Para a obtenção de boas produtividades de grãos, é necessário equilíbrio nutricional das plantas, sendo o nitrogênio um dos nutrientes mais requeridos e em maior quantidade por culturas agrícolas. Fabaceas como a soja por sua vez, possuem a capacidade em realizar a fixação biológica de nitrogênio (FBN) através da simbiose entre plantas e bactérias fixadoras e nitrogênio, sendo assim, na maioria dos casos, a adubação nitrogenada na cultura é praticamente dispensável.

Entretanto, culturas como o milho e a maioria das Poaceas, não possuem essa habilidade, especialmente para altas produtividades, o que torna necessário a complementação do Nitrogênio requerido pela cultura por meio da adubação nitrogenada. Além das formulações N-P-K que possibilitam parte da adubação nitrogenada, pode-se dizer que a Ureia é o fertilizante mais utilizado para o fornecimento do N, podendo inclusive ser fornecido a lanço em culturas como o milho.


Veja mais: Qual a taxa de Extração e Exportação de nutrientes em milho em cada faixa de produtividade?


Ainda que fertilizantes nitrogenados sejam muito empregados para a obtenção de altas produtividades, o uso desses fertilizantes resulta em custo de produção, o que levando em consideração a necessidade da cultura e o preço do insumo pode representar uma considerável redução da lucratividade, pela aquisição desses insumos.

Como o lucro é um objetivo em comum para a maior parte dos produtores, o aumento da lucratividade depende do aumento de produção ou redução dos custos de produção. Uma das alternativas para reduzir o custo de produção principalmente relacionados a utilização de fertilizantes nitrogenados é o cultivo de plantas de cobertura que possuam a capacidade em fixar nitrogênio atmosférico e disponibiliza-lo através da decomposição dos resíduos culturais dessas plantas e mineralização do Nitrogênio.



Uma das principais espécies de plantas de cobertura com essa capacidade é a ervilhaca (Vicia sativa. L). Conforme destacado por Heinrichs et al. (2001), quando cultivada de forma “solteira”, a ervilhaca acumula até 59,3 kg.ha-1 de Nitrogênio, entretanto, por suas características e baixa relação carbono/nitrogênio (C/N), a ervilhaca é cultivada principalmente em forma de consorcio com outras espécies de maior relação C/N como a aveia, especialmente em sistema plantio direto, onde plantas de cobertura necessitam proporcionar cobertura residual do solo por um maior período de tempo.

Entretanto, conforme observado por Heinrichs et al. (2001), com apenas 10% de aveia, o N acumulado pela ervilhaca já passa a ser significativamente inferior ao cultivo da Fabacea como cultura solteira (74,8 kg.ha-1), o que torna necessário avaliar a finalidade do consórcio. Esses resultados evidenciam a grande capacidade da aveia em competir pelo N mineral do solo, proveniente da mineralização da matéria orgânica. Outro aspecto que pode explicar a boa performance da aveia, mesmo quando presente numa baixa proporção de densidade de semeadura em relação à ervilhaca, seria a transferência de N da leguminosa à gramínea (Heinrichs et al., 2001)

Figura 1. Nitrogênio acumulado pela parte aérea da ervilhaca (E) e aveia (A), na época da floração e vegetação espontânea (pousio).

As médias para as quantidades totais de N acumulado, seguidas das mesmas letras, não diferem entre si (Tukey a 5%).
Fonte: Heinrichs et al. (2001)

Ainda que o cultivo do consórcio aveia + ervilhaca expresse uma menor quantidade de nitrogênio acumulado na parte aérea da ervilhaca em comparação ao cultivo solteiro da ervilhaca, cabe destacar que tanto o nitrogênio acumulado na parte aérea de ervilhaca quando da aveia será mineralizado e disponibilizado para a cultura sucessora.

 No que diz respeito a produtividade da cultura sucessora, no milho por exemplo, Heinrichs et al. (2001), observaram que o cultivo da aveia solteira (100% aveia) antecedendo a cultura do milho proporcionou produtividade 36% menor do que aquela obtida no tratamento em pousio sem a aplicação de N, redução de produtividade de mais de 3 t.ha-1 quando comparado ao milho cultivado após ervilhaca de forma solteira, evidenciando a importante contribuição da ervilhaca para o aumento da produtividade do milho.

Tabela 1. Produção de matéria seca, quantidade de nitrogênio acumulado e produtividade de grãos de milho.

Fonte: Heinrichs et al. (2001)

Seja em forma solteira ou em consórcio, a ervilhaca contribui significativamente para a produtividade da cultura em sucessão, especial espécies responsivas ao N como o milho, evidenciando ser uma interessante alternativa para compor a rotação de culturas de sistemas produtivos.

Referências:

HEINRICHS, R. et al. CULTIVO CONSORCIADO DE AVEIA E ERVILHACA: RELAÇÃO C/N DA FITOMASSA E PRODUTIVIDADE DO MILHO EM SUCESSÃO. R. Bras. Ci. Solo, 25:331-340, 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/PdFt5M6wTqcZp7FfbScJwcc/?lang=pt&format=pdf >, acesso em: 28/06/2021.

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