O objetivo do trabalho foi avaliar as variáveis adjuvantes e pontas de pulverização na deposição de gotas de pulverização contendo o fungicida Horos® (tebuconazol + picoxistrobina) em papéis hidrossensíveis posicionados nos terços médio e inferior da cultura da soja NS6909 IPRO®.
Autores: ANDRÉ A.P. SILVA1, ROGÉRIO G. TORELI2, MATEUS G. CARVALHO3, CLEBER D.G. MACIEL4, LEANDRO MEERT5, JOÃO P. GLUCHAK6

Introdução
O controle de doenças na cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) está diretamente ligada à tecnologia de aplicação dos fungicidas. Portanto, mesmo com fungicidas eficientes, o principal fator limitante para obter controle eficiente tem relação com a deposição de gotas, as quais devem atingir toda a área foliar, inclusive no terço inferior das plantas. Entre os fatores que auxiliam em obter êxito na deposição de gotas pode-se considerar as pontas de pulverização e os adjuvantes. As pontas de pulverização representam componentes importantes nos sistemas de pulverização, uma vez que quanto menor o tamanho das gotas melhor será a cobertura do alvo, mas em contrapartida, maior a possibilidade de perdas por evaporação e deriva (Viana et al., 2009; Godoy et al., 2017). Para minimizar as perdas por deriva e padronizar o tamanho das gotas pulverizadas, uma das ferramentas viáveis é o uso de adjuvantes. Essas substâncias além de minimizar a deriva, podem permitir maior segurança e eficácia em condições desfavoráveis. No entanto, nem sempre os adjuvantes disponíveis no mercado brasileiro cumprem a função especificada pelo fabricante e, portanto, estudos independentes devem ser conduzidos para comprovar sua eficácia (Oliveira et al., 2013). Nesse sentido, avaliações dos depósitos de calda de pulverização são utilizadas como ferramentas complementares de aferição e estimativa das gotas pulverizadas nos alvos. O objetivo do trabalho foi avaliar as variáveis pontas de pulverização e adjuvantes na deposição do fungicida Horos® (tebuconazol + picoxistrobina) em papéis hidrossensíveis posicionados nos terços médio e inferior da cultura da soja NS6909 IPRO®.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no município de Roncador-PR, na fazenda São Pedro, durante a safra 2018/19, quando a soja NS6909 IPRO® apresentava-se no estádio R5.3 e com 0,75 m de altura. Para determinação da deposição do fungicida Horos® (tebuconazol + picoxistrobina) foi utilizado papéis hidrossensíveis posicionados em dois pontos do dossel da cultura, representados pela altura de 0,5 m (terço médio) e 0,2 m (terço inferior). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com três repetições, em esquema fatorial 4×2, constituído por quatro pontas de pulverização (MGA 90015, CV-IA 100015, ST 135015 e ADGA 120015) e dois adjuvantes (TA35® e Agr’óleo®). As aplicações foram realizadas com pulverizador tratorizado de barras hidráulicas e taxa de aplicação de 120 L ha-1, com velocidade de deslocamento de 6,7 km/h, e altura de barras de acordo com a angulação de cada ponta de pulverização, e espaçamento de 0,5 m entre elas.
No momento das aplicações com o adjuvante sintético TA35® as condições de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos foram de 31, 31, 30 e 30°C; 52, 52, 52 e 53%; 8, 6, 7 e 8 km h-1, respectivamente, nas aplicações com as pontas de pulverização MGA, CV-IA, ST e ADGA, assim como de 30, 30, 29 e 29°C; 53, 53, 54 e 54%; 8, 7, 6 e 6 km h-1, nas aplicações do óleo vegetal Agr’óleo®. Para as análises da deposição nos papéis hidrossensíveis utilizou-se o equipamento DropScan®, que digitaliza e processa os dados de deposição diretamente nos alvos. As variáveis avaliadas foram a cobertura (%), densidade de gotas (cm²) e o diâmetro mediano volumétrico (DMV, em µm). Os dados foram submetidos a análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05), utilizando o software estatístico Sisvar®.
