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Antracnose na soja: fatores que contribuem para sua ocorrência

A antracnose causada pelo fungo Colletotrichum truncatum é considerada uma das doenças mais importantes que acometem a cultura da soja, afetando a fase inicial de formação das vagens. A doença é favorecida por elevados índices pluviométricos e altas temperaturas, sobretudo nos estádios finais do ciclo de desenvolvimento da cultura. O fungo pode ser encontrado na semente de soja e sobreviver nos restos culturais e, as sementes contaminadas representam a principal fonte de inóculo primário, embora a transmissão para as plântulas nem sempre ocorra, uma vez que depende da quantidade e localização do patógeno nas sementes, bem como das condições climáticas adequadas para que ocorra a infecção (Grigolli & Grigolli, 2020).

O Colletotrichum truncatum, conforme destaca Forcelini (2010), é um fungo necrotrófico, o qual apresenta uma fase parasitária sobre a planta hospedeira e outra saprofítica sobre seus restos culturais, sendo chamados de parasitas facultativos, esses fungos sobrevivem em sementes e restos culturais. A associação de temperaturas superiores a 30°C com ocorrência de chuvas no período de maturação à colheita, tornam as condições adequadas para o ataque do fungo. As sementes infectadas quando plantadas, podem apodrecer antes da emergência das plântulas ou ainda, produzirem plântulas com cotilédones necrosados, onde ocorre grande produção de conídios do fungo, favorecendo inóculo secundário (Nechet et al., 2003).

Quando ocorre a queda dos cotilédones, o fungo presente nos tecidos sobrevive de forma saprófita no solo, até que as condições de microclima no terço inferior da planta se tornem favoráveis. Nesse cenário, a combinação de elevada umidade e a elevada densidade de plantas na lavoura propicia a proliferação de C. truncatum nas folhas mais velhas, transportado por meio do vento ou respingos de chuva (Marinho et al., 2014).

De acordo com Henning et al. (2014), a antracnose afeta a fase inicial de formação das vagens, podendo ocasionar perdas totais de produção em anos chuvosos, mas, em geral, provoca a redução do número de vagens, induzindo a planta à retenção foliar e à haste verde. A utilização de sementes infectadas e com deficiência nutricional, principalmente de potássio, contribui para maior probabilidade ocorrência da doença. Além disso, sementes provenientes de lavouras que sofreram atraso de colheita, devido à ocorrência de chuvas, podem apresentar elevados índices de infecção.

O fungo se desenvolve de forma latente, permanecendo no interior do tecido cortical e pode não se manifestar até o final do ciclo da cultura, dependendo das condições climáticas, a fertilidade e a densidade de semeadura. A doença pode causar a queda total das vagens ou deterioração das sementes em colheitas tardias. Os sintomas mais evidentes da antracnose ocorrem em pecíolos e ramos sombreados, bem como em vagens que estão em início de formação (Kimati et al., 1997).

Figura 1. Abertura da vagem imatura de soja apresentando sementes com manchas escuras no tegumento, sintoma da infecção de Colletotrichum truncatum.

Foto: Bernardo de A. Halfeld-Vieira (2003).

O principal sintoma da antracnose na parte aérea das plantas, é a queda e apodrecimento das vagens. Quando as vagens em estádio inicial de formação são infectadas, apresentam uma coloração castanho-escuro a negra, interrompem o desenvolvimento dos grãos e adquirem uma forma retorcida. Durante o período de enchimento de grãos entre os estádios R5 e R6 (escala de Fehr et al., 1977), as lesões têm início com pontos encharcados (anasarca) e evoluem para manchas circulares de cor negra. Os pontos escuros nessas lesões representam as estruturas de reprodução do fungo, conhecidas como acérvulos.

Nas hastes, pecíolos e racemos florais, a doença se manifesta através de manchas negras ligeiramente deprimidas e brilhantes. Nas folhas, é comum observar lesões necróticas pretas ao longo das nervuras (Seixas et al., 2020). Borkert et al. (1994), destacam que o sintoma na haste pode ser facilmente confundido com a fase inicial do cancro da haste.

