A obtenção de altas produtividades na agricultura moderna exige uma compreensão profunda da interação entre os processos ecofisiológicos das plantas e as estratégias de manejo nutricional. Nesse sentido, o planejamento da adubação deve ser feito com base no potencial produtivo de cada lavoura, evitando tanto adubações deficientes como a aplicação excessiva de nutrientes. A verdadeira agricultura de precisão vai além da tecnologia: ela considera os aspectos ambientais, logísticos e econômicos da propriedade para otimizar os recursos e atingir o máximo desempenho agronômico e econômico.
Com esse objetivo, a Equipe FieldCrops conduziu um estudo ao longo de nove safras consecutivas (2015/2016 a 2024/2025), em 1.300 lavouras de soja, analisando dados de produtividade de grãos e manejo da fertilização (doses e formulações aplicadas). O foco foi entender a precisão das adubações e calcular o balanço de nutrientes (P e K) com base na diferença entre as entradas (fertilizantes) e as saídas (remoção pela colheita).
Os resultados mostraram que, com o aumento da produtividade, o balanço de nutrientes tende a se tornar negativo, principalmente devido à maior exportação de nutrientes nos grãos. Esse cenário é explicado por dois fatores principais: 1) a fertilização muitas vezes não é ajustada para altas produtividades; 2) as cultivares modernas apresentam maior eficiência na absorção e uso dos nutrientes, o que pode mascarar deficiências a curto prazo.
Em relação ao fósforo (P), mesmo com balanços positivos ou neutros em lavouras mais produtivas, há o desafio da fixação do nutriente nas frações argilosas do solo, o que limita sua disponibilidade real para as plantas. Já para o potássio (K), os dados revelam um cenário mais crítico: em áreas com produtividade acima de 4 t ha⁻¹, o balanço de K é frequentemente negativo, indicando mineração do solo, causada principalmente pela aplicação padronizada de doses, desconsiderando o real potencial produtivo. (Figura 1 e 2).
Figura 1. Balanço de fósforo (P) relacionado com a produtividade das lavouras de soja do Brasil.

Figura 2. Balanço de potássio (K) relacionado com a produtividade das lavouras de soja do Brasil.

Em conclusão, a adoção de práticas como o monitoramento contínuo do balanço de nutrientes e o ajuste das doses com base no potencial de produtividade são caminhos necessários. Com isso, será possível não apenas manter a fertilidade dos solos, mas também aumentar a eficiência dos fertilizantes e garantir o retorno econômico e ambiental do sistema de produção.
Referências Bibliográficas.
WINCK, J.E.M et al. Ecofisiologia da soja visando altas produtividades. 3era Edição