A dinâmica das doenças em plantas é bastante variável de ano pra ano, principalmente para patógenos como o fungo da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi), o qual é disseminado entre locais e regiões, e dessa forma, não apenas a condição local o afeta, mas também a condição das regiões disseminadoras.
A sensação que tem se criado em grande parte das regiões com soja é de que a ferrugem está ausente e que será uma safra pouco severa. Mas será que é isso mesmo? Para entendermos um pouco mais sobre isso, precisamos analisar fatores que explicam o porquê a severidade da doença muda de um ano para o outro.
Para que a ferrugem se desenvolva é necessário planta suscetível, presença do fungo e condições do ambiente favorável. Hospedeiro suscetível sempre está presente, visto que a grande maioria das lavouras são plantadas com cultivares suscetíveis. A presença do fungo nas regiões tem sido diariamente comprovada por diversas instituições com base na contagem de esporos nos coletores.
Podemos assumir apenas que a quantidade de esporos em algumas regiões nessa safra 19/20 tem sido um pouco menor comparado ao ano passado, o que pode ser devido à mudança na direção nas correntes de ar nesse período seco de dezembro pra cá. Tendo a planta suscetível e o inóculo presente, as infecções e evolução da doença ficam bastante dependentes das condições de clima.
As condições de ambiente tem sido o grande fator influenciador nas variações de severidade da ferrugem ao longo dos anos. As condições que favorecem para ferrugem é calor (mas não excessivo), elevada umidade do ar, prolongado molhamento foliar e nebulosidade. Tais condições não estavam presentes nessa safra 2019/20 durante os períodos de estiagem, especialmente no Paraguai e região Sul do Brasil. Esses períodos de estiagem tem afetado o desenvolvimento do fungo e tem sido responsáveis pelo atraso da doença nas lavouras. As elevadas temperaturas, reduzida umidade, pouco molhamento foliar e intensa radiação solar reduzem a capacidade de infecção e reprodução do fungo.
Os produtores precisam ficar atentos porque a ferrugem é uma doença de rápida evolução. À medida que as condições de ambiente voltam a ser favorável, especialmente a redução nas temperaturas, que deve perpetuar em fevereiro, o retorno das chuvas, umidade e molhamento e mudança na direção dos ventos, pode configurar um cenário de ferrugem tardia, bastante severa a partir do mês de março. Esse cenário deve ser levado em conta especialmente devido a grande quantidade de lavouras que sofreram atraso na semeadura, e que em fevereiro/março estarão ainda em formação e enchimento de grãos. Se o produtor descuidar na proteção, os danos poderão ocorrer no final.
Os descuidos podem ocorrer pelo aumento no intervalo de aplicações, pela redução no número de aplicações, pelo uso de fungicidas mais baratos, pouco eficientes e sem reforço, tudo isso ajuda a elevar o risco frente ao cenário discutido. Além disso, caso a doença evolua, certamente muitas aplicações serão realizadas de forma tardia, sob muita doença na planta, configurando um cenário de alto risco para resistência do fungo aos fungicidas. Dessa forma, é importante manter o programa fungicida ajustado, principalmente devido à manutenção e/ou retomada das expectativas de altas produtividades.
Fonte: AgroBayer
Sobre o Autor: Leandro N. Marques, Eng. Agrônomo formado na UFSM. Mestrado e Doutorado em Agronomia, na área da fitopatologia (UFSM). Atualmente é professor de fitopatologia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).