Por Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, ao contrário da soja e milho, cederam um pouco nesta semana em Chicago. O bushel do cereal fechou a quinta-feira (24) em US$ 5,81, contra US$ 5,89 uma semana antes.
Nos EUA, o plantio do trigo de inverno chegava, no dia 20/10, a 73% da área esperada, contra 76% na média histórica. Do total semeado, 46% havia germinado naquela data, contra 50% na média.
Por sua vez, os embarques estadunidenses de trigo acusaram um volume de 268.375 toneladas na semana encerrada em 17/10. Assim, no total do atual ano comercial, os EUA exportaram 9,3 milhões de toneladas, contra 6,9 milhões no mesmo período do ano anterior.
Na Argentina, as chuvas melhoraram a situação em muitas lavouras de trigo, porém, ainda há 34% das mesmas em situação ruim, com 47% delas apresentando déficit hídrico.
E no Brasil, a nova frustração de safra, que vem parcialmente se consolidando, em relação ao esperado, começa a reverter a tendência baixista que havia nos preços internos do cereal. No Rio Grande do Sul os mesmos ficaram ao redor de R$ 67,00/saco para o produto de qualidade superior, enquanto no Paraná as principais praças negociaram o produto a R$ 79,00/saco.
Como já havíamos destacado nos últimos comentários, as chuvas e o forte calor (mormaço em muitos casos) estão reduzindo a qualidade do trigo gaúcho. O chamado Falling Number (retrata o potencial de teor de amido das farinhas de trigo, sendo que quanto menor o valor do Falling Number, maior será o teor de amido danificado) despencou junto ao trigo colhido após as chuvas de outubro. Assim, muitas cargas foram devolvidas pelos moinhos no início da semana devido às baixas classificações. No momento, os técnicos evitam arriscar uma previsão quanto à qualidade do que ainda está nas lavouras gaúchas.
No Rio Grande do Sul, até o dia 17/10 a colheita atingia a 3% da área, contra 20% na mesma época do ano anterior. No Noroeste gaúcho, onde a colheita está mais adiantada, com o avançar da mesma, aumenta o número de solicitações de Proagro. Somente o escritório da Emater de Ijuí já registra em torno de 50 pedidos. Segundo a instituição local “há lavouras com rendimento de menos de 40 sacos por hectare e PH (qualidade) baixo. Para cobrir os custos de produção na região é preciso colher entre 45 e 50 sacos. Com cerca de 20% do trigo colhido em Ijuí, a produtividade média está entre 30 e 60 sacos por hectare” (cf. RPI/Emater).
Em termos de Brasil, a colheita, até o dia 13/10, atingia a 41,8% segundo a Conab, com o Paraná batendo em 87% da área no dia 21/10. Do que ainda faltava colher no estado paranaense, 16% se apresentava em condições ruins.
Já em São Paulo, o otimismo igualmente diminuiu. O Estado paulista esperava colher entre 320.000 a 350.000 toneladas de trigo. Neste momento, as estimativas indicam que nem mesmo 300.000 toneladas serão alcançadas.
Este quadro geral vai confirmando a tendência de uma safra final brasileira, em trigo, ao redor de 7,5 milhões de toneladas, sem contar uma boa parte com qualidade inferior, mais uma vez infelizmente.
Enfim, vale destacar que a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), e a Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), se reuniram na semana passada com a Conab para tratar dos leilões do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), e do Prêmio Para Escoamento do Produto (Pep), da cultura do trigo.
Consta que muita gente ainda não recebeu o pagamento dos prêmios referentes às operações do ano passado. “Após o encontro, a Conab teria se comprometido a dar celeridade aos pagamentos afirmando que o processo já está em fase de reanálise. No dia sete de novembro haverá uma nova reunião da Câmara Setorial das Cultura de Inverno do RS com a Conab para que se avaliem novos leilões de Pep e Pepro de trigo, pois o atual preço mínimo está em R$ 78,51/saco, enquanto os preços de balcão, pagos diretamente ao produtor, estão no patamar médio de R$ 65,00. Ou seja, há uma diferença de pouco mais de R$ 13,00/saco que deve ser garantida pelo governo.” (cf. BBM).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).