumos, sejam eles de natureza química ou biológica.

Assim, faz-se necessário rever os métodos de produção atualmente predominantes visando, especialmente, à redução da quantidade de produtos que são utilizados na agricultura, dando-se preferência por modelos que sejam poupadores de insumos externos. Vários são os modelos disponíveis. Apenas como exemplo, o milho consorciado com braquiária é uma excelente estratégia para o manejo de plantas daninhas que interferem na produtividade da soja cultivada na sequência.

O cultivo do trigo após a soja, contribui para redução da incidência de plantas daninhas e por conseguinte o uso de herbicidas. Além de auxiliarem na redução da quantidade de produtos lançados no ambiente, modelos alternativos de produção podem contribuir para a melhoria da produtividade, pois em sua maioria contribuem para a saúde do solo por exemplo, tornando-o mais produtivo.  Em resumo, existem conhecimentos que permitem uma agricultura com menor uso de produtos, garantido a segurança alimentar e a produção de alimentos seguros.

Informações do Autor: Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS

Fonte: Assessoria de imprensa Embrapa Agropecuária Oeste

Foto de capa: Divulgação Embrapa Agropecuária Oeste

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