Nas últimas safras, os bioinsumos tem ganhado importante participação na agricultura brasileira. Fungos, bactérias e demais microrganismos benéficos, têm sido empregados no controle de pragas, doenças e fitonematoides em culturas como a soja, além serem utilizados para mitigar condições de estresses abióticos e estimular o crescimento vegetal.

Sabe-se que determinados microrganismos se destacam em alguns campos de atuação, sendo mais eficientes em comparação a outros em determinadas situações, como é o caso do tradicional Bradyrhizobium que apresenta uma incrível capacidade em fixar o Nitrogênio atmosférico. Entretanto, a interação entre esses microrganismos e seus benefícios para as plantas ainda são desconhecidos em diversas culturas a ambientes de cultivo, tornando questionável se a associação entre microrganismos pode atuar de forma sinérgica ou antagonista no manejo de pragas, doenças e estresses em culturas agrícolas.

Muitos produtos biológicos registrados no Brasil contêm mistura/consórcio de microrganismos ou combinações de cepas. Entre os 480 produtos biopesticidas para controle de pragas e doenças de plantas registrados no Brasil, 83 produtos foram formulados com combinações de microrganismos, registrados principalmente nos últimos três anos. As principais espécies utilizadas em misturas para controlar doenças de plantas incluem B. amyloliquefaciens (22,9%) , B. subtilis (12,1%), B. licheniformis (7,2%), B. velezensis (4,9%), T. harzianum (12,1%) , B. bassiana (8,5 %), M. anisopliae (8,1 %), T. viride (6,3 %), Paecilomyces lilacinus (5,4 %) e 17,5 % com outras dez espécies (Nunes et al., 2024).



Sendo assim, é essencial compreender a interação entre os microrganismos utilizados na agricultura, a fim de melhor posiciona-los visando um manejo eficiente de pragas, doenças e estresses. Nunes et al. (2024) destacam que, estudos demonstram que a competição entre fungos fitopatogênicos e bactérias cultivadas no mesmo meio de cultura líquido pode alterar a produção de metabólitos secundários e melhorar o desempenho do biocontrole. Por outro lado, interações incompatíveis entre micróbios podem levar a efeitos negativos no crescimento das plantas e redução do controle de doenças e pragas.

Alguns estudos sugerem que o controle microbiano de patógenos de plantas é melhorado com múltiplas cepas de microrganismos contendo diferentes modos de ação (Nunes et al., 2024). Ou seja, é comprovado que alguns microrganismos quando associados, apresentam sinergismo no controle de doenças, apresentando desempenho superior ao obtido com microrganismos isolados. Conforme Observado por Nunes et al. (2024), o mesmo é valido para o controle de insetos e para a redução de estresses abióticos em planta, demonstrando a importante contribuição que algumas associações de microrganismos podem trazer para o manejo de cultura agrícolas.

Tabela 1. Consórcios microbianos que apresentam controle de doenças superior ao observado pelo antagonismo individual do microrganismo.

Adaptado: Nunes et al. (2024)

Logo, a associação de microrganismos pode contribuir para o aumento da eficácia desses microrganismos no manejo de culturas agrícolas. Entretanto, vale destacar que, embora combinações artificiais de microrganismos possam proporcionar efeitos sinérgicos ou benéficos em comparação com estirpes únicas, também é possível observar efeitos antagonistas dependendo dos microrganismos empregados no consórcio (Nunes et al., 2024). Um estudo conduzido por Felici et al. (2008) demonstrou que a co-inoculação de B. subtilis 101 e a bactéria promotora de crescimento Azospirillum brasilense Sp245 não conseguiu aumentar a biomassa da planta, como é observado com o uso individual desses microrganismos.  Além de não alcançar os efeitos desejados, por apresentar antagonismo, alguns microrganismos ainda podem apresentar incompatibilidade em consórcios/associações microbianas (figura 1.).

Figura 1. Incompatibilidade entre microrganismos pelo método de cultura pareada. A: Cordyceps javanica (CMAA1228) e Bacillus velezensis (AP03); B: Beauveria bassiana (CMAA 1807) e B. velezensis (AP03); C: Beauveria caledonica (CMAA 1810) e B. velezensis (AP03); D: Trichoderma asperelloides (CMAA 1584) e B. velezensis (AP03); E: C. javanica (CMAA1228) e B. bassiana (CMAA 1807); F: T. asperelloides (CMAA 1584) e B. bassiana (CMAA 1807). De A e D distância inibição; E e F invasão ou substituição. Interações avaliadas de acordo com Mohammad et al. (2011).

Fonte: Nunes et al. (2024)

Tendo em vista a complexidade das associações entre microrganismos, e considerando os efeitos benéficos trazidos pelas associações/consórcios microbianos, é fundamental utilizar estratégias que permitam associar esses microrganismos, sem a ação antagonista entre eles. Sobretudo, considerando os efeitos positivos proporcionados por esses microrganismos em associação, pode-se dizer, que, com o avanço das pesquisas, e a seleção cuidadosa das associações/consórcios microbianos, possivelmente o consórcio de microrganismos passará a integrar as formulações de bioinsumos, possibilitando o aumento da eficiência desses bioagentes na agricultura.

Confira o trabalho completo de Nunes e colaboradores (2024) clicando aqui!

Referências:

FELICI, C. et al. SINGLE AND CO-INOCULATION OF Bacillus subtilis AND Azospirillum brasilense ON LYCOPERSICON ESCULENTUM: EFFECTS ON PLANT GROWTH AND RHIZOSPHERE MICROBIAL COMMUNITY. applied soil ecology, 2008. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0929139308000863 >, acesso em: 30/01/2024.

NUNES, P. S. O.      et al. MICROBIAL CONSORTIA OF BIOLOGICAL PRODUCTS: DO THEY HAVE A FUTURE? Biological Control, 2024. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S104996442400001X >, acesso em: 30/01/2024.

Foto de capa: Forestry Images

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