Figura 2. Sintoma típico da antracnose causada por Colletotrichum truncatum em vagem de soja.

Foto: Bernardo de A. Halfeld-Vieira (2003).

Os sintomas da antracnose também podem ser facilmente confundidos com os de outras doenças, como a mancha-alvo, o crestamento de Cercospora e a seca da haste e da vagem. Além disso, o fungo tem a capacidade de proliferar em tecidos mortos, sendo comum que sintomas causados por outro tipo de estresse sejam confundidos com a doença, devido a presença do fungo (Seixas et al., 2020).

Dada a situação atual da safra 2023/2024, com a influência do fenômeno El Niño provocando maiores volumes de chuvas no sul do país, é importante estar atento às condições favoráveis ao desenvolvimento da doença. Vale destacar que para germinar, o fungo necessita de pelo menos 12 horas de molhamento foliar, ocorrendo em períodos chuvosos ou com alta umidade (Seixas et al., 2020). Diante desse cenário, a adoção de medidas de controle preventivas é essencial para evitar potenciais perdas de produtividade na cultura da soja.



Para o controle da antracnose, recomenda-se o uso de sementes sadias, tratamento de sementes, evitando que haja a introdução do fungo na área de cultivo. Seixas et al. (2020), destacam que o controle da doença é mais eficiente com a adoção de medidas que afetam a sobrevivência do fungo e que evitem proporcionar condições ideias para que ocorra a infecção.

Nesse sentido, algumas medidas são recomendadas e devem ser implementadas de forma integrada para o manejo eficiente da doença, como a rotação de culturas com plantas não hospedeiras, espaçamento entre fileiras e estande que permitam um bom arejamento da lavoura e o manejo adequado do solo, destacando-se a importância da adubação potássica, visto que o manejo nutricional com potássio na cultura da soja pode reduzir em mais de 50% a incidência da antracnose, independente da aplicação de fungicidas.

Além disso, Grigollli & Grigolli (2019) destacam a importância do controle químico no manejo da doença. No entanto, em cultivares suscetíveis ao patógeno e, dependendo das condições climáticas, a aplicação isolada de fungicidas pode não proporcionar um controle adequado da doença. Assim, em regiões propensas ao desenvolvimento da antracnose, é fundamental combinar o controle químico com as demais estratégias de manejo.



Referências:

BORKERT, C. M. et al. SEJA O DOUTOR DA SUA SOJA. Arquivo do Agrônomo, n. 5. Informações agronômicas, n. 66, 1994. Disponível em: < https://www.npct.com.br/npctweb/npct.nsf/article/BRS-3140/$File/Seja%20Soja.pdf >, acesso em: 19/12/2023,

FORCELINI, C. A. DOENÇAS EM SOJA: ENTENDENDO AS DIFERENÇAS ENTRE BIOTRÓFICOS E NECROTRÓFICOS. Revista Plantio Direto, Doenças, 2010. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/120/3.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DONEÇAS NA CULTRA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 6.  Fundação MS, Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DA SOJA. Embrapa Soja, documentos, 256, ed. 5. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

KIMATI, H. et al. MANUAL DE FITOPATOLOGIA: DOENÇAS DE PLANTAS CULTIVADAS. Agronômica Ceres, ed. 3, v. 2. São Paulo – SP, 1997. Disponível em: < https://ppgfito.ufersa.edu.br/wp-content/uploads/sites/45/2015/02/Livro-Manual-de-Fitopatologia-vol.2.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

MARINHO, L. M. A. et al. ANTRACNOSE EM SOJA: PREVENÇÃO EFICIENTE. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 187. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/antracnose-em-soja-prevencao-eficiente >, acesso em: 19/12/2023.

NECHET, K. L. et al. ANTRACNOSE (Colletotrichum truncatum): DOENÇA IMPORTANTE PARA A SOJA (Glycine max) NOS CERRADOS DE RORAIMA. Embrapa, comunicado técnico, 5. Boa Vista – RR, 2003. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/690875/1/cot005003antracnosesojakatia.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 10. Embrapa, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 19/12/2023.

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