Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago, para o primeiro mês cotado, se mantiveram estáveis em relação à semana anterior, porém, com leve viés de baixa. O fechamento desta quinta-feira (23) ficou em US$ 12,84/bushel, contra US$ 12,96 uma semana antes.

Três motivos centrais movimentam as cotações, para além da tradicional especulação dos Fundos: o início da colheita nos EUA; os problemas logísticos também nos EUA, após a passagem dos furacão Ida; e o início do plantio no Brasil, e logo mais na Argentina.

Nos EUA, segundo o USDA, até o dia 19/09, a colheita da soja atingia a 6% da área, ficando dentro da média histórica e um pouco acima das expectativas do mercado. Ao mesmo tempo, 58% das lavouras a colher se encontravam em condições entre boas a excelentes, 28% regulares e 14% entre ruins a muito ruins.

Quanto aos embarques estadunidenses de soja, na semana encerrada em 16/09 o volume atingiu a 275.169 toneladas, ficando dentro das projeções do mercado. No acumulado do ano comercial 2021/22 o total embarcado atinge a 498.952 toneladas, ou seja, 87% a menos do que em igual momento do ano anterior.

Aqui no Brasil, os preços médios subiram levemente, diante de um câmbio que continua trabalhando ao redor de R$ 5,30 por dólar e de prêmios portuários acima de US$ 2,00/bushel, sendo os maiores valores nominais desde novembro de 2018 (lembrando que para fevereiro próximo os prêmios tendem a ficar entre US$ 0,30 e US$ 0,45 por bushel). Já para o farelo de soja os prêmios estão nos melhores níveis desde agosto de 2014, atingindo a US$ 52,00/tonelada curta. Tais prêmios estão, hoje, sustentados pela demanda chinesa, que voltou a comprar do Brasil diante das dificuldades de embarque nos EUA, devido aos estragos provocados pelo furacão Ida. Ao mesmo tempo, a seca está deixando o nível do rio Paraná muito baixo, prejudicando os embarques na Argentina.

Dito isso, nesta semana se iniciou o plantio da nova safra de soja brasileira, ano comercial 2021/22, no Mato Grosso, maior produtor nacional. O plantio começa com as cotações internacionais em Chicago 26,1% superiores ao mesmo período do ano anterior, considerando o primeiro mês cotado. Ao mesmo tempo, o câmbio de R$ 5,30, hoje, está com o Real um pouco mais valorizado, diante dos R$ 5,47 por dólar de um ano antes.

Assim, os melhores preços de agora estão sustentados por Chicago e pelos prêmios no país, na comparação com um ano atrás. Isto se reflete igualmente no indicador do Cepea/Esalq de Piracicaba (SP), o qual subiu 28,8%, levando o preço de R$ 133,69 para R$ 172,16/saco nestes 12 meses.

Neste momento, parte destes preços encontra novamente na China sua sustentação. Neste caso, importante se faz explicar “a respeito das condições dessas negociações, visto que essa operação foi uma negociação “inhouse” pela trading (renegociação interna) e com origem opcional. Ou seja, visto que o motivo da cobertura desse volume ser pela incapacidade logística americana de ofertar soja pelo Golfo, as operações aqui no Brasil foram fixadas com origem opcional, o que permite ao exportador poder novamente cancelar essas compras no Brasil, e recobrir esse volume com soja americana, caso a logística ocorra a tempo dado os termos de embarques. Esse movimento já começa a se desenhar devido ao incentivo das operadoras portuárias dado as margens de elevação que estão muito lucrativas, que refletem também inclusive no movimento da base de preços da soja no interior americano”. (cf. Notícias Agrícolas) Desta forma, assim que os EUA recuperarem sua capacidade de embarque, os prêmios tendem a recuar aqui no Brasil, devendo puxar os preços internos da soja.

Já no Paraná, segundo maior produtor nacional de soja, o plantio igualmente iniciou. A partir de agora, e como sempre, as atenções se voltam com mais intensidade para o clima nas regiões produtoras nacionais. Circulam informações de que os meses de outubro e novembro serão bem mais secos, influenciados pelo fenômeno La Niña.

Dito isso, se os preços melhoraram no exterior e no Brasil (a média da soja gaúcha, nesta terceira semana de setembro, passou de R$ 134,72/saco para os atuais R$ 160,00, configurando um aumento de 18,8% em 12 meses), os custos de produção totais da soja subiram bem mais, ficando entre 30% e 50% acima dos registrados um ano antes, dependendo da região do país. Com isso, está confirmado que, em condições normais de safra, os produtores de soja brasileiros terão uma rentabilidade menor neste ano. Em alguns casos a mesma pode ser bem menor.

Por sua vez, as exportações brasileiras de soja, nos 12 primeiros dias úteis de setembro, somaram 3,24 milhões de toneladas. O preço médio da tonelada exportada registra aumento de 39,6%, passando de US$ 365,40 para US$ 509,90.

Enfim, vale destacar que estudos feitos pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) dão conta que, no Mato Grosso, a soja convencional está dando melhores resultados econômicos do que a transgênica. Um cálculo feito em agosto, em relação aos custos de produção da safra 2021/22, mostraram que a soja convencional estava com sua rentabilidade mais de R$ 833,00/hectare acima da soja transgênica. No cálculo do Imea, a soja transgênica tem produtividade média de 60,68 sacos por hectare, enquanto a soja convencional teria 56,9 sacos por hectare. Mesmo assim, o ganho de rentabilidade da soja convencional atinge a 5,7 sacos/hectare. Segundo o estudo, apesar de ter custo mais elevado que a soja transgênica – R$ 5.251,47 por hectare contra R$ 5.081,74 da transgênica -, a soja convencional apresenta vantagens no momento da comercialização por causa do prêmio que recebe. Hoje, há um nicho de mercado na União Europeia para a soja convencional brasileira, sendo que a cadeia produtiva está bem organizada, com definição de prêmios e tolerância, porém as associações brasileiras não vislumbram produto suficiente para atender a demanda. A China igualmente já começa a se interessar mais por este produto. (cf. Instituto Soja Livre)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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