Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

As cotações do trigo, em Chicago, voltaram a subir nesta semana, chegando a bater, para o primeiro mês cotado, em US$ 12,77/bushel no dia 17/05, a mais alta cotação desde o início de março, e próxima do recorde histórico para o cereal naquela Bolsa. Posteriormente houve recuo, com o fechamento desta quinta-feira (19) ficando em US$ 12,00/bushel, contra US$ 11,74 uma semana antes.

A continuidade do conflito no Leste Europeu e, particularmente, o clima nos EUA, têm pesado sobre os preços mundiais. De fato, continua havendo forte atraso no plantio do trigo de primavera no país da América do Norte. Até o dia 15/05 o mesmo atingia a 39% da área esperada, contra 83% um ano antes e 67% na média histórica. Naquela data, 16% das lavouras haviam germinado, contra a média histórica de 30% para a data. Já o índice de lavouras de trigo de inverno em boas a excelentes condições, nos EUA, voltou a recuar, ficando em 27% do total, contra 48% um ano antes.

Por sua vez, a colheita de trigo na Argentina, para o ano 2022/23, está projetada em 19 milhões de toneladas, ou seja, abaixo das 22,1 milhões colhidas nesta última safra, segundo a Bolsa de Cereais de Rosário. Para a soja deste ano, em fase de colheita, a Bolsa estima uma colheita de 41,2 milhões de toneladas, e para o milho 49,2 milhões. Os argentinos esperam uma área de trigo, para 2022/23, de 6,35 milhões de hectares, ou seja, em recuo de 550.000 hectares em relação ao ano anterior. O vizinho país teme um novo La Niña sobre suas lavouras neste novo ano comercial. Seria o terceiro consecutivo caso se confirme. Isso serve de alerta para os produtores do sul do Brasil.

Por outro lado, na Índia a proibição de exportação de trigo acabou segurando 1,8 milhão de toneladas do cereal nos portos daquele país, trazendo grandes perdas aos comerciantes locais. Como comentamos no boletim anterior, o anúncio foi feito após uma onda de calor reduzir a produção, elevando os preços domésticos a recordes na Índia. Somente exportações lastreadas em cartas de crédito (LCs), emitidas antes de 13 de maio, puderam prosseguir antes de a proibição entrar em vigor. Esse é um dos motivos da disparada das cotações do trigo em Chicago nestes últimos dias, pois os compradores mundiais de trigo estavam contando com o produto indiano para substituir o trigo vindo do Mar Negro, bloqueado, em boa parte, pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

Dito isso, a Rússia, um dos maiores exportadores de trigo do mundo, deverá embarcar mais grãos no novo ano comercial julho/22 a junho/23. Isso se deve a uma grande colheita e estoques elevados. Todavia, é bom lembrar que a Rússia limita suas exportações com impostos e uma cota de exportação desde 2021, em meio a esforços para desacelerar a inflação doméstica de alimentos. O volume de trigo a ser exportado, no novo ano comercial, deverá atingir entre 39 a 41 milhões de toneladas, contra 32,5 milhões no corrente ano. Os russos deverão colher entre 85 e 88,6 milhões de toneladas de trigo neste ano, contra 76 milhões em 2021. Em isso tudo ocorrendo, estima-se que a oferta russa responderá por mais de 20% do comércio global de trigo em 2022/23. (cf. Sovecon)

Já no Brasil os preços do trigo voltaram a subir, especialmente no Rio Grande do Sul, onde a média semanal fechou em R$ 105,39/saco, sendo que as principais praças produtoras pagavam até R$ 110,00/saco. No Paraná, os preços oscilaram entre R$ 100,00 e R$ 104,00/saco.

Segundo o Cepea/Esalq, a média de preços na primeira quinzena de maio, no Rio Grande do Sul, atingiu o seu recorde em valores reais, ou seja, já deflacionados. Já no Paraná, Santa Catarina e São Paulo as médias mensais são as maiores desde 2013, em termos reais. Em valores nominais, os preços atuais do trigo são recordes históricos. E isso ocorre mesmo com o anúncio de um aumento na área a ser semeada na atual safra brasileira. O impulso maior vem das cotações externas e da menor oferta argentina.

Neste contexto, não se pode descartar a possibilidade de os preços do trigo, no Brasil, permanecerem em patamares historicamente elevados até o início da próxima colheita, em setembro. Enquanto isso, dados divulgados, na corrente semana, pela Anec, projetam que o Brasil poderá exportar 103.719 toneladas de trigo ao longo do mês de maio. Em maio do ano passado, o Brasil não realizou embarques. Em abril de 2022, os embarques do cereal somaram 156.427 toneladas. No acumulado de 2022, os embarques já atingem 2,39 milhões de toneladas.

Já, pelo último boletim da Conab, a área com trigo no Rio Grande do Sul deverá aumentar em 9,7% nesta atual safra, chegando a 1,27 milhão de hectares. Mas o custo de produção será bem maior. Estudo da Fecoagro, divulgado na semana passada, mostra que tal custo, para o trigo gaúcho, subiu 51,7% nesta atual safra, em relação a safra do ano passado. Isso exigirá uma produtividade normal e mesmo assim haverá perda de rentabilidade para o produtor gaúcho, já que o preço médio, mesmo com o forte aumento registrado nos últimos dias, nos últimos 12 meses subiu “apenas” 26,2%.

Enfim, a Abitrigo considerou positiva a isenção do imposto de importação sobre trigo importado de fora do Mercosul, anunciada no dia 11 de maio pela Câmara de Comércio Exterior brasileira (Camex). A medida é válida até 31 de dezembro.

Trigo de qualquer origem poderá ser importado sem tarifa de importação. O preço pago pelo cereal no exterior, de fora do Mercosul, vai ser reduzido em 9% (taxa do imposto). Atualmente, a indústria moageira importa entre 50% e 60% do volume consumido no País, de cerca de 12 milhões de toneladas anuais.

Tal situação pode aliviar um pouco a pressão sobre os preços do cereal e sobre a inflação junto à população, desde que os importadores e indústrias repassem o ganho ao consumidor final. Tanto é verdade que a própria Abritrigo admite o efeito limitado da medida, já que os preços internacionais do cereal estão em patamares elevados como reflexo da guerra, com tendência de que continuem sustentados no curto e médio e prazo.

Assim, a isenção alivia um pouco o custo do cereal adquirido no exterior, mas o preço do trigo continua elevado. (cf. Broadcast) Ou seja, os importadores do produto de fora do Mercosul terão ganhos, mas o efeito sobre a inflação nacional tende a ser muito pequeno ou mesmo nulo.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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