Atentos à colheita e diante da entrada de lotes da nova safra no spot nacional, agentes de moinhos mostraram pouco interesse em adquirir trigo ao longo de agosto – os demandantes ativos ofertaram preços menores. Além disso, a qualidade ainda não é a desejada por compradores, o que fez com que parte dos vendedores disponibilizasse o cereal a valores mais baixos. Esse contexto manteve as cotações enfraquecidas e o mercado, em rimo lento. Ressalta-se que, apesar de escassos, ainda houve disponibilidade de lotes da safra anterior, mas com preços maiores e negócios pontuais.
No campo, a colheita da nova temporada de trigo começa a ganhar ritmo no Paraná, mas a produtividade e a qualidade têm ficado aquém do esperado por produtores. Levantamento da Seab/Deral indica que 6% da área cultivada no Paraná foi colhida até o encerramento de agosto, e a produtividade média está abaixo de 2 toneladas/hectare. Esse cenário se deve às condições climáticas desfavoráveis para a cultura no estado paranaense, que registrou fortes geadas no período próximo à colheita.
No Rio Grande do Sul, a Emater/RS-Ascar aponta que as lavouras estão em bom desenvolvimento, favorecidas por chuvas que melhoraram a umidade do solo. Em São Paulo, a Conab indicou que a colheita foi iniciada e já soma 5% da área. Agricultores paulistas também relatam que o clima seco prejudicou a produtividade. Em Santa Catarina, segundo a Epagri/Cepa, a semeadura foi finalizada, e 97% das lavouras estão em condições boas.
PREÇOS – A média mensal do trigo negociado no Paraná em agosto foi de R$ 1.538,62/t, queda de 0,4% sobre a de julho/24, mas 21,9% acima da de agosto/23, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 1.429,85/t, 2,6% menor que a do mês anterior, mas 11,5% superior à de agosto/23. Em São Paulo, a média, de R$ 1.592,46/t, caiu 0,3% no comparativo mensal e subiu expressivos 24% no anual. Em Santa Catarina, a variação foi negativa em 0,2% frente a julho, mas positiva em 9,4% sobre agosto/23, com a média a R$ 1.508,36/t.
No mercado de derivados, os preços domésticos do farelo de trigo estiveram em alta, sustentados pela maior procura, sobretudo para ração animal. Esse cenário, por sua vez, pressionou as cotações das farinhas de trigo, uma vez que o aumento da moagem para a produção de farelo gera maior excedente de farinhas. Com isso, de julho para agosto, o farelo a granel se valorizou 11% e o ensacado, 9,7%. Já para as farinhas, as maiores quedas foram para pré-mistura (-2,8%), farinha para panificação (-2%) e bolacha salgada (-1,46%).
OFERTA E DEMANDA MUNDIAL – De acordo com relatório mensal divulgado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) no dia 12 de agosto, a produção de trigo na temporada 2024/25 deverá ser recorde. Entretanto, a disponibilidade total do cereal será a menor em três safras, o que, por sua vez, resultará em diminuição dos estoques pelo sexto ano consecutivo, com a relação estoque x consumo podendo ser a menor em 11 anos. O departamento estimou demanda mundial em 804 milhões de toneladas, 0,7% superior à da temporada 2023/24.
Espera-se que os estoques caiam 2,2%, para 256,6 milhões de toneladas, o que implicaria em uma relação estoque final sobre o consumo de 31,9%.
MERCADO EXTERNO – As cotações externas do trigo caíram em agosto, pressionadas pela produção volumosa da safra no Hemisfério Norte. O primeiro vencimento do Soft Red Winter negociado na Bolsa de Chicago teve média mensal de US$ 5,2741/bushel (US$ 193,79/t), quedas de 3% frente à dejulho/24 e de 14% em relação à de agosto/23. Na Bolsa de Kansas, a média do primeiro vencimento do trigo Hard Winter foi de US$ 5,4522/bushel (US$200,33/t) em agosto, baixas de 4,5% na comparação mensal e de expressivos26,5% na anual.
Nos Estados Unidos, a colheita do trigo de inverno foi encerrada em agosto, e as atividades envolvendo as lavouras de primavera seguem avançando, somando 51% de área, de acordo com dados do USDA, praticamente em linha com o observado em anos anteriores.
Na Argentina, as lavouras de trigo estão em condições estáveis, mas produtores aguardam maiores volumes de chuvas para favorecer o desenvolvimento das plantas. A média dos preços FOB do Ministério da Agroindústria em agosto foi de US$ 269,36/t, sendo 1,18% inferior à de julho/24 (US$ 272,59/t).
TRANSAÇÕES EXTERNAS – Até a quarta semana de agosto (17 dias úteis), as importações brasileiras de trigo somaram 471,367 mil toneladas, volume 69,6%superior ao dos 23 dias úteis de agosto/23 (277,9 mil toneladas), conforme números da Secex. O preço médio do cereal importado foi de US$ 266,2/t FOB origem, queda de 10,1% no comparativo anual. Não houve dados de exportação em agosto/24.
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Fonte: CEPEA