A queima da bainha, causada por Rhizoctonia solani, é mundialmente a principal doença do complexo de doenças fúngicas do colmo e da bainha em arroz; e, economicamente, a mais importante, principalmente em sistemas intensivos de produção. É de difícil manejo, por se tratar de um fungo de solo que produz estrutura de resistência, escleródios (Figura 1), que podem sobreviver por longos períodos no solo, e por apresentar uma ampla gama de hospedeiros. Além do arroz, é capaz de infectar aproximadamente 250 espécies, incluindo plantas daninhas e plantas cultivadas, como tomate, feijão, soja, braquiárias, entre outras.
A doença aumentou em intensidade, devido à introdução de cultivares do tipo moderno, porte semi-anão e com grande número de perfilhos; e os plantios em rotação com plantas hospedeiras como soja, braquiárias, entre outras, fazendo crescer a densidade de inóculo no solo, principalmente nos sistemas de cultivo irrigado tropical e subtropical.
A doença é conhecida por causar mais danos nos cultivos de arroz em sistemas irrigados, porém, nas últimas safras, tem-se observado um aumento expressivo na ocorrência e na severidade da queima da bainha nos cultivos de arroz de terras altas, principalmente no estado de Mato Grosso e Rondônia, com potencial para causar danos expressivos na produtividade e na qualidade final dos grãos. Isso deve-se em parte ao manejo dado às lavouras.
O fungo sobrevive na forma de escleródios e micélio presentes no solo e em restos culturais, e, ainda, nas plantas daninhas, constituindo o inóculo primário, que é aquele que vai iniciar a infecção das plantas. O fungo é disseminado rapidamente pela água de irrigação e/ou pelo movimento do solo durante seu preparo. Os escleródios sobrevivem até dois anos e aumentam no solo com o tempo, acumulam-se ao redor da planta de arroz e causam infecção inicial nos colmos, passando de planta a planta pelo contato entre elas.
Os sintomas ocorrem geralmente nas bainhas e nos colmos (Figura 2), caracterizados por manchas ovaladas, elípticas ou arredondadas, de coloração branco-acinzentada e bordas marrons bem definidas. Em ataques severos, observam-se manchas semelhantes nas folhas (Figura 3), porém com aspecto irregular.
Baixa luminosidade, alta umidade, em torno de 95%, e temperatura entre 28 e 32ºC favorecem o desenvolvimento e a severidade da doença, bem como elevados teores de matéria orgânica, altas doses de nitrogênio e fósforo, acompanhados de alta densidade de semeadura; rotações do arroz com outras plantas hospedeiras; e plantio de cultivares altamente suscetíveis. Danos causados por insetos, como broca do colmo e percevejo, predispõem a planta à infecção pelo fungo.
A doença se desenvolve rapidamente durante a floração, quando o dossel é mais denso e fechado, formando um microclima favorável ao crescimento e propagação do fungo. Os sintomas visíveis incluem a formação de lesões, acamamento de plantas (Figura 4) e grãos vazios, devido à obstrução do transporte de água, nutrientes e assimilados de carboidratos pelos vasos condutores (xilema e floema), afetando o enchimento do grão (Figura 5) e o secamento da folhas (Figura 6), que reduz a capacidade fotossintética, a biomassa total e, por consequência, a produção.
A ocorrência da doença na fase de iniciação da panícula ou floração causa uma redução do peso total dos grãos, devido a uma menor porcentagem de espiguetas cheias e resulta em perdas significativas de rendimento. A propagação e a intensidade da doença dependem da quantidade de inóculo presente no material de plantio e do inóculo residual da safra anterior.
Como manejar a queima da bainha
Os danos causados por esta enfermidade podem ser reduzidos significativamente por meio do manejo integrado, com a utilização de práticas culturais mais adequadas, uso de cultivares tolerantes, controle químico e controle biológico.
Manejo Cultural
Plantas com arquitetura moderna são mais suscetíveis. Sabendo disso, deve-se estar atento às outras medidas a serem adotadas, para minimizar ou evitar a ocorrência da doença, como: a) Utilização de adubação nitrogenada equilibrada; b) Densidade de semeadura recomendada; c) Uso racional de herbicidas para o controle de plantas daninhas hospedeiras; d) Fertilização com silício (Si) tem se mostrado promissor no manejo da queima da bainha; e) Monitoramento regular da lavoura para detecção precoce de fonte de inóculo; f) Eliminação de restos culturais; g) Evitar movimento de máquinas com consequente movimento e transporte de escleródios para outras áreas.
