Por: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e Jaciele Moreira (2)

As cotações da soja voltaram a despencar nesta semana, fechando o 09/05 (quintafeira) em US$ 8,00/bushel. Uma semana antes o primeiro mês cotado havia encerrado a semana em US$ 8,30. Estamos diante das mais baixas cotações da oleaginosa em Chicago em muitos anos.

Dois fatores foram essenciais para tal movimento, além da questão climática nos EUA que leva o mercado ainda a esperar uma área maior a ser semeada com soja naquele país: 1) as declarações do presidente dos EUA apontando novas altas das tarifas sobre produtos chineses; 2) o relatório de oferta e demanda do USDA a ser divulgado no dia 10/05.

Quanto às declarações de Donald Trump, as mesmas foram um “balde de água fria” sobre o mercado, esperançoso por um acordo comercial entre EUA e China que levasse a um bom termo ainda neste mês de maio o litígio. Na verdade, na sexta-feira, dia 03/05, a China enviou aos EUA um esboço de quase 150 páginas do acordo comercial a ser assinado, porém, no mesmo havia mudanças importantes em relação ao que havia sido discutido. Ou seja, a China voltaria atrás em itens de grande interesse comercial dos EUA.

Diante disso, no domingo 05/05 o presidente norteamericano anunciou que a partir deste dia 10/05 (a ordem teria sido assinada na quarta-feira, 08/05) os EUA aumentariam de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em bens importados da China e anunciou taxas sobre produtos antes isentos. Imediatamente a China informou que irá retaliar a nova postura estadunidense.

Ora, se tudo isso efetivamente vier a ocorrer na prática o acordo comercial até pode ser assinado no final de maio, porém, terá efeito prático pequeno no sentido de retirar as tarifas e levar os chineses a importarem, por exemplo, mais soja dos EUA.

Por outro lado, não se pode esquecer que a redução atual nas importações chinesas de soja se deve muito mais à crise da peste suína africana, que continua forte sobre os planteis suinícolas chineses, do que propriamente em função do litígio comercial. Mesmo porque, desde janeiro a China havia retomado parcialmente suas compras de soja junto aos EUA.

Quanto ao relatório de oferta e demanda, o mesmo será o primeiro do ano a indicar uma projeção de safra de verão nos EUA. Neste sentido, o mercado esperava o anúncio de uma colheita de soja, a ser realizada a partir de meados de setembro, na altura de 113,9 milhões de toneladas, contra 123,7 milhões colhidas na última safra.

Esta redução de quase 10 milhões de toneladas, todavia, acabou sendo absorvida pelo fato de que a produção brasileira seria mantida em 117 milhões de toneladas e a da Argentina aumentada para 55,8 milhões de toneladas. Com isso, haveria uma grande oferta mundial da oleaginosa em um momento em que o principal comprador mundial diminui suas aquisições.

As projeções para o relatório igualmente apontavam que os estoques finais nos EUA, para o ano 2018/19, subiriam para 25,2 milhões de toneladas, enquanto para o ano 2019/20 chegariam a 25,7 milhões. Já os estoques finais mundiais eram esperados em 109 milhões de toneladas para 2018/19 e de 113 milhões para 2019/20.



Os números definitivos do referido relatório iremos comentar em nosso próximo boletim já que o mesmo foi divulgado após o encerramento deste atual comentário.

Além disso, as exportações líquidas dos EUA, para o ano 2018/19, ficaram em 313.400 toneladas na semana encerrada em 25/04, registrando um recuo de 61% sobre a média das quatro semanas anteriores.

Diante de tudo isso, nem mesmo a confirmação de que o plantio da atual safra de soja está atrasado, devido ao excesso de chuvas no Meio Oeste estadunidense, serviu para reverter o movimento de baixa em Chicago. De fato, o referido plantio, até o dia 05/05, chegava a 6%, contra a média histórica de 14% para esta época. Todavia, por enquanto, o mercado ainda considera que o problema maior está no atraso da área de milho, fato que pode transferir área para a soja até o final da semeadura de verão.

Aqui no Brasil, os preços se mantiveram relativamente estáveis, porém, continuando com viés de baixa. A média no balcão gaúcho ficou em R$ 64,46/saco, enquanto os lotes giraram entre R$ 69,00 e R$ 70,00/saco, caindo pela primeira vez, depois de muito tempo, abaixo dos R$ 70,00. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 60,00/saco em Sorriso (MT) e R$ 75,50/saco em Campos Novos (SC), passando por R$ 69,00 no centro e norte do Paraná; R$ 64,00 em Goiatuba (GO); R$ 61,50 em São Gabriel (MS); R$ 66,00 em Uruçuí (PI) e R$ 64,00/saco em Pedro Afonso (TO).

Por outro lado, Safras & Mercado divulgou novas estimativas sobre a atual safra de soja brasileira, colocando a mesma em 117,9 milhões de toneladas, contra 116,4 milhões na previsão anterior e bem acima das estimativas do setor público que aponta uma safra final ao redor de 113 milhões de toneladas.

Conforme ainda Safras & Mercado, a colheita de soja no Brasil, até o dia 03/05, atingia a 98% da área total, enquanto na Argentina a mesma se aproximava dos 60%. No Brasil, destaque para a produção do Rio Grande do Sul, a qual somaria pouco mais de 20 milhões de toneladas, contrariando a realidade informada pelos produtores rurais no campo, os quais informam, em grande parte das regiões produtoras, terem colhido entre 5 a 10 sacos por hectare a menos do que no ano anterior, sem falar em nova quebra de safra no sul do Estado.

Dito isso, se este número for confirmado o Estado gaúcho ultrapassa, depois de muito tempo, o Paraná, o qual deverá ter colhido 16,7 milhões de toneladas. O Mato Grosso continuou sendo o maior produtor nacional com 32,3 milhões de toneladas na colheita atual.

Enfim, com o anúncio de novas tarifas estadunidenses sobre produtos chineses, nossos prêmios nos portos melhoraram significativamente e, juntamente com a manutenção de um câmbio ao redor de R$ 3,95, foram o motivo para os preços nacionais não recuarem ainda mais. Assim, a semana encerrou com prêmios entre US$ 0,18 e US$ 0,61/bushel.

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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

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