Resultados e Discussão
Em relação a deposição de gotas nos papéis posicionados no terço médio da soja foi somente verificada interação significativa entre os fatores adjuvantes x pontas de pulverização para as variáveis cobertura e diâmetro mediano volumétrico (DMV) (Tabela 1). Ainda assim, a cobertura e a densidade de gotas da calda com a associação do fungicida com adjuvante TA35® foram em média de 20% e 29%, respectivamente, superiores ao óleo vegetal Agr’óleo®. A ponta MGA apresentou o melhor desempenho para a variável cobertura, seguida dos modelos ST, ADGA e CV-IA. As pontas de pulverização MGA e ADGA que produzem espectro de gotas mais finas, e assim proporcionaram a maior densidade de gotas. As pontas CV-IA e MGA apresentaram o maior e o menor valor de DMV, respectivamente, resultando no pior e melhor desempenho na cobertura e densidade de gotas na porção mediana da soja. O adjuvante TA35® aumentou em média 11,5% e 12,9% o DMV das gotas pulverizadas com as pontas MGA e CV-IA, respectivamente, resultando em redução do potencial de perdas por deriva do fungicida, quando considerada a deposição na porção mediana das plantas de soja.
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No terço inferior das plantas de soja, região considerada de maior dificuldade para atingir o alvo, foi verificado interação significativa para as três variáveis avaliadas (Tabela 1). Nessa posição da planta, o adjuvante TA35® apresentou superioridade em relação ao óleo vegetal Agr’óleo®, caracterizada por diferença em média de 87% e 78%, na cobertura e densidade de gotas, respectivamente. O DMV com TA35® foi em média 17% superior ao óleo vegetal Agr’óleo®, com destaque as pontas MGA e CV-IA, ao contrário dos modelos ST e ADGA. Em relação a ponta de pulverização, também foi observado maior deposição no cartão utilizando o modelo MGA, independente do adjuvante utilizado, seguidos por ADGA, ST e CV-IA (Figura 1). Cunha et al. (2004) relataram que a ponta de jato cônico vazio, como é o caso do MGA, que gera gotas pequenas, auxiliadas pelo movimento rotacionado do jato, aumentando a penetração e deposição sobre o alvo, resultando, consequentemente, em maior densidade de gotas. Boschini et al. (2008), avaliando a deposição da calda em folhas de soja verificaram maior deposição no terço superior com a ponta de jato duplo, já no terço médio e inferior, a melhor deposição foi encontrada utilizando a ponta de cone vazio, corroborando com os resultados encontrados nesse trabalho.
Tabela 1. Cobertura, densidade e DMV do fungicida Horos® associados aos adjuvantes TA35® e Agr’óleo®, e coletadas em papéis hidrossensíveis, nos terços médio e inferior da cultura da soja.
Além das pontas de pulverização, também é importante ressaltar as propriedades surfactante/redutor de deriva do adjuvante TA35® que contribuíram no incremento da qualidade da deposição de gotas com o fungicida, nas condições monitoradas. Os adjuvantes são produtos químicos que promovem alteração na calda, atenuando os adversos efeitos ambientais e morfofisiológicos da planta (Godinho Junior et al., 2015), tornando a calda menos susceptível às variações de umidade relativa do ar e temperatura ambiente (Nascimento et al., 2012; Vilela et al., 2013). Segundo Maciel et al. (2011) e Oliveira e Antuniassi (2012), a adição de adjuvante surfactante na mistura de tanque reduz a tensão superficial das gotas pulverizadas, e contribui para a absorção do ingrediente ativo aplicado. Nesse sentido, fica evidente a importância de utilizar a ponta de pulverização e o adjuvante mais apropriados para obter sucesso na chegada de gotas na cultura da soja, principalmente no terço inferior (“baixeiro”).
No campo, é comum constatar na maioria das vezes desperdício de produto devido ao mau uso da tecnologia de aplicação. Esse uso de técnicas inadequadas para o objetivo da operação pode distribuir o produto de forma ineficaz e não obter o controle adequado das doenças, assim, torna-se interessante ficar atento nas técnicas da tecnologia de aplicação.
Figura 1. Aplicação e papéis hidrossensíveis de uma repetição, demonstrando a performance de deposição de gotas de quatro pontas de pulverização e dois adjuvantes distintos.
Conclusão
A melhor performance de deposição do fungicida Horos® nos papeis hidrossenssíveis posicionados no terço médio e inferior da cultura da soja foi verificado utilizando a ponta de pulverização MGA 90015 associada ao adjuvante sintético TA35®.
Referências
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Informações dos autores
1Engenheiro Agrônomo, Discente do Programa de Pós-graduação em Agronomia (Doutorando), Depto. Agronomia, Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Guarapuava/PR – Brasil, Fone (44) 999899901, andrepazinato0@gmail.com;
2Representante Técnico de Vendas no Grupo Inquima;
3Engenheiro Agrônomo, Gerente Técnico no Grupo Inquima;
4Professor Adjunto, Depto de Agronomia, Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Guarapuava/PR;
5Professor Adjunto, Depto de Agronomia, Centro Universitário Integrado, Campo Mourão/PR;
6Discente de Agronomia, Centro Universitário Integrado, Campo Mourão/PR.