Controle Genético
O melhoramento visando resistência à queima da bainha é dificultado principalmente pela falta de identificação de variedades doadoras. Até o momento, nenhum genótipo de arroz, no mundo, foi identificado como imune à doença, apesar de níveis diferentes de resistência terem sido relatados. Os esforços para o desenvolvimento de cultivares resistentes à queima da bainha foram moderadamente bem sucedidos, principalmente, devido à falta de fonte de resistência no arroz cultivado ou em espécies selvagens relacionadas.
Recentemente, na Embrapa Arroz e Feijão, foram avaliados 100 genótipos, em casa de vegetação e em campo, quanto à resistência à queima da bainha. Destes, foram selecionados dois genótipos que apresentaram resistência parcial e que serão utilizados para a validação de marcadores moleculares, para o uso na seleção assistida no desenvolvimento de cultivares com resistência. Cientistas do mundo inteiro continuam trabalhando na busca da resistência genética para o controle da doença.
Controle Químico
Atualmente, no Brasil, o portfólio para o controle de queima da bainha em arroz é praticamente nulo. Existem fungicidas registrados para o controle de Rhizoctonia solani em outras culturas, porém, para o uso na cultura do arroz, as opções são quase nulas. Em outros países, os fungicidas sistêmicos pertencentes ao grupo da estrobilurina são amplamente utilizados para combater a doença. Dentro deste grupo, o fungicida azoxistrobina tem funcionado eficazmente no controle do patógeno. O número de aplicações e a composição dos fungicidas dependem da intensidade da doença e do nível de resistência da cultivar adotada. Os benefícios do controle usando fungicidas incluem menor incidência de doenças, provável redução de inóculo; e melhores rendimentos e qualidade de grãos. Porém, deve-se estar atento ao uso correto dessa tecnologia para evitar a seleção de estirpes resistentes ao produto. Normalmente, o uso de fungicidas é recomendado em duas aplicações: uma entre as fases de elongação dos entrenós do colmo e iniciação da panícula; e outra na emissão das panículas.
Controle biológico
O sucesso no controle da queima da bainha por meio de uso de bioagentes têm sido relatados em várias partes do mundo. Os mais utilizados são espécies de Trichoderma, Pseudomonas e Bacillus. A eficácia deste controle está associada ao momento e número de aplicações; e, ainda, da combinação entre bioagentes.
Estudos realizados na Embrapa Arroz e Feijão identificaram isolados de bactérias promotoras de crescimento e de Trichoderma sp., que apresentaram resultados promissores na redução da severidade da queima da bainha e outras doenças, bem como a capacidade de estimular o crescimento da raiz da cultura do arroz. Estas pesquisas se encontram em estágio avançado em avaliações de campo e, em seguida, haverá estudos de formulações.
A melhor opção para o controle da queima da bainha em arroz é a utilização do manejo integrado, em que todos os métodos disponíveis de controle são implementados, cada um contribui em algum nível para a supressão da doença, compensando a deficiência um do outro.
Autora: Valácia Lemes da Silva Lobo – Pesquisadora da Embrapa
Bibliografia
Silva-Lobo, V. L., Filippi. M.C.C. Manual de identificação de doenças da cultura do arroz Brasília, DF: Embrapa, 2017. PDF 45 p. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1070298/manual-de-identificacao-de-doencas-da-cultura-do-arroz
Cartwrigth, R.D, Growth, D.E., Wamishe, Y.A., Greer, C.A., Calvert, L.A., Vera Cruz, C.M., Verdier,V., Way, M.O. (Ed.). Compendium of rice diseases. St. Paul: American Phytopatological Society, 2018. 121p.
Singh, P., Mazumdar, P., Harikrishna, J.A. and Babu, S. (2019) Sheath blight of rice: a review and identification of priorities for future research. Planta, 250, 1387–1407. https://www.researchgate.net/publication/316579880
Yellareddygari, S.K.R., Reddy, M.S., Kloepper, J.W., Lawrence, K.S. and Fadamiro, H. (2014) Rice sheath blight: a review of disease and pathogen management approaches. J. Plant Pathol. Microbiol. 5, 241. https://doi.org/ 10.4172/2157-7471.1000241
Turaidar, V., Reddy, M., Anantapur, R., Krupa, K.N., Dalawai, N., Deepak, C.A. and Harini Kumar, K.M. Rice Sheath Blight: Major Disease in Rice Int.J.Curr.Microbiol.App.Sci (2018) Special Issue-7: 976-988 .
Kutubuddin A. Molla, K.A., Subhasis Karmakar, S., Johiruddin Molla, Prasad Bajaj, Rajeev K. Varshney, Swapan K. Datta and Karabi Datta. Understanding sheath blight resistance in rice: the road behind and the road ahead. Plant Biotechnology Journal (2020), pp. 1-21. https://doi.org/10.1111/pbi.13312
Rodrigo Peixoto (MTb/GO 1.077) – Embrapa Arroz e Feijão