Por Dr. Argemiro Luís Brum
Após ensaiar uma leve recuperação, o primeiro mês cotado para o trigo, em Chicago, voltou a recuar no final da presente semana, com o fechamento da quinta-feira (22) atingindo o nível mais baixo em praticamente quatro anos, ou seja, US$ 5,11/bushel, contra US$ 5,28 uma semana antes.
Nos EUA, no dia 18/08, a colheita do trigo de inverno atingia a 96% da área, contra 95% na média histórica. Já o trigo de primavera estava colhido em 31% da área, contra 36% na média histórica. Das lavouras que faltavam colher, deste trigo, 73% estavam entre boas a excelentes condições, 22% estavam regulares e 5% entre ruins a muito ruins.
Pelo lado comprador, um dos maiores importadores mundiais de trigo, o Egito, ainda busca adquirir 3,8 milhões de toneladas do cereal até o final deste ano. Enquanto isso, a Ucrânia, através do seu Ministério da Agricultura, estuda limitar suas exportações do cereal para 2024/25 (julho-junho) a 16,2 milhões de toneladas. Isso se deve ao fato de que a colheita do país ficou em 21,8 milhões de toneladas.
Por outro lado, o mercado espera que a China diminua o ritmo de importações de trigo, no segundo semestre do corrente ano, diante do aumento de sua produção e a redução no consumo local de farinha. “A China fez compras recordes de trigo nos últimos anos e espera-se que uma redução nas importações exerça pressão adicional sobre os preços globais, que estão sendo negociados perto do seu nível mais baixo em quatro anos, em meio à oferta abundante.” (cf. Reuters).
A produção de trigo na China, colhida principalmente em junho, aumentou 2,7% em relação ao ano anterior, atingindo o recorde de 138,2 milhões de toneladas, com condições climáticas quase perfeitas, o que aumentou a qualidade do produto. O pais asiático, que é o maior importador de trigo do mundo nos últimos dois anos, importou 10,08 milhões de toneladas entre janeiro e julho, com um aumento de 15,6% em relação ao ano anterior, de acordo com dados alfandegários locais. Essas importações, alimentadas por temores de danos às safras relacionados ao clima, superam a cota de importação de trigo alocada pelo governo local, que é de 9,6 milhões de toneladas para 2024, fato que leva os volumes adicionais a sofrerem uma tarifa de importação de 65%.
E na Alemanha, a safra de trigo de inverno recuará 15%, ficando em 18 milhões de toneladas, devido ao clima ruim. Como já vimos em outros comentários, isso igualmente atinge a França e outros países europeus.
E no Brasil os preços do produto de qualidade superior se estabilizaram, com a média gaúcha ficando em R$ 68,81/saco, enquanto no Paraná o produto está em R$ 76,00.
Diante de um quadro de baixa produção deste tipo de trigo, além de exportações ocorridas, o mercado avança nas importações diante da iminência de estoques finais bastante baixos no país. Preocupa, igualmente, o fato de a safra do Paraná estar sofrendo com as intempéries, especialmente as últimas geadas. Assim, nos sete primeiros meses do ano, as importações brasileiras passam de quatro milhões de toneladas, contra 4,2 milhões em todo o ano de 2023. Em 12 meses, chegaram aos portos nacionais 5,7 milhões de toneladas de trigo, sendo o maior volume acumulado a cada 12 meses desde dezembro/22. (cf. Cepea/Esalq a partir de dados da Secex) Soma-se a isso a forte redução de área semeada na atual safra nacional, a qual teria chegado a 12,4%. A produção final, agora, está projetada para 8,4 milhões de toneladas nesta nova safra, cuja colheita começa no Paraná. Aliás, neste estado, segundo o Deral, as lavouras em condições ruins a muito ruins já estão em 19% neste momento, enquanto em Santa Catarina também houve perdas com as últimas geadas. Já no Rio Grande do Sul, por enquanto, as lavouras se apresentam satisfatórias, pois o plantio se deu tardiamente neste ano, o que permitiu as mesmas escaparem das geadas ocorridas até agora.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).