O primeiro mês cotado, em Chicago, indicou para o trigo nova tendência de recuo. O cereal encerrou a sessão do dia 09/03 em forte baixa, valendo US$ 6,53/bushel, contra US$ 7,01 uma semana antes. Esta cotação é a mais baixa desde 14 de julho de 2021. Portanto, há cerca de 21 meses não se via valor tão baixo para o trigo em Chicago.

Os resultados indicados pelo relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 08/03, colaboraram para esta tendência. O mesmo apontou que a safra passada nos EUA ficou em 44,9 milhões de toneladas e os estoques finais do país em 15,8 milhões. Portanto, sem surpresas. Por outro lado, em termos mundiais, a produção geral ficou em 788,9 milhões de toneladas, com 5,1 milhões acima do indicado em fevereiro. Já os estoques finais mundiais somaram 267,2 milhões, com um recuo de cerca de 2 milhões de toneladas. Insuficiente para reverter o cenário baixista diante da oferta mundial do cereal, a partir do bom andamento dos negócios no Mar Negro, mesmo com a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia. A produção argentina passou para 12,9 milhões de toneladas, com uma quebra de quase 50% em relação ao esperado, enquanto a da Austrália aumentou em um milhão de toneladas, passando a 39 milhões de toneladas. A produção da Ucrânia foi mantida em 21 milhões de toneladas e a da Rússia em 92 milhões para este ano 2022/23. Enfim, a produção brasileira, recentemente colhida, passou a 10,4 milhões de toneladas.

Dito isso, as vendas líquidas de trigo, por parte dos EUA, na semana encerrada em 02/03, atingiram a apenas 266.700 toneladas, ficando um pouco acima do nível inferior esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial os EUA já teriam comprometido com exportações um total de 17,4 milhões de toneladas de trigo, contra 18,6 milhões em igual período do ano anterior. Já os embarques do cereal, na mesma semana, somaram 377.100 toneladas, ficando 24% abaixo do volume obtido na média das quatro semanas anteriores.

Aqui no Brasil a comercialização do cereal continua lenta, havendo sobra de produto no Rio Grande do Sul e grande dificuldade para vendê-lo por parte dos produtores. O preço médio gaúcho subiu um pouco, ficando em R$ 78,89/saco, porém, as principais praças de comercialização se mantiveram em R$ 78,00. No Paraná, os preços permaneceram em R$ 90,00/saco.

Vale destacar que o trigo cultivado no chamado período de safrinha, sem irrigação, após a colheita da soja, vem ganhando cada vez mais espaço no Cerrado brasileiro. Um dos benefícios do processo “é a possibilidade de rotação de princípios ativos de defensivos agrícolas, como herbicidas que podem agir no controle de plantas daninhas resistentes ao glifosato, usado nas lavouras de soja RR, bem como no controle de plantas de soja germinadas após a colheita, contribuindo com o vazio sanitário da cultura. Assim, o cultivo do trigo tem proporcionado o controle de plantas daninhas, além de fornecer uma excelente palhada, favorecendo o plantio direto nas áreas”. (cf. Embrapa Trigo de Passo Fundo-RS) “No Cerrado, os rendimentos das lavouras têm variado de 35 a 65 sacos/ha em anos de precipitação normal, e as receitas com as vendas têm agradado os produtores e estimulado a ampliação da área cultivada na região. Para obtenção de maiores produtividades, a semeadura deve ser realizada do início de março, até o final do mês, de acordo com as precipitações na região. Onde as chuvas param mais cedo, o trigo safrinha deve ser plantado no começo do mês. O escalonamento da semeadura, ou seja, a semeadura das áreas em diferentes momentos, dentro do período recomendado, ou a semeadura de cultivares de ciclos diferentes, são estratégias interessantes. Já para semeaduras mais tardias, após o dia 15 de março, o produtor deve semear cultivares mais tolerantes à seca.

A baixa precipitação e temperaturas acima do normal também podem causar prejuízos, principalmente pela ocorrência de veranicos comuns nesse período naquela região do país. Segundo ainda a Embrapa, a cultivar de trigo BRS 404 foi desenvolvida para condições de baixa precipitação, aproveitando a umidade do solo e o restante das chuvas dos meses de março, abril e maio. A cultivar tem como principais características maior tolerância ao déficit hídrico, ao calor e ao alumínio no solo, além de maior produção de matéria seca (palhada) e excelente qualidade tecnológica de grãos. Apresenta ciclo precoce, variando de 105 a 118 dias, sendo que o período entre a semeadura e o espigamento é de 57 a 67 dias, dependendo do local e da altitude do cultivo. É moderadamente suscetível à brusone e à mancha amarela. Em algumas regiões com maior volume de chuvas, como o Sul de Minas Gerais, os produtores têm alcançado produtividades de até 75 sacos/ha com a BRS 404. Já no Planalto Central, a produtividade pode chegar a 60 sacos/ha, desde que as chuvas tenham boa distribuição no período de safrinha”.

Enfim, destaque para o fato de que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o plantio de trigo transgênico, resistente à seca, no Brasil, de acordo com um documento publicado em seu site. Assim, o Brasil é o segundo país no mundo, depois da Argentina, a conceder permissão para cultivo do cereal geneticamente modificado. A Tropical Melhoramento e Genética, que apresentou o pedido à CTNBio, é parceira da argentina Bioceres no Brasil. Com isso, a empresa de biotecnologia Bioceres planeja aumentar a produção de seu trigo geneticamente modificado (GM) HB4 na Argentina, com maior resistência à seca. A empresa espera que o trigo HB4 eventualmente possa ajudar a expandir a área de plantio em torno de 50% no Brasil, onde são semeados cerca de 3 milhões de hectares com trigo, em sua maioria nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná.

A empresa começará a comercializar o trigo HB4 na Argentina este ano, embora se concentre principalmente em trabalhar com “multiplicadores de sementes” para aumentar as reservas de sementes. Os planos vêm depois que o Brasil aprovou o plantio e importação de trigo HB4, enquanto testes em 2022 na Argentina, onde uma forte seca tem prejudicado o setor agrícola desde o ano passado, mostraram que os rendimentos do HB4 podem superar em até 40% os do trigo sem modificações genéticas em condições secas. Além do Brasil, o trigo HB4, da Bioceres, obteve autorização de países como Austrália e Nova Zelândia, que autorizaram o consumo de alimentos com o produto, e da Nigéria, onde é permitida a entrada do grão transgênico. (cf. Reuters)

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).



 

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